Vendo Modulo
Trabalho Universitário: Vendo Modulo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: eduardoeduardo • 21/8/2014 • 611 Palavras (3 Páginas) • 315 Visualizações
O Desafio de Aristóteles
Qualquer um pode zangar-se isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na
hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil.
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco
Era uma tarde de agosto insuportavelmente sufocante, na cidade de Nova Iorque, um daqueles dias
calorentos, que deixam as pessoas mal-humoradas e desconfortáveis. Eu voltava para um hotel, e,
ao entrar num ônibus na avenida Madison, fiquei surpreso com o motorista, um negro de meiaidade
e largo sorriso, que me acolheu com um amistoso "Oi! Como vai?" saudação feita a todos os
outros que entraram no ônibus, enquanto serpeávamos pelo denso tráfico do centro da cidade. Cada
passageiro se surpreendia tanto quanto eu, mas, presos ao péssimo clima do dia, poucos Ihe
retribuíam o cumprimento.
À medida que o ônibus se arrastava pelo quadriculado traçado da cidade, porém, foi-se dando uma
lenta, ou melhor, uma mágica transformação. O motorista monologava continuamente para nós um
animado comentário sobre o cenário que passava à nossa volta: havia uma liquidação sensacional
naquela loja, uma exposição maravilhosa naquele museu, já souberam do novo filme que acabou de
estrear naquele cinema logo mais adiante na quadra? O prazer dele com a riqueza de possibilidades
que a cidade oferecia era contagiante. Quando as pessoas desciam do ônibus, já se haviam livrado
da concha de mau humor com que tinham entrado, e, quando o motorista Ihes dirigia um sonoro
"Até logo, tenha um ótimo dia!", todas Ihe davam uma resposta sorridente.
A lembrança desse encontro me acompanha há quase vinte anos. Quando viajei naquele ônibus da
avenida Madison, acabara de concluir meu doutorado em psicologia mas pouca atenção se dedicava
na psicologia da época a exatamente como podia se dar uma tal transforrnação A ciência
psicológica pouco ou nada conhecia dos mecanismos da emocão E, no entanto, ao imaginar a
propagação do vírus de bem-estar que deve ter-se alastrado pela cidade começando pelos
passageiros de seu ônibus, vi que aquele motorista era uma espécie de pacificador urbano, uma
espécie de feiticeiro, em seu poder de transmutar a soturna irritabilidade que fervilhava nos
passageiros, amolecer e abrir um pouco seus corações.
Em gritante contraste, algumas matérias de jornal daquela semana:
Numa escola local, um garoto de nove anos causa uma devastação derramando tinta nas carteiras,
computadores e impressoras, e vandalizando um carro no estacionamento da escola. Motivo: alguns
colegas da terceira série o haviam chamado de "boneca",
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