APLICABILIDADE DO PENSAMENTO ENXUTO

APLICABILIDADE DO PENSAMENTO ENXUTO

Rodrigo Hervé Quaranta Cabral Superintendência de Processos /FININVEST [e-mail]

Ronaldo Soares de Andrade Escola de Engenharia e COPPE/UFRJ [e-mail]

ABSTRACT Implementation of the lean thinking approach proposed by Womack and Jones (WOMACK et al., 1996) in a company in Brazil is discussed. Results of a study on the aplicability of the conceits of that apporach are presented. System thinking is proposed as an extension of the approach to characterize production and service systems developed on the basis of the lean thinking.

Area: Gerencia da produção Sub-area : Modelos de gestão Key words: lean system, lean thinking, organizational change

1. INTRODUÇÃO Ao tentar reproduzir modelos como Controle da Qualidade Total, Produção Enxuta (lean production) e Sistema Toyota de Produção como “pacotes fechados” algumas empresas desconsideraram características específicas dos seus produtos e serviços, de sua organização e de seu ambiente de negócios. A compreensão parcial dos conceitos e dos pressupostos relacionados a estes sistemas de produção foi um fator de limitação às suas aplicações. Em diversas situações o emprego dessas inovações esteve associado a estratégias não declaradas de aceleração de demissões de funcionários, afastando-se dos pressupostos originais em que esses sistemas se baseiam.

Por outro lado, empresas japonesas, sobretudo do setor automobilístico, instalaramse nos Estados Unidos e na Europa e obtiveram elevado grau de sucesso ao estabelecer seus métodos de administração, ainda que utilizando mão-de-obra e fornecedores locais (WOMACK et al., 1997). Resultados surpreendentes foram obtidos por estas companhias na última década e por empresas ocidentais nos anos 90, contrariando previsões iniciais que supunham não ser possível compatibilizar os métodos gerenciais orientais com a realidade e a cultura ocidental.

Este panorama evidencia a complexidade inerente ao tema. Apesar de haver vasta literatura disponível sobre aplicação destes novos sistemas de gestão em situações reais esta é de difícil realização, necessitando cuidadoso estudo prévio pois cada empresa se insere em contextos próprios, podendo exigir soluções específicas através de modelos particulares. Neste trabalho se discute o emprego do Pensamento Enxuto (lean thinking), método de gestão recentemente proposto com base em práticas administrativas japonesas

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(WOMACK et al., 1996). São apresentados resultados de um estudo sobre a aplicabilidade dos conceitos daquele método em uma empresa do setor metal-mecânico do Rio de Janeiro (CABRAL, 1998). Introduzimos neste trabalho o conceito de Sistema Enxuto caracterizando sistemas produtivos e de serviços projetados ou desenvolvidos com base no Pensamento Enxuto.

2. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PENSAMENTO ENXUTO

Duas grandes linhas de pensamento influenciaram a formação do conceito do Pensamento Enxuto: o Controle da Qualidade Total e o Sistema Toyota de Produção. Estas duas concepções foram introduzidas paralelamente em diferentes empresas japonesas na década de 50 e percorreram caminhos distintos (WOMACK et al. 1997, pág.270-273).

Uma série de autores colaboraram para a fundamentação do sistema administrativo que ficou conhecido como Controle da Qualidade Total. Este sistema emprega elementos de várias fontes: os trabalhos de Frederick W. Taylor sobre padronização das operações, o processo de melhoria contínua defendida por Masaaki Imai, os instrumentos de controle da qualidade e os círculos da qualidade de Kaouru Ishikawa, os conceitos sobre o comportamento humano lançados por Maslow, a teoria dos zero-defeitos de Philip Crosby e principalmente os estudos de Edward Deming e Joseph Juran.

O modelo proposto por OHNO (1988) ficou conhecido como Sistema Toyota de Produção. Este sistema iniciou-se no pós-guerra na empresa automobilística japonesa Toyota Motor Company e seus fundamentos foram difundidos para o ocidente após a crise do petróleo na década de 70. Ohno desenvolveu um modelo de produção baseado na eliminação de desperdícios para capacitar a Toyota a competir em um ambiente turbulento, de demandas diferenciadas e com crescimento econômico lento. Caracteriza-se pela estrita produção dos produtos desejados pelos clientes, no momento necessário e na quantidade exigida.

Em 1990, três pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology - MIT, divulgaram um estudo alertando os países ocidentais sobre os novos métodos de produção que estavam sendo adotados em algumas empresas automobilísticas japonesas (WOMACK et al., 1997). De acordo com esta pesquisa, a nova abordagem foi responsável pelo desempenho superior apresentado pela indústria daquele país nas últimas décadas no contexto internacional e denominou-se Produção Enxuta (lean production).

Em 1996, James Womack e Daniel Jones, dois dos autores da pesquisa do MIT de 6 anos atrás, apresentaram uma proposta para empresas de produção em massa se transformarem em enxutas, introduziram alguns elementos que ampliaram a concepção inicial, e desenvolveram um novo conceito denominado Pensamento Enxuto(WOMACK et al., 1996).

Pensamento enxuto é uma técnica que permite uma empresa eliminar desperdícios onde quer que eles estejam e fazer com que o cliente receba somente aquilo que deseja, no momento e na quantidade requisitada. A palavra ‘pensamento’ implica um conceito abrangente não restrito a intervenções no chão de fábrica, nem ao campo de ação direto da empresa, mas tambem às áreas administrativas da companhia e aos fornecedores. O método busca atingir todas as atividades que geram valor ao produto, quer elas sejam realizadas na própria companhia ou em outro local.

Cinco princípios básicos norteiam o Pensamento Enxuto: a especificação do valor, a identificação da cadeia de valor, o fluxo, a produção puxada e a perfeição.

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O ponto de partida para uma empresa implantar um Sistema Enxuto é a especificação correta de valor. O significado de valor está relacionado a todas as características do produto desejadas pelo usuário. Especificá-lo permitirá a identificação das atividades que contribuem para que o produto atenda aos requisitos exigidos pelo consumidor. As restantes serão consideradas fontes de desperdícios e, portanto, deverão ser eliminadas.

O segundo princípio em um Sistema Enxuto é a identificação da cadeia de valor, entendida como o conjunto de todas ações específicas necessárias