A ANÁLISE DOS AMBIENTES ORGANIZACIONAIS COM PAUTAS VOLTADAS À DIVERSIDADE: PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO E TRABALHO DECENTE

INTRODUÇÃO

Planejar ações relacionadas à diversidade é cada vez mais comum nas organizações, no entanto ainda há muitos desafios a serem resolvidos. Freitas M. E. et al.(2013), ressalta que a diversidade é um dos temas que buscam uma sintonia entre organizações e sociedade, pois responde aos questionamentos morais e éticos em torno da igualdade de direitos e oportunidades. Ainda segundo a autora, o debate sobre a diversidade ocorreu após a Segunda Guerra Mundial a partir da crescente presença da mulher no mercado de trabalho; das mudanças demográficas promovidas pelos movimentos migratórios e a globalização econômica; da coexistência de várias gerações e de uma cultura mais tolerante.

As empresas estão mudando a cada dia seu perfil e se adaptando para acolher as diferenças, seja por conta de um aumento na quantidade de leis que regulamentam a questão da inclusão nos ambientes organizacionais, pelo fato do assunto estar nos holofotes e, consequentemente, levar a reflexões sobre equidade ou porque as empresas estão percebendo que abrir espaço para a diversidade pode trazer vários benefícios ao ambiente organizacional. Segundo a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), para que haja um desenvolvimento realmente sustentável é necessário o respeito aos direitos sociais, econômicos e ambientais, portanto envolve o trabalho decente para todos. (Jornal da USP, 2021)

O presente material tem como objetivo analisar o ambiente organizacional de empresas, para compreender se suas condutas estão fundamentadas na sustentabilidade e diversidade, visto que o fato de ser possível atuar em uma empresa através de um vínculo de trabalho assalariado e desempenhando um papel importante traz de volta a dignidade e a sensação de ser útil à sociedade. Diante disso, levanta-se a questão de que o processo de inclusão vai muito além de oferecer empregos e gerar economia, por causar grande impacto na vida de pessoas que frequentemente enfrentam os obstáculos, desafios e, muitas vezes, exclusão em um ambiente de trabalho onde utiliza-se sistemas de Inteligência Artificial (IA) para o recrutamento de funcionários.

Tendo em vista o que foi exposto, o presente trabalho busca apresentar algumas reflexões acerca dos desafios atuais verificados nos ambientes organizacionais no que diz respeito à inclusão, por meio da análise da proposta de trabalho da empresa Natura. Uma análise de conteúdo no site da empresa e nas redes sociais, assim como no ranking de pesquisas e premiações, para compreender se sua cultura está pautada nos pilares da sustentabilidade, diversidade e trabalho decente.

DESENVOLVIMENTO

Ao abordarmos o contexto da diversidade em ambientes organizacionais com cultura voltada à inclusão social e Trabalho Decente, tratamos das inevitáveis práticas e ações que oportunizam transformações que o mercado e as empresas necessitam. Vivemos atualmente num mundo capitalista que valoriza a acumulação de riquezas, que gera o consumismo desenfreado, que consequentemente leva ao esgotamento dos recursos e à degradação do ambiente; um mundo marcado por desigualdades sociais, onde poucos detêm as riquezas e a muitos é negada uma vida digna. Há algum tempo já ocorrem debates e são criados acordos e leis na tentativa de promover um desenvolvimento sustentável, baseado nas dimensões econômica, social e ambiental e cujo foco é erradicar a pobreza extrema. O desejo é criar um mundo mais justo, com equidade, em que as pessoas mais vulneráveis tenham suas necessidades atendidas e todos tenham acesso a condições de trabalho decentes, um salário digno e direitos garantidos e neste modelo de desenvolvimento, que o meio ambiente seja respeitado. Dentre eles estão a Agenda 2030, um plano de ação ambicioso guiado pelos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas e a ideia que tem como base os anteriores Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), assim como princípios de conferências internacionais, propõe que os países trabalhem de maneira colaborativa por 15 anos (2016-2030) em torno de objetivos e metas comuns pela concretização dos direitos humanos. As estratégias envolvem financiamento público internacional, investimentos em setores estratégicos, desenvolvimento de pesquisas, ampliação do acesso à tecnologia, promulgação de leis de proteção, entre outras. Dentro deste contexto, o questionamento feito sobre a responsabilidade das empresas em relação aos direitos humanos é se suas condutas estão fundamentadas na sustentabilidade e na diversidade, na inclusão social e no trabalho decente para todos.

De acordo com Stuart Hart, em Inovação e sustentabilidade: bases para o futuro dos pequenos negócios - Publicação do SEBRAE (p. 54-69), no que diz respeito às discussões em torno dos desafios da sustentabilidade no cenário atual e futuro, o mundo e o capitalismo global estão numa encruzilhada: criar um modelo de negócio sustentável, que passa necessariamente pela questão ambiental, eficiência econômica e contribuição social. O capitalismo atual, diferente do capitalismo da Revolução Industrial, que enriqueceu poucos às custas de muitos, deverá assumir uma nova forma mais dinâmica que vai desbancar as elites e criar oportunidades na base da pirâmide, ou seja, sua crença de que a globalização que até então foi conduzida por grandes corporações, vai assistir a emergência dos pequenos negócios na base da pirâmide, com desenvolvimento de tecnologias limpas e a promoção da inclusão social.

Segundo o Marco de Referência sobre “Empresas e Direitos Humanos na Perspectiva do Trabalho Decente”, com a globalização econômica a partir da década de 1990, o debate sobre a responsabilidade social do setor empresarial em relação aos direitos humanos, assim como os impactos de suas ações neste sentido vem ganhando força. Ao longo deste período, muitos avanços ocorreram em relação à concretização dos direitos humanos e ao envolvimento e responsabilidades das empresas com os direitos humanos em geral, assim como no que diz respeito à inclusão de pessoas com deficiência, tanto no Brasil quanto no mundo. No 4º compromisso direcionado à Inclusão de Pessoas com Deficiência, a Organização Internacional do Trabalho destaca as responsabilidades importantes tanto do governo quanto das empresas a fim de promover os Direitos Humanos. De acordo com o autor do relatório da OIT The Right to Decent Work of Person with Disabilities (O Direito ao Trabalho Decente das Pessoas com Deficiência) publicado em 2007, Arthur O’Reilly, as pessoas com deficiências enfrentam inúmeros desafios no seu cotidiano, tais como empregos de baixo nível e rendimentos, problemas com os