Atividade Individual - Negociação e Administração de Conflitos - MBA FGV
Por: fransolino76 • 7/11/2020 • Trabalho acadêmico • 1.992 Palavras (8 Páginas) • 2.224 Visualizações
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Atividade individual Matriz de análise | |
Disciplina: Negociação e Administração de Conflitos | Módulo: Atividade Individual |
Aluno: | Prof. Carlos Buzetto |
Tarefa: Análise da dinâmica de uma negociação | |
Introdução | |
A negociação está presente no dia-a-dia e mesmo sem perceber, as pessoas negociam todo o tempo. No ambiente de trabalho, o assunto torna-se mais importante, pois o processo de negociação deve estar baseado em conhecimentos e habilidades de podem ser adquiridos e aprimorados. A presente atividade tem como intenção utilizar uma cena do filme Capitão Phillips (2013), de Paul Greengrass, para análise dos conceitos aprendidos nessa disciplina. O processo de negociação será abordado em tópicos, para que os diversos aspectos da negociação possam ser analisados. A cena escolhida foi a negociação final, que ocorreu entre os sequestradores e a equipe do SEALs. Após momentos de tensão com a tentativa fracassada de fuga do Capitão Phillips do barco salva-vidas, um homem se apresenta no rádio como o negociador autorizado para tratar com os sequestradores. Muse (o líder dos sequestradores) acredita que está falando com o representante da seguradora da companhia marítima. O negociador começa a fornecer várias informações sobre a quadrilha, seus nomes, origem e o clã que pertencem; diz que conversou com os anciãos de sua tribo e que os mesmos estão dirigindo-se para o navio da marinha para negociar um acordo, o pagamento do resgate. O negociador diz que o pagamento do resgate deve ser feito com descrição e sugere que o barco salva-vidas seja rebocado pelo Destroyer da marinha para um ponto de troca. Também é solicitado que alguém suba a bordo para efetuar a negociação pessoalmente. Os sequestradores discutem, pois a proposta do negociador parece ser uma armadilha. Mesmo não sendo de comum acordo entre os sequestradores, Muse parece não ter muitas opções e aceita a oferta de subir no Destroyer para negociar. Apesar de não parecer muito convencido do que estava prestes a fazer, ele afirma para seus companheiros e para o Cap. Phillips que tudo dará certo, que eles receberão o dinheiro e Phillips voltará para casa. Um bote com uma equipe da Marinha se aproxima para buscar Muse. Os sequestradores estão bastante tensos, mas obedecem a ordem de abaixar as armas, permitem que o barco salva-vidas seja preso ao cabo de reboque e mostram Phillips, para confirmar que ele está vivo. A equipe afirma aos sequestradores que não há truques, que Muse será levado para o Destroyer para conversar com os anciãos, mas mesmo assim Muse ameaça que, se algo acontecer com ele, o refém será morto. A equipe da Marinha tenta todo o tempo manter a calma dos sequestradores, e convence Muse a deixar sua arma para embarcar no bote. Afirmam que os anciãos estão vindo de helicóptero para o navio. Muse diz novamente que se algo de errado acontecer, Phillips morrerá, mas a equipe da Marinha dá sua palavra de que tudo vai ficar bem. Por fim, Muse deixa a sua arma e, com a promessa novamente de que tudo ficará bem, embarca no bote da Marinha que o leva para o Destroyer. | |
Desenvolvimento – análise do processo de negociação representado no filme eleito | |
Na cena apresentada, pode-se identificar dois atores principais no processo de negociação: Muse, que lidera e representa a quadrilha de sequestradores; e o negociador dos SEALs, que nesse caso é um representante do governo dos EUA. Também participam do processo os demais sequestradores, os militares que fazem a abordagem ao barco salva-vidas e Phillips, que é o próprio objeto da negociação. De acordo com Castro (2020, p. 70), podemos classificar as partes envolvidas de acordo com as ideias e a confiança. Considerando esses dois aspectos, entende-se que as partes podem ser enquadradas como adversários, pois suas ideias eram divergentes e não existia confiança mutua. Os sequestradores tinham em mente receber um resgate milionário em troca do refém, no entanto, a Marinha tinha a missão de resgatar o Cap. Phillips com vida, sem qualquer pagamento de resgate. Quanto à confiança, por mais os SEALs repetiam que não haveria truques, os sequestradores desconfiavam e pensavam que tudo aquilo poderia ser uma armadilha. Da mesma forma, os SEALs sabiam que a qualquer momento o refém podia ser morto e a negociação poderia falhar.
