O Diálogo Micro- Macro em Bourdieu e Giddens
Por: Thiago76 • 27/8/2020 • Resenha • 3.706 Palavras (15 Páginas) • 226 Visualizações
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Thiago de Novaes França – TIA: 71952081
Diálogo micro- macro em Bourdieu e Giddens
- Introdução
Este trabalho tem como finalidade apontar as relações positivas e negativas entre as abordagens micro e macro das teorias de Giddens e Bourdieu; mormente no que diz respeito às suas respectivas visões sobre objetivismo e subjetivismo, racional e inconsciente, determinismo e casuísmo de cada ator dentro de determinada estrutura.
Veremos que cada autor tem uma abordagem particular para compreensão e superação dos conceitos mais clássicos da sociologia, que outrora pressupunham postulados mais deterministas e racionais nas relações entre atores e o sistema social, ou ainda, mais especificamente entre as correspondências micro e macro dentro do campo social.
Giddens e Bourdieu procuram explicar como as ações dentro do sistema social podem apresentar elementos mais ou menos racionais; sendo que esta explicação toma rumos diferentes em ambos os autores: de ação-estruturação no caso de Giddens, e campo-habitus, para Bourdieu.
Em ambos os casos, trata-se de teorias bastante elaboradas, que pressupõe entendimentos primários como fundamentos para o entendimento geral, que, por sua vez, também são objetos deste trabalho.
Neste sentido, busca-se aqui expor e detalhar as diferenças de abordagem dos dois autores, enfatizando não apenas as desigualdades, liberdades e restrições de ação nas atuações dos indivíduos dentro do campo, mas também apontar eventuais afinidades em ambas as teorias.
- Individualismo e Cooperativismo nas organizações
O caráter individual das decisões sempre foi alvo das discussões sociológicas, sobretudo dentro das organizações.
O nível de capacidade de decisão, entendido como possibilidade de aplicação da racionalidade nas decisões individuais dentro das organizações, era tida por muito tempo como princípio aceito dentro da sociologia tradicional. Contudo, como nos diz Alketa Peci: existe uma clara limitação da capacidade racional do indivíduo, a partir do momento em que se colocam diversas variáveis em jogo, dentre as quais: a impossibilidade de se prever as consequências futuras das ações tomadas no presente, as predisposições culturais e de personalidade já presentes no indivíduo e, até mesmo, a hierarquia das próprias preferências. Todas elas fazem com que a maioria das decisões individuais sejam tomadas objetivando a satisfação e não a otimização. (Peci apud Simon, 2003)
A satisfação (pessoal) não necessariamente torna-se a melhor decisão, dado que a satisfação interna individual supre uma necessidade de bem-estar pessoal, contudo, não obrigatoriamente, torna-se o melhor resultado quando colocado sob um contexto externo e mais geral.
Nesta linha, surge a discussão do cooperativismo organizacional proposto por Bernard, onde as diversas variáveis existentes e dificultadoras da tomada de decisão, juntamente com os desejos internos (pessoais) do indivíduo, serão confrontados em benefício do bem geral.
No cooperativismo organizacional, o indivíduo terá que abrir mão de determinados desejos ou satisfações pessoais nas suas tomadas de decisão, certo de que será confrontado no ambiente organizacional a colocar-se de forma mais racional e objetiva e menos pessoal e subjetiva, com o risco de não ter qualquer de seus desejos internos de satisfação devidamente contemplados.
Da mesma forma, Bernard coloca que as limitações da escolha são postas pelas ações conjuntas ou não de elementos físicos, biológicos e sociais; bem como tais escolhas são feitas por fundamento de propósito. (Peci apud Bernard, 2003)
Em outras palavras, as decisões acabam por serem tomadas por impulsos momentâneos, que individualmente tomamos como oportunidades. Nota-se daí que a cooperação acaba tendo um sentido mais antagônico com relação ao conceito de organização, vez que as tomadas de decisão vão contra o propósito pessoal do indivíduo, traduzido como oportunidade.
Posto isso, conclui-se que decisões tomadas por altos executivos dentro das organizações, resumem-se em extrair do conceito cooperativo, onde parte dos indivíduos supostamente renunciam a parte de seus propósitos próprios, decisões que limitam o poder de cada um deles, mas que a priori atendem o bem geral. De outra forma, também gerenciam conflitos de interesse, instintos e propósitos conflitantes com aqueles da empresa.
- Agência e estrutura em Giddens
Antes de tudo, enfatiza-se que tanto para Giddens como para Bourdieu a busca de uma teoria sociológica própria pressupõe a busca pelo rompimento dos dualismos dentro de determinada estrutura, assim como o voluntarismo-determinismo ou objetivismo-subjetivismo. Para ele, existe um condicionamento dos agentes pelo sistema social e, está aí, justamente na transformação deste sistema, o problema da dualidade. Segundo o próprio autor, a estrutura baseia-se no conceito de regras e recursos. Em outras palavras, uma estrutura está ligada ao conceito de normatização, com capacidade de legitimação e coação frente ao agente. (Giddens, 1989)
Deste conceito de estrutura extrai-se duas concepções distintas: a primeira chamada de legitimação, com a qual subordinam-se os conceitos de sistemas e regras morais. E uma segunda, mais tácita, conhecida como de significação e dominação, referente às regras e recursos.
Sob este ponto de vista, ressalta Giddens que não há agentes independentes da estrutura, tampouco há estruturas constituídas independentemente dos atores, conceito que representa a dualidade das estruturas. Para ele, o ator é um elemento que age de maneira mais ou menos racional, buscando por meio destas ações uma alteração dentro desta mesma estrutura.
Nesta linha, igualmente importante para a discussão, configura-se o fato de que os atores, apesar de não poderem criar sistemas sociais segundo Giddens, estão recriando estruturas constantemente dentro deles. Dessa maneira, os atores (agentes) que agem dentro do sistema social, intencionalmente recriam suas configurações por meio das suas ações.
Esta racionalização está ligada à razão e justifica-se pelo monitoramento da ação, mas nunca pela autoconsciência destes agentes, conforme Giddens.
Conforme Arboleya (2013), a racionalidade de Giddens parte da subjetividade do indivíduo, recai sobre a forma de estruturação das instituições (campo de interações sociais), conduzindo então às estratégias de ação dos atores à partir de suas realidades sociais.
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