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Aula Apreensao e Compreensao

Por:   •  13/10/2015  •  Ensaio  •  3.921 Palavras (16 Páginas)  •  597 Visualizações

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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Conteúdo: Texto e Contexto – conhecimento linguístico e conhecimento enciclopédico

A NOÇÃO DE TEXTO: questões preliminares

A palavra texto vem do latim textus e é derivada do verbo texere, que significa “tecer, fazer tecido, trançar, construir entrelaçando”. Essa etimologia, que aproxima o texto de um “tecido”, indica que o texto não é um mero aglomerado de frases simplesmente colocadas umas depois das outras. Da mesma forma que um tecido resulta do cuidadoso entrelaçamento de diversas linhas, e não de um amontoado de fios embaraçados, o texto é produto da combinação programada de palavras e frases.

Por isso, dizemos que o texto é um todo organizado de sentido, o que pressupõe unidade de linguagem e unidade de sentido. A unidade de linguagem está ligada ao que chamamos de coesão textual, que engloba todos os elementos (como pronomes, advérbios ou conjunções) que servem para estabelecer relações entre as frases, “costurando” as partes do texto. A unidade de sentido remete à coerência textual, ou seja, ao princípio de que, num texto bem montado, todas as partes estão relacionadas, sem que haja contradição entre elas.

Assim, para interpretar o sentido global de um texto, não basta entender o sentido de cada parte isoladamente: é indispensável identificar as relações entre elas e perceber que o sentido de uma se explica pelo sentido das que a rodeiam. Daí vem a ideia de que o significado de qualquer segmento de um texto não é autônomo, mas depende do contexto, que pode estar explícito em outras partes do texto (contexto interno) ou implícito na situação em que ele foi produzido (contexto externo).

Tudo o que se disse pode ser sintetizado nas seguintes máximas:

As partes de um texto são solidárias, não solitárias.

O sentido do texto (parte) depende do contexto (todo).

O slogan publicitário a seguir, extraído de um antigo anúncio de fitas cassete – citado em Introdução à Linguística II, obra organizada pelo professor da USP José Luiz Fiorin (Contexto: São Paulo, 2003. p. 217.) –, é um bom exemplo para comprovar que o sentido nasce da relação com o contexto:

GRAVE COM BASF e agudos também.

Considerando apenas o trecho “Grave com Basf”, parece que temos uma frase no imperativo – como, aliás, é bastante comum no discurso publicitário.

Assim, parece que o texto faz um apelo para que o destinatário da propaganda realize gravações utilizando a fita Basf, uma vez que “grave” é lido como um verbo. A continuação do slogan (“e agudos também”), porém, obriga-nos a reinterpretar o anúncio, pois o trecho anterior adquire outro sentido: “grave” passa a ser tomado como adjetivo, significando o oposto de “agudos”. Desse modo, o público-alvo da propaganda conclui que as fitas Basf gravam com fidelidade tanto os sons graves quanto os agudos.

Fora de contexto, portanto, a passagem “Grave com Basf” tem um sentido. No contexto, confirmando a noção de que as partes do texto são solidárias, não solitárias, o trecho adquire outro sentido, sem perder o primeiro. De fato, a expressividade da propaganda resulta de duas possibilidades de leitura: a palavra “grave” pode ser entendida tanto como um “apelo para gravar” quanto com o sentido de “som grave”. A ambiguidade, planejada, é que torna eficiente essa mensagem publicitária.

ATIVIDADES

Os desastres de Sofia

Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.

O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:

– Cale-se ou expulso a senhora da sala.

Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava1 tanto, que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera2 de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. [...]

LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977.

1 Enfurecia, desesperava.

2 Raiva.

1. Com base no primeiro parágrafo do texto e considerando que, num texto bem construído, todas as suas partes estão “costuradas”, de acordo com os princípios da coesão, aponte:

a) três pronomes que façam referência a uma palavra que só vai aparecer no segundo parágrafo. Diga que palavra é essa.

b) um pronome que retome uma palavra da primeira oração do texto. Transcreva também a palavra que está sendo retomada.

2. (Fuvest-SP – Adaptada) Do ponto de vista da coerência, existem palavras que, dependendo do contexto, podem adquirir significados diferentes. Sendo assim,

a) levando em consideração apenas o primeiro parágrafo, o que pode significar “e passara pesadamente a ensinar no curso primário”?

b) considerando o texto todo, qual o sentido da passagem “e passara pesadamente a ensinar no curso primário”? Explique sua resposta.

3. (Fuvest-SP) Quais os elementos que, no texto, exemplificam o sentido de “passei a me comportar mal”? Dois trechos podem ser citados: “Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas” e “eu respondia em desafio”.

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