Estagio em Medicina Veterinária
Por: Gerlan Rezende Vidal • 21/9/2019 • Relatório de pesquisa • 2.787 Palavras (12 Páginas) • 321 Visualizações
ABORDAGEM CIRÚRGICA EM CÃO DIAGNOSTICADO COM SÍNDROME BRAQUICEFÁLICA: RELATO DE CASO1.
VIDAL, G. R.2; MORO, J. V.3; NAZARET, T. L.4; DIAS, C. V. B.5; SILVA, J. M.6
¹Relato de caso de uma paciente atendida no Hospital Veterinário do CEULP/ULBRA, durante a realização do estágio obrigatório.
²Acadêmico do curso de Medicina Veterinária no Centro Universitário Luterano de Palmas. E-mail: gerlanrezende@gmail.com.
³Médica Veterinária. Doutora. Professora do Curso de Medicina Veterinária do CEULP/ULBRA.
4 Médica Veterinária. Mestre. Professora do Curso de Medicina Veterinária do CEULP/ULBRA.
5 Médico Veterinário. Doutor. Professor do Curso de Medicina Veterinária do CEULP/ULBRA.
6 Médico Veterinário. Residente do Hospital Veterinário do CEULP/ULBRA.
RESUMO: A Síndrome Braquicefálica é frequente em nossa sociedade, acometendo raças como o Pug, Shitzu, entre outras. Várias alterações anatômicas são encontradas como estenose de narinas, hipoplasia de traquéia, prolongamento de palato mole e eversão de sáculos laríngeos. O presente trabalho relata o caso de um paciente acometido pela síndrome braquicefálica (SB), atendido no HV-CEULP/ULBRA. O paciente veio para atendimento apresentando regurgitação frequente, episódios de síncope, dificuldade respiratória, intolerância ao exercício, ruídos respiratórios e tosse. Com a suspeita clínica, histórico, predisposição racial e exames complementares, diagnosticou-se o paciente com a síndrome braquicefálica o encaminhando ao setor de clínica cirúrgica, onde foram realizadas as cirurgias corretivas: Rinoplastia, Estafilectomia e exérese dos sacos laríngeos. O procedimento foi realizado com sucesso, com bom prognóstico e melhora substancial na qualidade de vida do paciente.
PALAVRAS CHAVE: Braquicefálico. Estafilectomia. Rinoplastia.
INTRODUÇÃO: Geneticamente, os cães se diferem em raças devido a fenótipos específicos que retratam seu comportamento, morfologia e sua fisiologia. Estes fenótipos podem ser compartilhados entre várias raças e podem sofrer alterações que podem gerar ou não anormalidades funcionais nos cães (VAYSSE, 2011). O alargamento do crânio e encurtamento do focinho dos cães decorrente de uma malformação anatômica congênita, pode gerar o que chamamos de síndrome braquicefálica (DUPRÉ & HEDEIREICH, 2016). Dentre as alterações de conformação destacamos: hipoplasia de traqueia sendo a de menor ocorrência afetando de 8,2% a 38,2% dos casos, estenose de narinas que aparece em 42,5% a 85,2% dos casos, eversão de sacos laríngeos que ocorre em 54,1% a 66% dos animais com essa casuística e o prolongamento do palato mole presente em 62% a 100% dos cães braquicefálicos (LADLOW, 2018). Estas alterações, isoladas ou combinadas, podem causar obstrução do fluxo de ar através das vias aéreas superiores, gerando inúmeros sinais clínicos como cansaço fácil, intolerância ao exercício, intolerância ao calor, ruídos respiratórios, apneia, dispneia, cianose, tosse, disfagia, êmese e regurgitação (FOSSUM & DUPREY, 2005). Os animais acometidos através de esforço inspiratório, elevam a pressão negativa do tórax para conseguir superar o fluxo de ar nas vias aéreas superiores, podendo causar hiperplasia dos tecidos (KOCH, 2003). Com o crescimento populacional das raças braquicefálicas, é de extrema importância conhecer as características desta síndrome com o objetivo de melhora da qualidade de vida destes animais (EMMERSON, 2014). Portanto, neste trabalho será apresentada uma revisão acerca da SB, além do relato de um caso acompanhado no HV-CEULP/ULBRA, onde será apresentado a descrição das técnicas cirúrgicas realizadas, bem como a discussão sobre o prognóstico e a melhor abordagem clínico/cirúrgica a ser realizada nesses casos.
RELATO DE CASO: Um animal da espécie canina da raça Pug, fêmea, com 2 anos de idade, não castrada e pesando 6,4 kg foi atendida no Hospital Veterinário do Centro Universitário Luterano de Palmas. O animal apresentava como queixa principal regurgitação frequente, dificuldade respiratória, cansaço fácil, espirros frequentes, secreção nasal, dispneia e dois episódios de síncope, eventos estes em que o animal ficou cianótico. A tutora relatou normorexia, normodipsia, normoquesia e normúria. Citou que animal desde filhote apresentava ruídos respiratórios e que havia sido diagnosticado com colapso traqueal, para o qual realizou tratamento medicamentoso, porém sem melhora. O animal morava em casa e não tinha acesso à rua. Ao exame físico do paciente, de forma cuidadosa e com a menor contenção possível, com a finalidade de não estressar o animal e agravar o seu quadro clínico, observou-se mucosas normocoradas, tempo de preenchimento capilar de 2 segundos, hidratação adequada, bom estado nutricional, palpação abdominal sem nenhuma alteração perceptível, linfonodos examináveis sem alteração e temperatura retal de 38,0°C. Na auscultação cardíaca notou-se ritmo sinusal e bulhas normofonéticas, apresentando frequência cardíaca de 100 bpm. Na auscultação pulmonar apresentou frequência respiratória de 48 mpm. Durante a inspeção não foi encontrada a presença lesões e fraturas, observando-se sistema muscular, esquelético e tegumentar sem nenhuma alteração. Na inspeção notou-se que o animal possuía estenose de narinas (Figura 1), o que dificultava o trânsito de ar nas vias aéreas superiores.
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Figura 1. Visão frontal de animal da raça Pug diagnosticado com estenose de narinas.
Foram solicitados exames séricos de creatinina e alanina aminotranferase (ALT), hemograma completo, e radiografia toraco-abdominal nas incidências látero-lateral e ventro-dorsal. No hemograma foi evidenciado valores dentro dos parâmetros de normalidade: hematócrito (42%. Referência: 37,0 a 55,0%), hemoglobina (13,6 g/dL. Referência: 12,0 a 18,0%) e volume corpuscular médio (63,3%. Referência: 60 a 77%). Os valores dos exames de bioquímica sérica também se encontraram dentro dos parâmetros de normalidade: creatinina – 1,1 mg/dL (Referência: 0,5 a 1,6 mg/dL); ALT – 47 U/L (Referência: 10 a 88 U/L). No exame radiográfico na projeção latero-lateral pôde ser observado colapso traqueal (Figura 2).
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