Castells - capitulo 2
Por: Mara Rosane Noble Tavares • 24/11/2015 • Bibliografia • 13.333 Palavras (54 Páginas) • 433 Visualizações
118A revolução da tecnologia da informação
2[pic 1]
A nova economia: informacionalismo, globalização,
funcionamento em rede
Uma nova economia surgiu em escala global no último quartel do século XX. Chamo-a de informacional, global e em rede para identificar suas características fundamentais e diferenciadas e enfatizar sua interligação. É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capaci-
dade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em m o m
o cl conhecimentos. É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e rT-3
a circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, <
ci) CD cr
administração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala E `<[pic 2][pic 3]
da tecnologia da informação forneceu a base material indispensável para sua criação. É a conexão histórica entre a base de informações/conhecimentos da economia, seu alcance global, sua forma de organização em rede e a revolução da tecnologia da informação que cria um novo sistema econômico distinto, cujas estrutura e dinâmica explorarei neste capítulo.[pic 4]
Sem dúvida, informação e conhecimentos sempre foram elementos cruciais no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia determinou em grande parte a capacidade produtiva da sociedade e os padrões de vida, bem como for-
mas sociais de organização eco' Porém, omo foi discutido no capítulo 1,
estamos testemunhando um ponto de descontine histórica. A emergência de
um novo paradigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas, possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo. Sendo mais preciso: os produtos das novas indústrias de tecnologia da informação são dispositivos de processamento de
informações ou o próprio processamento das informações.2 Ao transformarem os processos de processamento da informação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento de conexões infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os elementos e agentes de tais atividades. Surge uma economia em rede profundamente interdependente que se torna cada vez mais capaz de aplicar seu progresso em tecnologia, conhecimentos e administração na própria tecnologia, conhecimentos e administração. Um círculo tão virtuoso deve conduzir à maior produtividade e eficiência, considerando as condições corretas de transformações organizacionais e institucionais igualmente drásticas.' Neste capítulo, tentarei estimar a especificidade histórica da nova economia, delinear suas principais características e explorar a estrutura e a dinâmica de um sistema econômico mundial, emergente como uma forma transitória rumo ao modelo informacional de desenvolvimento que provavelmente caracterizará as futuras décadas.[pic 5][pic 6]
Produtividade, competitividade e a economia informacional
O enigma da produtividade
A produtividade impulsiona o progresso econômico. Foi por meio do aumento da produção por unidade de insumo no tempo que a raça humana conseguiu dominar as forças da natureza e, no processo, moldou-se como cultura. Sem dúvida, o debate sobre as fontes de produtividade tem sido o ponto fundamental da economia política clássica, desde os fisiocratas até Marx, passando por Ricardo, e continuando na vanguarda de uma corrente de teoria econômica em extinção, ainda preocupada com a economia real.' Na verdade, os caminhos específicos do aumento de produtividade definem a estrutura e a dinâmica de um determinado sistema econômico. Se houver uma nova economia informacional, deveremos ser capazes de identificar as fontes de produtividade historicamente novas que distinguem essa economia. Mas assim que suscitamos essa questão fundamental sentimos a complexidade e a incerteza da resposta. Poucos temas econômicos são mais questionados e questionáveis que as fontes de produtividade e o crescimento de produtividade.'
Faz parte do ritual de discussões acadêmicas sobre a produtividade em economias avançadas começar com a referência ao trabalho pioneiro de Robert Solow (1956-7) e à função de produção agregada, proposta pelo autor em uma estrutura neoclássica ortodoxa para explicar as fontes e a evolução do crescimento de produ tividade na economia norte-americana. Com base em seus cálculos, Solow sustentava que a produção bruta por trabalhador dobrou no setor privado não-rural norte-americano entre 1909 e 1949, "com 87,5% do aumento atribuível a transformações tecnológicas e os 12,5% restantes ao maior uso de capital".6 Um trabalho paralelo de Kendrick convergia para resultados semelhantes.' Porém, apesa de Solow ter interpretado suas descobertas como se fossem um reflexo da influência das transformações tecnológicas na produtividade, em termos estatísticos, o que ele demostrou foi que o aumento da produção por hora de trabalho não era resultado de adição de mão-de-obra e apenas ligeiramente de adição de capital, mas vinha de outra fonte, expressa como um residual estatístico em sua equação da função de produção. A maioria das pesquisas econométricas sobre crescimento de produtividade, nas duas décadas posteriores ao trabalho pioneiro de Solow, concentrou-se na explicação do "residual", descobrindo os fatores ad hoc que seriam responsáveis pela variação na evolução da produtividade, como fornecimento de energia, regulamentação governamental, nível de instrução da mão-de-obra e assim por diante, sem obter muito sucesso no esclarecimento desse misterioso "residual".8 Economistas, sociólogos e historiadores econômicos, corroborando a intuição de Solow, não hesitaram em interpretar o "residual" como sendo correspondente a transformações tecnológicas. Nas elaborações mais precisas, "ciência e tecnologia" eram compreendidas em sentido amplo, ou seja, conhecimentos e informação, de modo que a tecnologia voltada para o gerenciamento foi considerada tão importante quanto o gerenciamento da tecnologia.9 Um dos esforços mais elucidativos de pesquisa sistemática sobre a produtividade, desenvolvido por Richard Nelson,'° começa com uma proposição muito difundida sobre o papel central da transformação tecnológica no crescimento de produtividade, relançando, portanto, a questão sobre as fontes de produtividade e transferindo a ênfase para as origens dessa transformação. Em outras palavras, a economia da tecnologia seria a estrutura explicativa para a análise das fontes de crescimento. Todavia, essa perspectiva analítica intelectual pode, na verdade, complicar o assunto ainda mais. Isso porque uma corrente de pesquisas, em particular dos economistas da Unidade de Pesquisa de Ciência e Política da Universidade de Sussex," demonstrou o papel funda ental do ambiente institucional e
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