O Intemperismo Biológico
Por: agnaldoUFV • 7/2/2018 • Trabalho acadêmico • 7.407 Palavras (30 Páginas) • 1.593 Visualizações
INTEMPERISMO BIOLÓGICO
1. INTRODUÇÃO
O intemperismo é um processo chave para o funcionamento do sistema terrestre, sendo uma parte fundamental do ciclo das rochas (LUTGENS et al., 2012), e é definido como o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que promovem tanto a desintegração física de rochas próximas da, ou, na superfície da crosta terrestre, chamado de intemperismo físico, quanto à alteração (decomposição) química da rocha, chamado de intemperismo químico (KER et al., 2012; LUTGENS et al., 2012). Além dessas duas classes de intemperismo, existe também o intemperismo biológico, que pode ser definido como ações de quebra ou de alteração de minerais e rochas, podendo ser físicas ou químicas, causadas por organismos vivos, como as plantas, os animais e os microrganismos (KER et al., 2012). O intemperismo biológico desempenha um papel fundamental na liberação de nutrientes das rochas (LIU et al., 2011).
As plantas, os animais e os microrganismos modificam a eficiência dos processos intempéricos, tanto positivo quanto negativamente, e a forma como eles fazem isso ainda não foi bem estudada (COOMBES et al., 2012). Alguns organismos podem penetrar em uma gama de tipos rochosos, contudo, de acordo com o estudo de Warme & Marshall (1969), as rochas que são mais facilmente “atacadas” são geralmente rochas calcárias, de grãos finos e relativamente macias.
2. TIPOS DE INTEMPERISMO BIOLÓGICO
2.1. Animais
Os animais também podem ser agentes de intemperismo biológico. Os principais animais responsáveis por este processo são os animais que apresentam o comportamento de escavar, enterrar, se entocar e/ou se refugiar no interior de rochas ou solos (LUTGENS et al., 2012). Alguns organismos penetram em diferentes tipos de rochas, porém de acordo com o estudo de Warme & Marshall (1969), as rochas que são mais facilmente “atacadas” são geralmente rochas calcárias, de grãos finos e relativamente macias.
Os animais podem provocar intemperismo nas rochas direta ou indiretamente. A maioria dos animais contribui indiretamente para o intemperismo, como por exemplo, animais escavadores que podem ser ou não fossoriais (vivem embaixo da terra), como as raposas, toupeiras, texugos, tatus, coelhos, aranhas, cigarras, alguns besouros, algumas aves como corujas, dentre outros animais. Ao cavar e se deslocar no interior do solo, estão ao mesmo tempo desestruturando e aerando o solo e, movendo fragmentos de rochas para a superfície e, consequentemente expondo a rocha à processos químicos, físicos e biológicos mais intensos (LUTGENS et al., 2012; LIBRARY ARIZONA). Dessa forma, estes animais estão indiretamente intensificando os processos de intemperismo das rochas e minerais. No entanto, existem animais que provocam intemperismo direto na rocha e nos minerais, seja o intemperismo físico ou o intemperismo químico.
2.1.1. Animais que causam intemperismo físico
Alguns animais se alimentam de biofilmes presentes nas rochas, que podem ter sido criados por bactérias, líquens e/ou algas. Os moluscos gastrópodas, por exemplo, possuem uma estrutura rígida raspadora chamada rádula que eles utilizam para se alimentar, alguns deles raspam as algas presentes na superfície da rocha e, consequentemente, removem também pequenas partículas da rocha enfraquecida. Um exemplo é o gastrópoda Patella vulgata que pertence à Família Patellidae, cujo grupo é vulgarmente conhecido como “limpets”. Os limpets causam aparentemente pouco ou nenhum dano em rochas duras, porém em rochas macias eles causam um intemperismo considerável (ANDREWS & WILLIAMS, 2000). Estes animais se alimentam através da raspagem de rochas para a remoção de revestimentos de microalgas, bem como esporos de macroalgas, deixando rastros característicos nas rochas (ANDREWS & WILLIAMS, 2000). Outro exemplo de gastrópode raspador é o caramujo marinho Littorina littorea, que também se alimenta de algas presentes nas rochas através do processo de raspagem (CHANG et al., 2011).
Algumas espécies de bivalves fazem suas “casas” nas rochas, em outras palavras, se encrustam nas rochas, seja utilizando ácidos para dissolver o substrato ou mecanicamente, raspando o substrato (NEDERLOF & MULLER, 2012). No estudo de Warme & Marshall (1969), foi observada uma grande riqueza faunística contribuindo para a erosão de várias rochas presentes em águas profundas da plataforma continental. Dentre essas espécies foram encontrados animais que contribuem com a erosão de rochas ao se aderirem às elas, como moluscos (Chama, Crucibulum, Aletes e Hinnites) e várias espécies de poliquetos (Filo Annelida), tunicados (Subfilo Urochordata) e esponjas (Filo Polifera) ou; ao penetrarem profundamente na rocha, como o bivalve Lithophaga sp., diversas espécies de pholadídeos e sipunculídeos (minhoca-amendoim).
No estudo de Andrews e Williams (2000), realizado em uma região de rocha sedimentar na Inglaterra, foi observado que o verme poliqueta Polydora ciliata contribui com o intemperismo físico das rochas. O molusco bivalve Lithophaga sp. possui a habilidade de encrustar em uma grande variedade rochas, embora sua penetração na rocha seja dependente da presença de carbonato, uma vez que ele secreta carbonato (WARME & MARSHALL, 1969). Os pholadídeos ou “Piddocks” também são moluscos bivalves que tem como característica o ato de se entocar em sedimentos argilosos, rochas macias ou turfas (NEDERLOF & MULLER, 2012). A concha dos piddocks apresenta sulcos ou serrilhas em formato de dente, que conferem ao bivalve a capacidade de encrustar na rocha ao realizar movimento para frente e para trás (OCEAN WILD THINGS). Outro exemplo de animal que escava rochas é o crustáceo isópode Sphaeroma sp., que vive normalmente em pântanos e locais alagados escondido em fendas, embaixo de rochas, e em buracos abandonados por outros animais também pode desgastar as rochas com suas mandíbulas (BARROWS, 1919). O desenvolvimento de mandíbulas fortes, em algumas espécies deste gênero, favoreceu a ampliação e a remodelagem de sua “casa” (BARROWS, 1919). O autor Barrows (1919) cita em seu trabalho outro estudo onde foi observada a presença de buracos feitos pelo isópode em arenitos, em Sidney, Austrália.
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