Os Crimes de Escravos Antropologia
Por: Deivid Pires • 8/11/2022 • Trabalho acadêmico • 864 Palavras (4 Páginas) • 93 Visualizações
1. Crimes de escravos
Na virada das décadas de 1860 e 1870, os relatórios chefes de polícia dirigidos aos presidentes de província expressam uma crescente preocupação com as lutas dos escravos. Individualmente ou em pequenos grupos, de forma premeditada ou não, eles se revoltavam e matavam, e ao invés de simplesmente fugir, como era usual, começam a se apresentar espontaneamente à polícia, como se julgassem de seu direito matar quem os oprimia.
Ao longo da década de 1870, grande parte das atenções das autoridades policiais convergia para a questão dos crimes diários de escravos contra senhores, administradores, feitores
e respectivas famílias.
Não que anteriormente não ocorressem tais crimes e revoltas na
produção, tanto é que a lei geral de 1835, que previa a pena de morte para
os escravos que atentassem contra a vida de seus senhores e feitores,
objetivava pôr um paradeiro a estes eventos sangrentos, em especial os
ocorridos na Bahia. Além disso, as dificuldades com a disciplina tinham muito a ver com o
descrédito em que caía a escravidão e com as inevitáveis mudanças de
atitudes psicossociais, tanto da parte de senhores como de escravos, bem
como da população em geral.
Também é preciso lembrar que nesta época a região oeste de São
Paulo estava sendo desbravada para o estabelecimento de novas fazendas
de café e de ferrovias, em meio a violentos conflitos com os indios que lá
habitavam. À quebra gradativa deste isolamento rural até então assegurado
pelas matas virgens e falta de vias de comunicação pode ter dificultado
ainda mais a sobrevivência dos pequenos quilombos que existiram em
São Paulo durante toda a escravidão.
2. REVOLTAS, FUGAS E APOIO POPULAR
Enquanto os anos 1870 revelam-se marcados pelos crimes feitos
individualmente ou em pequenos grupos de escravos, os primeiros anos
da década de 1880 primam pelas revoltas coletivas ou insurreições,
registradas em fazendas de diversos municipios. Em 1881 começam a aparecer sinais mais insistentes de apoio popular à causa dos escravos, pois até então os relatórios de polícia quase não mencionam o envolvimento de pessoas de fora das fazendas nos
conflitos entre senhores e escravos.
Em 1882 continuam os relatos de incitamento de escravos por
elementos de fora das fazendas, ao mesmo tempo que vão em curso
pequenas sublevações e atentados individuais ou em grupos de cativos
contra senhores e feitores. Em Araraquara e Jacarei, em outubro e novembro
respectivamente, os fazendeiros se mobilizaram para expulsar de suas regiões
o capitão Antônio Henrique da Fonseca.
Em 1886 o chefe de policia Luiz Lopes Baptista dos Anjos Jr. relata
um destes conflitos violentos ocorridos em Santos, que segundo ele só
poderia ser atribuído a interesses escusos de indivíduos que acoitavam
escravos a fim de explorar-lhes a força de trabalho em proveito próprio.”
Contudo, fossem quais fossem os interesses envolvidos dos humildes
carregadores que acorreram à estação da estrada de ferro e, munidos de
pedras e paus, tentaram impedir o embarque de cinco escravos fugidos
para a capital, o fato é que “as classes infimas” haviam entrado em plena
ebulição, assumindo cada vez mais ousadamente aquelas atitudes
imprevisíveis e desreguladas — ou “as paixões ruins”, como se dizia — tão
temidas pela polícia e proprietários de todo o tempo e lugar.
À medida que cresciam as fugas em massa das fazendas, sobretudo
a partir dos últimos meses de 1887, radicalizava-se o movimento
abolicionista nas cidades, em especial nos centros mais populosos, como
Santos e São Paulo.
Pela primeira vez na história da escravidão na provincia pressentia-
se a aproximação de um momento de acerto geral de contas e nisto os
brancos
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