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RESENHA DO DOCUMENTÁRIO “O LONGO AMANHECER - UMA BIOGRAFIA DE CELSO FURTADO”

Por:   •  15/6/2016  •  Resenha  •  3.075 Palavras (13 Páginas)  •  4.323 Visualizações

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ESCOLA DE GOVERNO PROFESSOR PAULO NEVES DE CARVALHO

RESENHAS DE ECONOMIA BRASILEIRA

Luiza Carvalho

Magno Peluso

Sara Rezende

Tayene Novais

Belo Horizonte

2016

RESENHA DO DOCUMENTÁRIO “O LONGO AMANHECER - UMA BIOGRAFIA DE CELSO FURTADO”

“O Longo Amanhecer - uma biografia de Celso Furtado” aborda a vida e o trabalho de Celso Furtado, que nasceu em 26 de julho de 1920 em Pombal, no sertão da Paraíba e morreu em 2004. Ele foi um grande pensador e economista, que foi reconhecido como um dos "grandes demiurgos" do pensamento brasileiro, junto a Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Jr. e Gilberto Freyre.

O documentário foi produzido através de entrevistas e depoimentos realizados por José Mariani com o próprio Celso Furtado em 2004 e com vários intelectuais brasileiros, entre eles: Maria da Conceição Tavares, Osvaldo Sunkel, Francisco de Oliveira, Antonio Barros de Castro. Ele não retrata apenas a trajetória acadêmica e profissional, mas também os marcos teóricos do pensamento histórico-econômico de Celso Furtado sobre o Brasil, fazendo-se uma análise sobre as suas ideias e contando a história do intelectual, desde a sua origem na Paraíba, formações acadêmicas e participações no governo federal.

Após concluir o curso de Direito na UFRJ em 1944, Furtado é convocado pra servir na FEB durante a segunda guerra mundial e em 1946 viaja para a França, onde decide realizar seu doutorado em Economia. Desde esse momento, seus estudos começaram a receber influências de Max Weber e da sociologia do conhecimento de Karl Manheim. O intelectual é reconhecido como reformista, pois acreditava que reformas de estrutura, acompanhadas de politicas econômicas responsáveis, mudariam o Brasil.

Em 1949, ao retornar à América Latina, integra a recém criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), em Santiago do Chile, onde se torna um dos principais colaboradores de RaúlPrébisch, para a teoria das relações "centro-periferia", sendo destacado como o jovem economista de mais destaque ali presente.

Ao retornar ao Brasil, na década de 50, se torna membro da diretoria do BNDES. Em 1959, no governo de Juscelino Kubitscheck, é criado um setor especializado em políticas públicas para o Nordeste, a SUDENE, que se tornaria uma das prioridades do governo JK. A política para o Nordeste é revitalizada e ganha, finalmente, contornos desenvolvimentistas. Celso Furtado declara a necessidade de conceber a seca como um fenômeno natural, próprio da região do semiárido. O modelo de desenvolvimento do Nordeste, não poderia, para o intelectual, ter como foco principal a reversão da seca: esta deveria ser entendida como parte do ecossistema da região – o foco deveria ser garantir o desenvolvimento como foi feito no restante do país. Também em 1959, após passar dois anos em Cambridge, publicou o livro "Formação Econômica do Brasil", considerado sua obra mais consagrada. É considerado um dos mais importantes escritores mundiais das ciências econômicas, pois soube aliar a teoria keynesiana à análise histórica das condições estruturais que fizeram o Brasil. 

Em 1962, Furtado integrou o governo de João Goulart, sendo nomeado Ministro do Planejamento do Brasil, apresentando ao país o Plano trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. O plano foi considerado pela economista Maria da Conceição Tavares, como a primeira vez que o Brasil teria a oportunidade de superar o ciclo do subdesenvolvimento através das reformas estruturais propostas. Entretanto, em 1964,o plano foi interrompido em decorrência da instauração da ditadura militar e segundo Cardoso de Melo, “o golpe de 1964 interrompeu a possibilidade de se construir um país decente”.

Durante o período militar foi exilado no Chile e depois na França e ao retornar ao Brasil depois da Lei da Anistia, se tornou Ministro da Cultura do governo Sarney. Também foi aliado e consultor político durante o 1º governo Lula e segundo Maria da Conceição Tavares, ele foi o único brasileiro exilado por patriotismo.

Para finalizar, podemos citar os dizeres de Maria da Conceição Tavares, de que Furtado "enxerga o horizonte além", mesmo que ele saiba que tal perspectiva torna-se cada vez mais distante. Desse modo, muito embora Celso Furtado não deixe de ter uma visão crítica e, até certo ponto, pessimista sobre a realidade, ele acredita que o chamado "amanhecer estruturalista" não deixará de ocorrer. 

Assim, o documentário sobre a vida de Celso Furtado, além de falar sobre o trabalho intelectual desenvolvido pelo autor, traz um aspecto marcante e muito importante da vida do intelectual: Furtado não era apenas um pensador, ele agia. Talvez a mais admirável característica de Celso Furtado seja sua dupla capacidade, como pensador e como ator político.  Como é dito por Maria da Conceição Tavares, enquanto intelectual, Furtado inovou o pensamento brasileiro, sendo rígido em seu método de pesquisa e observação; como político, entretanto, sabia fazer alianças e construir os apoios necessários para colocar em prática uma ideia, isso, sem perder de vista seus valores essenciais.

O grande autor brasileiro nos deixa dois importantes legados. O primeiro, logicamente, é seu pensamento, que inovou a forma de se interpretar a realidade brasileira. O segundo é sua esperança e sua vontade de que o Brasil seja melhor. Apesar de pessimista em seu diagnóstico, fica evidente, no documentário, a visão de futuro que Furtado tem: ele “enxerga o horizonte além”. Furtado era um reformista: acreditava que o Brasil poderia sim, mudar, com mudanças em suas estruturas básicas, mas mais importante, ele agia, lutando para que essas mudanças acontecessem.

Ele deixa para nós, administradores públicos, técnicos, um fio de esperança, ele nos serve de inspiração: é possível fazer algo pelo Brasil sem “vender sua alma ao diabo”, agindo politicamente, conseguindo alianças, mas sem perder de vista seus valores fundamentais. Esse talvez seja o aspecto da vida de Furtado mais relevante para nós, estudantes da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro: temos, sim, a possibilidade de propor boas políticas de forma idônea, e contribuir para mudanças em nosso estado e país. O saber técnico e o pensamento inovador têm, sim, espaço no Estado, só é preciso saber agir.

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