A Patologia das Argamassas de Revestimento
Por: Katia Bianchi Mognhol • 5/8/2021 • Artigo • 3.445 Palavras (14 Páginas) • 363 Visualizações
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Patologia das Argamassas de Revestimento
Helena Carasek
Doutora em Engenharia, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia e Construção Civil – PPG-GECON Universidade Federal de Goiás
e-mail: hcarasek@eec.ufg.br
A deterioração prematura dos revestimentos de argamassa é decorrente de diferentes formas de ataque, as quais podem ser classificadas em físicas, mecânicas, químicas e biológicas. No entanto, essa distinção entre os processos é meramente didática, pois, na prática, os fenômenos freqüentemente se sobrepõem, sendo, portanto, necessário considerar também as suas interações. Além disso, geralmente, os problemas nos revestimentos se manifestam através de efeitos físicos nocivos, tais como, desagregação, descolamento, vesículas, fissuração e aumento da porosidade e permeabilidade. A Figura 1 apresenta uma classificação dos processos de deterioração dos revestimentos de argamassa, apresentando exemplos de causas típicas associadas a eles.
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Figura 1 - Processos de deterioração dos revestimentos de argamassa.
Uma outra forma de classificação dos problemas refere-se à origem da fonte causadora. Assim, a deterioração das argamassas tanto pode ser originada por fatores externos ao revestimento como por causas internas à própria argamassa. Nessa linha, podem ser citados como fatores que interferem na durabilidade dos revestimentos de argamassa:
- a qualidade dos materiais constituintes da argamassa;
- a composição (ou traço) da argamassa;
- os processos de execução;
- os fatores externos (p.ex. exposição às intempéries, poluição atmosférica, umidade de infiltração, etc.).
Todos esses fatores são muito importantes e, muitas vezes, se não quase sempre, as causas de deterioração são provenientes da associação de mais de um fator. Apesar de todos estes fatores serem importantes, este capítulo tem como objetivo discutir mais detalhadamente a influência dos materiais na durabilidade dos revestimentos de argamassa1. Assim, a seguir, serão abordados os aspectos ligados à influência dos materiais constituintes das argamassas de emboço ou camada única: cimento, cal, agregados, adições, aditivos e água, na durabilidade dos revestimentos.
Cimento
O cimento Portland é um material industrializado, com um bom controle de qualidade, o que o torna, geralmente, pouco responsável pelas manifestações patológicas observadas nos revestimentos de argamassa. Algumas vezes problemas nos revestimentos atribuídos ao cimento, na realidade são provenientes do traço adotado e não da baixa qualidade dos materiais. Por exemplo, um traço muito rico em cimento pode levar a uma alta rigidez, retração, fissuração e descolamento do revestimento; ou, por outro lado, um traço muito pobre, à desagregação do revestimento.
Em princípio, qualquer cimento pode ser empregado no preparo de argamassas para revestimento (emboços ou revestimentos de camada única), tendo-se apenas atenção com a sua finura. Cimentos muito finos podem produzir maior retração plástica levando à formação de fissuras com configuração em mapa (como ilustrado na Figura 2), as quais permitem a entrada de água, comprometendo totalmente a durabilidade dos revestimentos. Nesse sentido, deve-se ter cuidado especial com o cimento CP V – ARI, que devido à sua elevada área específica possui alta velocidade de hidratação e maior retração inicial do que os demais tipos de cimento, geralmente resultando em fissuração do revestimento nas primeiras idades. Igualmente os cimentos de maior classe de resistência (40 MPa) devem ser empregados com cautela, uma vez que também são mais finos do que os das classes mais baixas (25 e 32 MPa).[pic 11]
1 É importante lembrar que grande parte dos aspectos abordados a seguir serve também para a compreensão das manifestações patológicas que ocorrem com outras argamassas aplicadas, por exemplo as juntas de assentamento e contrapiso.
Figura 2 – Revestimento apresentando fissuração em mapa, típica de argamassas com alta retração, fissuras estas que posteriormente tornam-se pontos de movimentação devido às ações térmicas e higroscópicas sobre os revestimentos.[pic 12]
Outra manifestação patológica que pode ser atribuída ao cimento, porém de menor incidência, é a formação de eflorescências, conforme será melhor discutido no item 7. Cimentos com elevados teores de álcalis (Na2O e K2O) podem ser responsáveis por eflorescências nas argamassas. Durante a hidratação do cimento, esses óxidos, transformam-se em hidróxidos e, em contato com o CO2 da atmosfera, transformam-se em carbonatos de sódio e potássio, altamente solúveis em água.
Cal
Diferentemente do cimento, apesar de no Brasil serem produzidas cales de ótima qualidade, ainda existem também muitos produtos de baixa qualidade sendo comercializados como cal hidratada. Desta forma, deve ser tomado cuidado para não se adquirir uma cal inadequada2 que é um produto de origem duvidosa, normalmente resultado de um processo de fabricação com baixo controle de produção, ou mesmo de uma mistura rudimentar de cal com outros materiais.
O principal problema observado com a cal hidratada é a presença de óxidos não hidratados em teor excessivo (ver Quadro 1). Nesses casos, esses óxidos podem reagir com a umidade após a aplicação e endurecimento da argamassa. A reação de hidratação é expansiva, levando a um aumento de volume do material de 100% para o CaO e de 110% para o MgO. Assim, quando ocorre a hidratação retardada, não existe espaço para os produtos formados levando à deterioração dos revestimentos. Quando o problema ocorre com o óxido de cálcio, que se apresenta na forma de grãos grossos, a conseqüência observada é a formação de vesículas, que nada mais são do que pequenos pontos do revestimento que inchando progressivamente acabam por destacar a pintura (CINCOTTO, 1983). Por outro lado, quando se trata da hidratação retardada do óxido de magnésio, presente na cal do tipo magnesiana ou dolomítica, esta reação é bem mais lenta e ocorre simultaneamente à carbonatação do Ca(OH)2, nessa situação, o principal problema observado na atualidade é a desagregação do emboço ou mesmo, no caso de revestimentos cerâmicos, o destacamento das peças cerâmicas, com ruptura no interior da camada de emboço (CINCOTTO, 1976; CARASEK, CASCUDO, 1999).
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