A CULTURA AFRICANA
Por: TamyresPS • 9/9/2015 • Trabalho acadêmico • 3.181 Palavras (13 Páginas) • 335 Visualizações
CULTURA AFRICANA
(Material do Curso de Formação Continuada em História da África / UNICAMP)
O continente africano é uma massa compacta de mais de trinta milhões de quilômetros quadrados que se caracteriza essencialmente pela diversidade – em termos geográficos e também nos aspectos históricos, sociais e culturais. Para ilustrar essa diversidade, por exemplo, podemos lembrar que na África são falados mais de 1250 idiomas diferentes.
A maior parte das pesquisas sobre a origem da espécie humana aponta para o fato de que os primeiros homens surgiram na África. Porém, as histórias das sociedades e civilizações que emergiram na África antes do século XV, quando navegadores portugueses aportaram na região, apesar dos avanços da historiografia africanista, são ainda pouco conhecidas fora dos círculos especializados, assim como suas ricas e diversificadas práticas culturais, políticas, econômicas e sociais.
Algumas regiões, no entanto, receberam tratamento diferenciado – como é o caso do Egito Antigo, dos territórios setentrionais banhados pelo mar Mediterrâneo, e das áreas de expansão do islamismo a partir do século VII – áreas de maior interesse dos europeus, pela proximidade geográfica entre elas e o Velho Mundo e também pelas consequentes relações comerciais que desenvolveram desde a Antiguidade.
Apesar das diversas maneiras de se apresentar a divisão do continente africano, duas formas são mais usuais quando se levam em conta especialmente características históricas e geográficas. Uma delas é aquela que divide o continente numa chamada “África do Norte” e em outra “África Subsaariana” – usando como referência, como o próprio nome torna óbvio, o deserto do Saara. A África do Norte, também conhecida como “África Mediterrânea”, ocupa uma porção de aproximadamente um quarto do continente africano, e é uma região marcada pela influência da cultura árabe. A África Subsaariana, por sua vez, ocupa três quartos do continente e é uma região que se destaca pela multiplicidade e pela pluralidade cultural, política, religiosa, étnica e linguística.
Outra divisão bastante usual do continente africano é aquela que o destaca em cinco regiões distintas:
— Ao norte da África, encontra-se uma área que inclui parte do deserto do Saara e também a região das chamadas civilizações do Nilo – dentre elas, estão o Egito, cujos registros apontam para uma história de mais de 5000 anos, e a Núbia (750 a.C.). Também na mesma região encontrava-se o reino da Etiópia, que desde o século VI era um território cristianizado. O cristianismo chegou a esta região pelo mar Vermelho e resistiu à expansão islâmica, ocorrida a partir do século VII. As populações da região eram compostas por grupos originários da África e também por grupos oriundos da península arábica. Os seguidores do islamismo tiveram grande importância na região, propagando seus costumes e práticas a partir das expansões em direção ao oeste e leste da península arábica. Em outra região do norte da África, nos território que se estendem do atual Marrocos à Líbia, há a presença dos berberes.
— A África ocidental é a região que se estende ao longo dos rios Níger e Senegal, cujos povos habitavam áreas savana e de florestas, no período anterior ao século XV. Desta região saiu grande parte dos africanos escravizados que foram vendidos a comerciantes europeus e trazidos para a América, sobretudo a partir do século XVII. A variedade dos povos que habitavam a região pode ser observada nas diferentes línguas, práticas religiosas e costumes culturais daqueles povos. Dentre as culturas da região, destaca-se a iorubá, marcada por um caráter fortemente urbano, com destaque para a cidade de Ifé, considerada a cidade-mãe.
— A costa do Oceano Índico, ou África oriental, teve grande importância comercial pelas trocas realizadas com os países árabes e com a Ásia. Nesta região, caracterizada por um conjunto de pequenos reinos e cidades-estados, registra-se a presença da língua suaíli, que conta com forte influência do árabe.
— Na África central há a presença dos chamados povos bantos, compostos por diferentes grupos populacionais que partilham características culturais comuns – como a matriz linguística. Um grande movimento migratório, que teria durado aproximadamente 2.500 anos e se consolidado por volta do ano 1.000 d.C., fez com que metade do continente africano fosse povoado por grupos que tinham línguas formadas a partir do banto. As diferenças entre os povos bantos se refletiam na organização econômica e social: alguns dominavam a agricultura e o ferro, fazendo com que explorassem vastas regiões e expulsassem povos que tinham menos recursos para outras partes do continente; outros, embora não possuíssem a mesma estrutura econômica, compartilhavam a estrutura linguística comum.
— Na África austral, viviam os chamados povos cóisan, remanescentes das tradições de coleta e caça. Por volta do século XV, a região passou a ter grande importância comercial no contexto das rotas dos navegadores europeus que se dirigiam ao Oriente contornando o continente africano. Os zulus, que constituíram uma forte resistência contra a dominação europeia no século XIX na região, são alguns dos povos mais conhecidos desta área.
— Sahel: por sua importância histórica, o antigo Sudão é uma área que não é restrita à divisão geográfica tradicional. Localizado nas fronteiras sul e oeste do Saara, a região conhecida como Sahel é uma área de savana percorrida pelos mercadores que ligavam aquela região à área islamizada do norte do continente. Os antigos impérios de Gana, Mali e Songai surgiram na porção ocidental do antigo Sudão, mas historicamente são destacadas pelos especialistas devido às importantes organizações surgidas na região.
O caso do Sudão do Sul faz pensar em como muitas das fronteiras políticas da África atual são, direta ou indiretamente, heranças do colonialismo. As linhas retas traçadas pelos países europeus, fruto de acordos diplomáticos e violentos movimentos de ocupação, ignoraram e desrespeitaram fronteiras históricas e culturais. Desse modo, a construção de novas identidades políticas tem sido um dos grandes desafios dos estados nacionais africanos. Entretanto, as identidades culturais e étnicas não se constituem empecilhos “naturais” para construção dos estados africanos. Assim, o que comumente é denominado na imprensa ocidental como guerras ou conflitos tribais são, no mais das vezes, lutas pelo poder político e econômico que expressam tanto os interesses das elites locais quanto os dos países desenvolvidos.
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