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Limpeza

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Por:   •  13/5/2014  •  Tese  •  1.902 Palavras (8 Páginas)  •  238 Visualizações

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a tquatro meses; acordo, levanto da cama ainda sonolenta e acabo tropeçando em um dos tênis jogados pelo chão. Resmungo um palavrão, apesar Repito a rotina de todas as manhãs dos últimos de meu pai preferir que eu não diga certas coisas, mas é tudo reflexo de meu mau humor matinal. Tomo um banho demorado, olho meu reflexo no espelho e suspiro para a imagem da garota pálida e sem graça. Em uma terra desértica, tomada por um calor escaldante durante quase o ano inteiro, onde todos os habitantes são bronzeados ou levemente corados, eu era uma intrusa. Phoenix dificilmente poderia ser considerado meu lar. Visto um jeans cinza e uma camisa qualquer e calço meu inseparável par de Converses. Eles estão comigo desde que eu tinha 13 anos e não pretendo me desfazer deles tão cedo.

Depois de desembaraçar meu cabelo com certa dificuldade resolvo ir para a cozinha. É lá que meu pai está preparando ovos e bacon, cantarolando alguma música dos Beatles e ignorando minha presença até que eu me faça ser notada. Normalmente faço isso arrastando a cadeira para me sentar. Ele se vira rapidamente para me dar uma olhada e eu sorrio em resposta.

– Bom dia, Em! – ele diz como se o dia fosse algo maravilhoso, o que não é necessariamente verdade. Mas ele deve achar que sou uma adolescente deprimida e rabugenta que precisa desse tipo de incentivo, o que não é necessariamente mentira, mas eu prefiro pensar que ainda não cheguei ao estágio da depressão.

– Oi pai. – digo sem ânimo. Ele está de costas para mim, mas sei que está sorrindo; ele sempre sorri quando falo com ele, exceto quando o assunto abordado é minha mãe. Nesses momentos ele nunca sorri, apenas me encara com seus grandes olhos verdes e então me abraça apertado.

– Ovos e bacon? – ele pergunta trazendo a frigideira consigo. Eu nego com a cabeça e ele dá de ombros, colocando os ovos e o bacon em seu prato. Pego uma torrada e levo a boca, dando uma mordida pequena demais. A verdade é que nunca sinto fome de manhã cedo, mas meu pai não deixa que eu saia de casa sem comer, ele é um tanto paranoico com esses distúrbios alimentares que todas as adolescentes parecem ter. Mas eu sou um caso aparte; eu adoro comer, para mim esse é um dos poucos prazeres da vida, mas de manhã meu estômago ainda não está pronto para receber qualquer tipo de comida.

– Você vai passar pela loja hoje?

– Talvez, mas eu combinei de sair com a Amber hoje.

– Você vai voltar a tempo do jantar? – ele pergunta depois de colocar um pedaço grande de bacon na boca.

– Acho que sim. – dou uma última mordida na torrada e me levanto, pegando a mochila laranja que está jogada sobre o balcão e a jogando sobre o ombro. – Eu ligo se for demorar. – me despeço de meu pai e então sigo a pé até o colégio, que não fica muito longe da minha casa.

Não demora muito e logo encontro uma enorme aglomeração de adolescentes barulhentos. Sento-me em um dos bancos que ficam distribuídos próximos da entrada e ponho os fones em meus ouvidos, tirando meu exemplar de O Morro Dos Ventos Uivantes da mochila. Este é meu livro favorito, mas se você me perguntar o porquê eu não acho que saberei te responder. Em parte acho que foi influência da minha mãe. Ela dizia que nenhuma história de amor se comparava ao romance de Catherine e Heathcliff, e lembro que ela costumava ler algumas passagens do livro quando eu era menor e tinha dificuldade para dormir.

O fato é que acabei me apegando ao livro e a Heathcliff. Era o que se podia chamar de meu livro de cabeceira, e a memória mais viva que tinha de minha mãe já que agora eu mal lembrava seu rosto ou sua voz. Com o passar do tempo as lembranças não possuem a mesma nitidez que antes, elas ficam borradas, confusas e antes que você perceba já se esqueceu de boa parte. E eu me odiava por estar me esquecendo dela.

Recebi um cutucão no braço e virei meu rosto para o lado me deparando com olhos ansiosos e maquiados. Amber sorria para mim deixando todos os seus dentes brancos à mostra e eu soube naquele instante que ela tinha algo para me contar. Tirei os fones e deixei o livro um pouco de lado.

– Oi Em!

– O que aconteceu Amber? – digo arqueando uma sobrancelha enquanto ela finge surpresa.

– Por que você acha que algo aconteceu?

– Porque eu te conheço e você está sorrindo de um jeito estranho para mim.

Amber suspirou e se aproximou um pouco mais de mim, mordendo o lábio de uma maneira exagerada.

– Você sempre sabe de tudo, não é? – ela murmurou. - Eu conheci um garoto.

Balancei minha cabeça e entortei a boca em um meio sorriso.

– Não é sempre assim?

– Você devia experimentar isso de vez em quando, sabe? Você é sempre meio ranzinza de manhã, talvez um garoto seja a solução para os seus problemas. –Amber disse em tom de brincadeira, mas eu sabia que ela já estava cansada de minhas constantes mudanças de humor.

– Então, qual o nome dele? – pergunto ignorando seu comentário anterior. Amber alarga seu sorriso e solta um longo suspiro.

– O nome dele é Marco e ele é um amigo do meu irmão. Ah, Em, garotos mais velhos são tão experientes! Eles sabem o que estão fazendo e sabem exatamente o que nós queremos... – solto uma risada baixa e balanço a cabeça mais uma vez.

– Achei que seu irmão estivesse na faculdade.

– Ele está de férias e trouxe esse amigo para passar um tempo lá em casa.

– E você está se aproveitando do pobre coitado, não é mesmo?

– Talvez só um pouquinho. – ela diz com a voz arrastada, esboçando um sorriso malicioso e soltando uma gargalhada em seguida. – Sério, você devia tentar conhecer alguém, ia te fazer bem.

E o assunto havia voltado para mim. Amber conseguia ser bastante incoveniente quando queria.

– Não estou interessada. – ela bufou e revirou os olhos para mim.

– Você nunca está interessada em nada além desse seu livro idiota. – desvio meu olhar de Amber para que ela não veja o quanto aquilo me afeta, mas foi uma tentativa inútil, pois ela me conhece tão bem quanto eu a conheço. Ouço quando ela suspira e então sua mão encontra a minha, apertando-a com força demais. – Ah, Em! Sinto muito, eu não quis dizer isso... É só que você

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