Várias fontes de poder podem ser identificadas conforme definidas por Castro (2020, p. 25 apud Cohen, 2007). Do lado dos sequestradores a principal fonte de poder é a vida do refém (recompensa); eles sabiam que ela, tanto para a companhia marítima Maersk como para o governo dos EUA, tinham um valor muito alto. Também usam como poder a capacidade de coerção, realizando várias ameaças de morte ao refém, isso pressionava o outro lado e aumentava a tensão da negociação. Soma-se ainda a disposição dos sequestradores em correr riscos. Os SEALs sabiam que os sequestradores não tinham muito a perder e que o sequestro, que já era uma operação de grande risco, foi levado a uma situação mais extrema no momento em que fugiram do navio mercante com o refém. Mostraram dessa forma que eles estavam dispostos a conduzir a negociação até as últimas consequências. Do lado da equipe dos SEALs, muitas fontes de poder podem ser identificadas. Apesar de que provavelmente não seria realizado, é prometido um pagamento do resgate, como recompensa pela vida do Cap. Phillips, o que dava aos negociadores um poder de barganha. O negociador do SEAL também usa o tempo ao seu favor, ele sabia que os sequestradores já estavam há muito tempo naquela situação de sobrevivência, cansados e sem dormir direito, sem água ou comida. Sabia que os sequestradores não poderiam resistir muito mais tempo naquelas condições. O negociador também se vale da sua capacidade de persuasão, mesmo não logrando um convencimento pleno, conseguiu fazer com que Muse aceitasse ir para o Destroyer para realizar a negociação pessoalmente. No entanto, a maior fonte de poder da equipe do SEAL é o conhecimento. São profissionais altamente treinados e qualificados, acostumados a lidar com situações de muito estresse. Logo de início demonstraram domínio da situação, mostrando que possuíam todas as informações acerca dos sequestradores. Agiram com perícia e contrastavam com o amadorismo dos sequestradores. As principais ferramentas utilizadas pelos SEALs foram o planejamento e a informação. Fica claro nas cenas anteriores e durante a negociação, que eles possuíam muitas informações sobre os sequestradores: quem eram, como agiam e quais eram suas intenções. Com base nas informações obtidas, foi planejado o resgate do Cap. Phillips. O convencimento do líder dos sequestradores a subir no navio da Marinha, o reboque do barco salva-vidas para aproximá-lo do Destroyer, a colocação das escuta no barco e pedido para que Phillips colocasse uma camiseta amarela, tudo foi planejado previamente. Os SEALs usaram a tática das pequenas concessões (Castro, 2020, p. 52 apud Stark, 1999), conseguiram através de pequenos pedidos, colocar os sequestradores dentro de um cenário favorável para o resgate do Capitão Phillips. Pediram para aproximar-se do barco para fornecer água e comida, depois apresentaram a necessidade de um deles subir a bordo e também convenceram que o barco precisava ser rebocado, pequenas coisas que colocaram os SEALs em uma situação tática muito mais favorável. Por outro lado, nota-se que os sequestradores não tinham muitas ferramentas disponíveis. As informações sobre a outra parte eram muito ruins, pois não tinham conhecimento sobre como atuava a Marinha e seus reais interesses. Quanto ao planejamento, mostrou-se sempre muito incipiente e baseado em premissas que não eram reais. Imaginavam que iriam negociar com o representante da seguradora do navio e que aceitariam pagar o valor do resgate.
