A Quebra de paradigmas do senso comum à Dimensão Histórica
Por: exmonalisa_ • 18/12/2017 • Trabalho acadêmico • 1.695 Palavras (7 Páginas) • 522 Visualizações
Serviço Social: A quebra de paradigmas do senso comum à Dimensão Histórica
Letícia da Silva
RESUMO
Este artigo tem como objetivo explanar uma visão comparativa à cerca da gênese do Serviço Social em três perspectivas diferentes: A visão leiga, antes do estudo e conhecimento do Serviço Social, a perspectiva histórica e ideológica, bem como o pensamento atual, adquirido posterior o estudo sobre o tema.
INTRODUÇÃO
“O senso comum é o terreno donde me recuso a sair, simplesmente por ter a consciência claríssima das minhas próprias limitações.”
José de Sousa Saramago
Quando não temos acesso a visões teóricas e explicativas sobre determinados assuntos, ficamos a mercê de um processo recorrente e amplo na sociedade: A alienação. Para a filosofia, alienação é: Transformar propriedades, relações e ações humanas em propriedades e ações de coisas, que são independentes do homem. Outra visão é a de que a alienação é distanciamento de si, um processo pelo qual o homem pensa a si, através de suas ações, como estranho a sua própria natureza, vendo-se como "coisa", afastando-se da natureza humana. Alguns autores defendem que o conceito de alienação pode ser encontrado, em sua primeira forma no Velho Testamento, quando se apresenta o conceito de idolatria. Se fala também sobre a doutrina cristã do pecado original e da redenção e que pode ser considerada como uma primeira versão da doutrina da alienação, de forma semelhante à exposta por Hegel.
Senso comum ou conhecimento vulgar é a compreensão do mundo decorrente da herança cultural produzida baseada nas experiências acumuladas por um grupo social. O Senso comum descreve as crenças e proposições por herança social, sem se importar com investigações ou pesquisas científicas. É dentro deste contexto que se formam as mais diversas teorias e estigmas em cima de determinados assuntos, que ainda tem opiniões fomentadas através dos interesses do monopólio midiático e de seus governantes num ciclo contínuo, extremamente difícil de ser quebrado.
Os conceitos determinados são os principais influentes dos estigmas levantados à cerca do Serviço Social e de tantos outros temas; a seguir se discorre a perspectiva história do Serviço Social, bem como o processo de enraizamento a que estamos submetidos desde cedo.
ENRAIZAMENTO E PERSPECTIVA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
A minha percepção a cerca do Serviço Social formou-se por influência da mídia e de forma reduzida e negativa; o assistencialismo em sua compreensão não é muito aceito no país mesmo por quem é dele “beneficiado”, isso é reproduzido constante e insistentemente na mídia televisiva, englobando o serviço social também no âmbito do assistencialismo e acoplando seu negativismo. Cresci assim e assim também fui sendo um fio condutor deste pensamento, expondo essa opinião de senso comum sempre que solicitada; isso nos é apresentado de uma forma política e enraizada que faz com que o fato de um determinado grupo de pessoas precisar algum tipo de assistência mais específica do Estado, ser motivo de redução ou “minimação” deste grupo, sendo “motivo de orgulho” toda e qualquer crítica a essas ações sociais.
Infelizmente, o processo de destituição do senso comum e estabelecimento de um senso crítico, ainda são lentos e desestruturados, pois também devem ser considerados os conceitos culturais e subjetivos da população, que pouco pensa além do “as coisas sempre foram assim por aqui”, esse processo de desinstitucionalização da população engloba hoje um conceito específico meu do Serviço Social, que tem papel fundamental. Essa perspectiva foi se modificando com o decorrer do ensino histórico do Serviço Social.
O processo de formação histórico do Serviço Social no Brasil evidencia a reestruturação deste desde sua gênese, até o desvencilhamento do conceito de assistencialismo; surge na década de 1930, através da Igreja e concomitante ao Populismo de Getúlio Vargas, que foi uma resposta ao crescimento da insatisfação das condições de trabalho dos proletários, fazendo com que o Estado promovesse algumas concessões que, na verdade, tinham como pano de fundo o controle das massas. Desta forma foi implantado o trabalho de agentes sociais para atuarem no controle social da mão de obra. A implantação do Serviço Social decorre deste processo, porém, não através do Estado e sim, por grupos ligados à igreja. A Igreja Católica fazia o processo de formação destes agentes com membros da elite, usando uma ideologia cristã com propósitos de atuação baseados na caridade e na repressão; esses agentes atuavam com mulheres e crianças implantando higiene, domesticidade e uma “moral cristã”.
A Igreja viu na insatisfação do proletário uma forma de adquirir ainda mais força sobre as massas populacionais e, usando de sua ideologia cristã sobre um grupo desiludido e desesperado, foi conquistando espaço ideológico e obtendo ainda mais devotos.
E em 1932 foi inaugurado o CEAS (Centro de Estudos e Ação Social) de São Paulo como primeira iniciativa de formação de “trabalhadoras sociais”, O CEAS foi se expandindo no Brasil com a doutrina e a prática voltadas para atendimentos individuais, sob a orientação da igreja consequentemente de sua metodologia europeia. Em 1940 surge o Instituto de Serviço Social de São Paulo, uma escola de Serviço Social destinada a homens e com a oferta de bolsas gratuitas, subsidiadas pelo Estado. Essa iniciativa partiu da necessidade de levar o trabalho social para os presídios masculinos, bem como para instituições de internação e correção de menores (sempre com teores ideológicos cristãos).
Percebe-se então um questionamento ideológico dentro da própria igreja católica através de grupos de esquerda; esses questionamentos eram justamente sobre os moldes somente assistencialistas do trabalho, sem a perspectiva de mudança das realidades assistidas. Esses questionamentos foram externados na formação de grupos de discussão entre os profissionais, em longos debates em congressos da categoria, dividindo-os em dois grupos ideológicos: Conservadores (os que queriam manter o modelo tradicional) e os Modernizadores (um projeto de transformação movido pelo debate); com a Ditadura Militar, os debates foram sufocados, só ressurgindo com o processo de renovação do Serviço Social que ocorreu entre os anos de 1967 e 1984. Os eventos deste período foram organizados num primeiro momento por iniciativa do CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social), que envolveu profissionais e professores da área. E depois se articulando com a ABESS1 (Associação Brasileira de Assistentes Sociais).
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