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Estudo de Caso Saúde no Trabalho

Por:   •  7/2/2022  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.603 Palavras (7 Páginas)  •  299 Visualizações

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Caso sobre Saúde no Trabalho

Thales (nome fictício) é um jovem de 26 anos, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se graduou em História. Seu tom de voz é moderado, às vezes suave, e se expressa de forma coerente e lógica.

Admitido no início de 2018 para o cargo de monitor (que inclui a função de agente de visitação e vigia do parque), Thales deveria desempenhar funções como: realizar e apoiar atividades educativas junto ao público, tais como visitas monitoradas, mobilizações, oficinas, oferecer informações adequadas sobre os animais, plantas e funcionamento das diversas áreas que compõem a Fundação de Parques, entre outras funções.

Thales relata que, os serviços pertencentes ao universo de vigilância, lhe causaram danos de saúde mental.

“Eu estudei pra ser educador ambiental. Triste ilusão. Lá a gente era vigia”.

 As experiências de trabalho vividas no parque como “vigia” parecem ter impregnado a sua vida de um forte sentimento de tristeza, revolta e inutilidade, deteriorando por fim a sua saúde, motivo pelo qual foi afastado da função, com o diagnóstico de “Transtorno misto ansioso e depressivo” (CID-10: F.41-2) e “Reações ao estresse grave e transtornos de adaptação” (CID10: F.43), pelo serviço de perícia médica de sua empresa.

De acordo com seus relatos, seu processo de adoecimento teve início dois meses após ter ingressado no trabalho e parece estar estreitamente relacionado ao exercício da função de vigia, como ele mesmo afirma:

“O meu adoecimento começou dois meses depois que eu entrei. Entrei muito feliz... Agora vou ganhar um salário digno... um sonho, uma vitória. (...) Aí começo a trabalhar como vigia, desagradando e não desligava do trabalho. Penso toda hora [nisso]... ouvindo um monte de porcaria, com o sol queimando a pele toda. Tenho uma marca, [porque o trabalho me] marcou até fisicamente. Olho no espelho e lembro do trabalho. Um trabalho extremamente desagradável, fora da sua função. (...) Eu preferia um serviço braçal, que fosse... plantando alguma coisa, trabalhando numa coisa suportável... aí você vai ter dignidade, dinheiro... [mas trabalhar] o dia inteiro mandando descer pipas? [Era] Trabalho de guarda mesmo, no meio tem bandido, bêbado...”  

É possível notar que o fato de Thales ter sido obrigado a exercer uma atividade cujo fim é impedir, proibir, advertir e “cortar o barato das pessoas” é um dos fatores que lhe acarretaram muitos sentimentos negativos.

Dos cinco dias, três são de vigilância e dois são muito bons, incentivando as escolas.

“É o seguinte: você pega a escola lá embaixo na estação de tratamento, vai falar pra aquela criança, estudante, a importância da água pro planeta. “

“O que se faz na sexta-feira e fim de semana se aproxima da atividade de vigilância e inclui ação de coerção, repressão... [Pedir para as pessoas] Descer de árvores, não jogar bola em jardim, verificar se tem ou não cerol nas pipas... em julho é inferno. [...] o trabalho é uma porcaria... [tenho que ficar] chamando a atenção dos outros... não pude levar um namoro adiante porque trabalho nos fins de semana. Fico muito feliz quando eu posso ajudar. Mas quando a regra é estúpida é mais difícil você seguir. O cara [usuário do parque] tá feliz e você tem que cortar o barato do cara. E as pessoas pensam que você sente prazer com aquilo. Eles falam: “Aí ó... põem o poder na mão do cara, dá nisso aí...”. Pra mim isso é a morte! Quero que o sujeito fique numa boa, eu gosto de ver as pessoas felizes. “

Além de desempenhar uma função incompatível com os seus anseios e para a qual não foi treinado, Thales tinha de lidar também com a resistência às normas e as agressões por parte do público que frequentava o parque, elementos relacionados ao seu sofrimento no trabalho. As condições de trabalho também não eram “boas”, de acordo com Thales, pois não tinha assentos adequados e permanecia exposto ao sol por longos períodos:

“Aquele banquinho é uma bosta... (referindo-se ao banco oferecido aos agentes de visitação)... minha gerente foi muito bacana de deixar eu trazer o meu, permitiu que eu levasse o meu, que é ergonômico, é de plástico, não causa dano a mim....tem encosto pro braço e costas e nunca mais tive problemas de coluna. ...o sol [é] que atrapalha, é muito forte mesmo. Ninguém usava guarda-sol (…), eu deveria receber insalubridade...”

Entretanto, no cargo de agente de visitação, ele sente-se estimulado. Mas desempenhando atividades de “vigia”, Thales sente-se “torturado”. Atualmente, afastado do trabalho e tendo de tomar medicamentos com “tarja preta”, “coisa que nunca imaginava que ia ter que fazer”, ele expressa ansiedade e preocupação quando imagina a possibilidade de ter de retornar ao trabalho:

“Eu tive uma crise nervosa só de pensar em voltar... voltar pro inferno. Mandar o pessoal descer de árvore, xingar sem poder retrucar. Vários dos meus colegas tiveram que fazer B.O. [Boletim de Ocorrência]. Você trabalha com o “não” e não com o “encantar”, “educar”. Agora tem que tomar pipa dos sitiantes! (...) Eles estão me torturando. Tortura a mente, é uma coisa que existe...”

Ainda, Thales relata ter percebido importantes mudanças no comportamento e humor dos colegas, em função das tarefas de vigilância que desempenhavam:

“...estão acabando com o sonho dessas pessoas (colegas de trabalho), tirando o convívio social da família. Você não fez o concurso pra isso! E todos lá, de uma forma ou de outra, sofrem danos emocionais com o trabalho, uns ficam mais agressivos. Eram amáveis e hoje é difícil de conviver.”

Contrariado pela impossibilidade de se realizar e de ser reconhecido, agindo no mundo de acordo com seus valores e saberes, Thales se viu em uma situação difícil: viver o “trabalho insuportável” ou ficar “desempregado”, sentindo-se um “inútil”. Uma difícil escolha para ele, já que o trabalho em sua vida preenche uma função psicológica importante, relacionada ao processo de autoconstrução, como ele próprio afirma:

“Porque pra mim trabalho é também dignidade. O sujeito perde a dignidade quando perde o trabalho. Tenho 26 anos, porra! Você perde o poder de ser dono de você mesmo”.

Apático e com humor deprimido. Outra licença veio logo após o término da anterior e demonstra, claramente, uma evolução dos problemas de saúde e sua relação com as tarefas de vigilância que realizava no parque.

Aliás, dessa vez, Thales foi atendido por uma psicóloga do setor de perícia médica e, devido à gravidade do caso, foi encaminhado também a uma psiquiatra. O trabalhador foi afastado pela médica por um mês, com a indicação diagnóstica de “transtorno misto ansioso e depressivo” e “reações ao estresse grave e transtornos de adaptação”, como consta no relatório pericial:

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