O Estudo de Caso Crash no Limite

Fernando de Werk Moraes

Crash, no limite – Comentários sob a visão humana do filme

“Crash, no limite” retrata diversos personagens das mais variadas origens étnicas e que se cruzam em uma trama “interconectada”. Os diferentes estereótipos que a sociedade criou para esses grupos raciais afeta seu julgamento, crenças e atitudes. Causando uma série de problemas e tensões para todos.

O filme coloca a prova as ações humanas considerando contextos sociais, raciais históricos e sob relações de poder. Pessoas em diferentes situações passam por testes de caráter e dignidade humana. Vemos uma dubiedade entre as ações e como observamos as personagens, em um momento tidos como vilões e, em outro, como heróis genuínos.

        As cenas dançam entre várias pequenas histórias de cada personagem. Em um primeiro momento o determinismo de Durkhein é posto à prova junto ao telespectador, mas, com o desenvolvimento da trama, o sentimento humano parece não somente depender do meio em que se está inserido.

        Algumas cenas são mais marcantes no filme pensando pela continuidade do racismo norte americano. Um policial branco racista aborda um casal de negros bem-sucedidos que, ao receberem ordem de parar seu carro são revistados pelo policial. O comportamento racista do policial e, sua visão de superioridade e dado como pretexto para o policial apalpar a mulher de maneira desrespeitosa. A cena carrega um claro desconforto e a humilhação sofrida pela negra, e por seu marido, um diretor de televisão, que se mantém sem ação ante o fato, pedindo, posteriormente, desculpas ao policial pelo comportamento que o fez ser abordado, o que o levou a parar seu veículo. Após este ocorrido o casal, em sua casa, passa por uma grande discussão pelo marido não ter realizado nenhuma ação para proteger sua esposa. O que nos mostra o racismo estrutural nesta sociedade.

Mais para frente na trama, outra cena será protagonizada pelo policial branco racista e a negra. Um acidente de carro, onde a negra teve sua vida salva pelo dito policial racista. No entanto, essa cena demostra o quanto complexa são os seres humanos, as múltiplas identidades que assumimos, haja vista que de posição racista, arrogante, ele é evidenciado, posteriormente, como um personagem dual, ou seja, de racista e arrogante, passa a herói da trama. Ao evidenciarmos a questão da alteridade e identidade, compreendemos, nesse contexto da sociedade, que a identidade cultural de cada indivíduo se apresenta de forma mutável e isso, às vezes, pode se tornar algo problemático porque esses indivíduos constituem identidades múltiplas, ocasionando diferentes processos de identificação dos indivíduos em sociedade.

Outros episódios marcantes giram em torno é de um pai (Daniel) de herança latina. Ele possui uma filha chamada Elizabeth, que se esconde debaixo da cama por ter medo das balas perdidas que escuta à noite, embora estejam agora vivendo num bairro mais seguro e urbanizado. Daniel sofre diferentes assédios em seu trabalho por apresentar herança latina. Sendo muito maltratado durante a execução de seus serviços. Situações que por vezes o fazem perder a cabeça e a paciência.

As histórias comentadas acima são apenas algumas das situações em que os personagens de Crash no limite são submetidos. Vemos uma fase ruim da evolução das sociedades atuais. Preceitos passados ainda não deixaram de sofrer influencia no julgamento ente pessoas de diferentes grupos étnicos e de raça.