Serão consideradas as etapas do processo de negociação abordadas por Castro (2020, p. 75). Na etapa preliminar, que ocorreu no primeiro contato do negociador com o sequestrador Muse, o negociador se apresenta e demonstra a sua intenção de estabelecer uma negociação. Fornece informações sobre os sequestradores e os anciões de suas tribos, na tentativa de dar mais veracidade a sua história. Dessa forma, mesmo com certa desconfiança, os sequestradores ficaram mais otimistas quanto a possibilidade de estabelecer um acordo. O negociador abre a negociação ao afirmar que os anciãos estavam dirigindo-se para o navio de guerra para estabelecer um acordo. Apesar de que essa negociação já vinha sendo trabalhada anteriormente, o negociador deixa claro que sabe quais são os interesses dos sequestradores e também torna explicito o seu objetivo de negociar um resgate. A negociação é explorada com as concessões solicitadas pelos SEALs. Primeiro com o reboque do barco para um ponto de troca e depois com o pedido de que alguém suba a bordo do Destroyer para negociar pessoalmente. Mesmo desconfiando de que poderia ser uma armadilha, devido ao desequilíbrio de poder que havia entre as partes, os sequestradores tiveram que ceder. O processo de negociação encerra-se com Muse aceitando as condições propostas. Os SEALs afirmam várias vezes que ele seria levado a bordo para negociar e que não haveria truques, deixando claro como seriam as ações seguintes. Por outro lado, os sequestradores também afirmaram várias vezes quais seriam as ações caso o acordo não fosse cumprido, “formalizando” suas intenções.
A comunicação do negociador apresentou-se sempre de forma muito objetiva e tentou estabelecer a confiança nos sequestradores de que o acordo proposto seria cumprido. Na linguagem verbal, várias vezes foi afirmado que não haveria truques, tanto pelo negociador que fez contato pelo rádio, como pela equipe que abordou o barco para levar Muse. A linguagem não verbal também mostrou-se congruente com o que estava sendo dito. A equipe que abordou o barco apresentou uma postura pacifista, tentando manter o controle emocional dos sequestradores e fazendo com que eles confiassem que não seriam atacados. Por outro lado, Muse demonstrou em sua linguagem que estavam carregados de muita emoção. Hesitou em responder e demonstrou que a ameaça de matar o refém não era apenas um blefe. Ao serem abordados pelo bote da Marinha, a linguagem não verbal confirmou que eles estavam sob uma situação de muito estresse e com baixo controle emocional.
Como aspecto positivo, fica destaca-se o alto grau de preparação da Marinha para lidar com esse tipo de negociação. O sistema de inteligência conseguiu algo essencial, as informações acerca da outra parte. O alto nível de conhecimento e adestramento dos SEALs, permitiu um planejamento bem sucedido e a condução da negociação que levou ao resgate do Cap. Phillips. Apesar da negociação ter sido exitosa, o nível de confiança dos sequestradores estava muito baixo. As concessões poderiam ter sido um pouco menos custosas aos sequestradores e a linguagem não verbal poderia ter sido melhor explorada, como a interlocução com um negociador que falasse a língua dos sequestradores.
Dentro de uma realidade profissional, pode-se estabelecer um paralelo e entender que quando uma parte está muito melhor preparada para uma negociação que a outra, a chance de se chegar a um acordo que seja bom para as duas partes torna-se mais difícil. Sem fontes de poder que possam equilibrar o jogo e sem uma Macna razoável, aquele que está em desvantagem acaba cedendo, mesmo sabendo que está correndo um grande risco ou que sairá prejudicado. | |
Considerações finais | |
A análise da cena de negociação do filme Capitão Phillips (2013), deixa claro a diferença entre aquele que está preparado e o amador. A Marinha dos EUA com conhecimento e treinamento de suas tropas, foi capaz de obter todas as informações possíveis sobre a outra parte, realizar um planejamento detalhado e colocar em cena uma equipe de elite para negociar e agir contra os sequestradores. Por outro lado, mesmo os sequestradores tendo como moeda de troca um bem tão valioso como a vida de uma pessoal, não foram capaz de equilibrar a balança e negociar as concessões com a outra parte. Deixaram-se levar para falta de um Macna e pela ingenuidade de que um governo iria pagar o resgate de um refém. A falta de preparo lhes custou caro. | |
Referências | |
CASTRO, Marcela Souto. Negociação e Administração de Conflitos. FGV Educação Executiva, 2020. | |
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