ASPECTOS ESSENCIAIS DA PÓLIS GREGA: SOCIEDADE, RELIGIÃO, ECONOMIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NA ATENAS CLÁSSICA
Por: Fran Silva • 27/8/2019 • Trabalho acadêmico • 4.529 Palavras (19 Páginas) • 341 Visualizações
ASPECTOS ESSENCIAIS DA PÓLIS GREGA: SOCIEDADE, RELIGIÃO, ECONOMIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NA ATENAS CLÁSSICA
Robert P. SILVA1
RESUMO
Este trabalho buscou analisar, de maneira breve, a situação econômica, política e cultural, além da participação cidadã na Atenas do período Clássico, destacando-se a importância da cidade no processo de deliberação política.
PALAVRAS-CHAVE: Pólis. Cidades-estado. Participação política. Cidadania. Igualdade
INTRODUÇÃO
Este breve trabalho tem por objetivo delinear alguns aspectos da pólis grega, desde seu surgimento entre os séculos VIII ou VII a. C. à sua bancarrota no século III da Era Cristã, abordando alguns elementos de origem econômica, social e cultural. Cuidaremos expor como a pólis constituiu-se como a unidade básica do Estado grego, mostrando sua grande importância ao homem heleno e seus principais aspectos.
BREVE DISCUSSÃO ACERCA DAS CARCTERÍSTICAS DA PÓLIS GREGA
É necessário que se comece por afirmar, ainda que já conhecido de alguns, o fato de que a pólis não se desenvolveu de forma igualitária por toda a Grécia, adquirindo, em cada região estudada, características próprias, locais, que lhe conferem particularidades. A vida política da Grécia estava organizada em torno das cidades, são elas que constituem
o centro nervoso da vida cultural, política e econômica. São as cidades que levam Aristóteles a afirmar a vocação política do homem. Ser cidadão, no mundo grego, era pertencer a uma cidade, participando e exercendo ativamente sua cidadania. Entretanto, nem todas as regiões da Grécia estavam organizadas em cidades, como veremos a seguir. A cidade grega (ou pólis) era muito diferente das cidades que nós conhecemos. Contemporaneamente, pode-se dizer que a cidade é um aglomerado de edifícios, casas e pessoas que, embora vivendo num mesmo espaço geográfico, possuem vidas separadas, diferenciadas, e mesmo inconciliáveis. A vida na cidade em nossos dias apresenta rupturas inimagináveis com a vida na cidade grega. Opondo-se ao automatismo e impessoalidade que caracterizam a vida contemporânea, a cidade grega é íntima, pequena, rural, cheira a campo. O contato entre as pessoas são frequentes, e o tempo parece mover-se em marcha acentuadamente mais lenta que em nossa sociedade. Conforme assinalado por Sir Ernest Barker, em Teoria Política Grega – Platão e seus Predecessores, temos que:
‘’ Na Grécia, como também na Itália, a unidade da vida política durante toda a época clássica foi dada pela cidade. O homem era uma animal político na medida em que participava de uma pólis.’’. BARKER (1978, pg. 39)
“O aparecimento da polis constituí, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a polis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos’’. VERNANT (2002, pg.53)
“Da mesma forma que a cidade medieval italiana, a cidade grega é a unidade da vida social. Ela centraliza todas as ocupações: combina a cultura do milho e das oliveiras com a manufatura de vasilhame e o preparo de couros. É também o centro de todas as classes: une a nobreza fundada na propriedade da terra com os artífices e os comerciantes. Deste fato fundamental decorrem muitos traços essenciais da ‘pólis’ grega. Em primeiro lugar, trata-se de uma cidade que recende a campo. Se é a sede da urbanidade, e daquela ‘civilidade’ de que tiramos a palavra ‘civilização’, é também um local de ‘suma rusticitas’. Nas comédias de Aristófanes, diz um escritor francês, há um odor de celeiro. Logo atrás dos muros de Atenas encontram-se olivais contorcidos, vinhedos, e campos semeados; e à vista da cidade subiam caminhos por onde os pastores conduziam suas ovelhas para pastar nas colinas’’. BARKER (1978, pg. 40)
“Como local de encontro de todas as ocupações, Atenas era o centro da vida comum e a sede da união de todas as classes – esta, um segunda característica essencial. A vida dentro dos muros comuns levou os homens a uma natural intimidade. Se o prestígio da riqueza, do nascimento aristocrático e da cultura não foi abolido, pelo menos estabeleceu-se uma tradição de fácil intercâmbio entre todas as classes. A mansão do nobre não estava fisicamente segregada da casinha do trabalhador’’. BARKER (1978, pg. 41)
‘’A cidade- estado, por sua vez, não era, pela sua própria natureza, uma instituição singular, mas múltipla. Em qualquer momento da história da Grécia vamos encontrar vários estados, não apenas coexistindo, mas em contato íntimo. (...) A própria limitação da cidade-estado, e a consequente intimidade da sua vida pública, encorajava a formação e uma opinião local sobre o que era decente e próprio. Cada uma dessas pequenas cidades tinha a sua ‘’tonalidade’’ (ethos); cada uma delas desenvolvera, no curso da história, um código de condutas que era peculiar, fundado em sanções derivadas da opinião pública que o havia criado’’. BARKER (1978, pg. 25)
‘’ (...) É verdade também que em muitas regiões da Grécia a cidade era uma instituição exótica. Na Aetólia, por exemplo, vivia-se ainda uma vida tribal, em vilas não fortificadas, mesmo nos dias de Aristóteles. Mas a vida normal dos gregos era a vida urbana, o que lhes permitia traçar a distinção entre a sua civilização, citadina, e a dos Celtas e dos Germanos, que viviam no campo: a civilização da tribo (ethnos)’’. BARKER (1978, pg. 39)
Mesmo não sendo igual em todas as polei gregas, as cidades-estados transformaram-se no sinal mais evidente e indelével da cultura helênica, não sendo possível falar em mundo grego sem recordar, quase que instantaneamente, de sua mais característica organização política. E mesmo entre os filósofos, a pólis é uma unanimidade, um ponto balizador na constituição do Estado. Falar em Estado grego é falar em pólis, é falar em cidade. Os termos se confundem e, muitas vezes, se fundem, na visão de diversos estudiosos dos habitantes da Hélade:
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