O USO DA HISTÓRIA NA ADMINISTRAÇÃO: UM ESTUDO NA REDE NORDESTE DE BIOTECNOLOGIA
Por: Vanessa Pinheiro • 29/7/2020 • Projeto de pesquisa • 5.189 Palavras (21 Páginas) • 168 Visualizações
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
VANESSA PEREIRA PINHEIRO
O USO DA HISTÓRIA NA ADMINISTRAÇÃO: UM ESTUDO NA REDE NORDESTE DE BIOTECNOLOGIA
FORTALEZA – CEARÁ
2019
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as áreas da Administração e dos Estudos Organizacionais passaram a valer-se de paradigmas distintos da realidade objetiva do funcionalismo dominante (BURRELL; MORGAN, 1979). Tais perspectivas remetem a um pensar a organização não como algo já estabelecido, mas como processos abertos em constante construção (COOPER, 1976).
As análises das organizações por meio dessa expansão passam, necessariamente, por uma investigação de sua construção histórica. Esse entendimento se baseia nas discussões reunidas na assim chamada “virada histórica” (historic turn) onde a reconstrução e construção dos fatos permite que se situem as práticas de gestão de forma cultural e histórica (KIESER, 1994; CLARK; ROWLINSON, 2004; BOOTH; ROWLINSON, 2006).
No Brasil, Vizeu (2007, 2010) propôs estudos enfatizando a compreensão histórica do fenômeno organizacional e suas especificidades. Outros trabalhos relacionaram história e historiografia e estudos organizacionais (COSTA; BARROS; MARTINS, 2010), cotidiano e história (BARROS; CARRIERI, 2015); perspectivas históricas das escolas de Administração no Brasil (ALCADIPANI; BERTERO, 2014; BARROS, 2014; FERNANDES; BEZERRA; IPIRANGA, 2015), e ainda as discussões sobre a organização histórica de práticas científicas (MATOS; IPIRANGA, 2018; IPIRANGA et al., 2016).
Em particular sobre o tema da organização histórica de práticas científicas, relevam-se as discussões dos últimos 20 anos relativas à história das ciências, sobretudo, após as conjunções com as sociologias, que estabeleceram um laço estreito entre a prática dos pesquisadores e os objetos que eles produzem (LATOUR; WOOLGAR, 1986). Nesse contexto, cita-se a abordagem da Teoria Ator-Rede (TAR) (do inglês Actor-Network Theory - ANT), ou mais precisamente, Sociologia da Translação que se originou da necessidade de uma nova teoria social adaptada aos estudos da Ciência & Tecnologia (LATOUR, 2000).
No âmbito da ANT, os relatos acerca das práticas científicas que acontecem nos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P & D), têm como objetivo traçar, detalhadamente, um conjunto de relações, definidas como translações, entre um contexto político social e um conteúdo técnico. Para Latour (2001) as translações entre os diferentes e variados atores em redes são forças ativas que moldam especificas constituições do social. Os autores sugerem, portanto, seguir os cientistas e engenheiros em ação, acompanhando suas histórias sinuosas, descrevendo, as redes de atores envolvidos na construção das práticas científicas (LATOUR, 2000, LATOUR; WOOLGAR; 1986).
Contudo, Durepos e Mills (2012) afirmaram que a ANT ao descrever o organizar das redes de translações entre os atores, manteve-se, relativamente, em silêncio a respeito da constituição emergente do passado. Os autores propuseram a abordagem da ANTi-história, baseada na teorização crítica do assim chamado sócio-passado (socio-past) no qual se enfatiza a constituição do passado no organizar das redes de translações entre os atores e de como estes se envolvem ao fazer história (DUREPOS; MILLS, 2012).
Tendo como base estas discussões, duas questões guias serão consideradas nesta pesquisa, entre estas: como se organizaram as redes de translações relativa à prática científica sob estudo? Quais relatos caracterizaram as tramas do socio-passado? O objetivo da pesquisa será: Resgatar a trama do sócio-passado (socio-past) no organizar das redes de translação relativas à uma prática cientifica que será identificada em laboratórios de P & D, vinculados à Rede Nordeste de Biotecnologia - RENORBIO.
Os objetivos específicos serão: a) Historicizar uma prática científica do Laboratório de P & D sob estudo, tendo como base a totalidade histórica da biotecnologia enquanto ciência; b) Identificar e mapear as redes de atores atuantes na prática cientifica sob estudo; c) Descrever os efeitos dessas análises históricas no organizar das redes de translações no contexto dos laboratórios sob estudo, assim como no contexto da RENORBIO e de suas relações com os mercados; d) Construir um acervo histórico a partir dos materiais e documentos levantados nos diferentes arquivos e coleções acerca da ciência da biotecnologia, assim como nos laboratórios da RENORBIO sob estudo.
O campo empírico do presente projeto de pesquisa será constituído pelos laboratórios de P & D, centros de pesquisas, instituições, parques tecnológicos e empresas vinculadas à Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO). Nesse contexto serão selecionados um laboratório e uma prática científica que serão considerados o principal foco de análise da presente pesquisa. Serão formulados alguns critérios para a identificação e seleção da prática científica, entre estes, a prática sob estudo deverá ter um valor histórico. Com foco no Nordeste, a ideia para a criação da RENORBIO foi estabelecer e estimular a massa crítica de profissionais na região, com competência em Biotecnologia e áreas afins, para executar projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P & D & I) de importância para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro (RENORBIO, 2012; MACHADO; IPIRANGA, 2013).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A VIRADA HISTÓRICA (HISTORIC TURN) NA ADMINISTRAÇÃO E A ANTi-HISTORY
Segundo Kieser (1994) estudos com viés histórico em gestão e teoria organizacional já existiam na segunda metade do século XX. Contudo, as últimas décadas foram testemunhas da abertura de novas perspectivas em Estudos Organizacionais, mais especificamente do surgimento e desenvolvimento de teorias críticas que mitigaram o caráter a-histórico das organizações (BOOTH; ROWLINSON, 2006).
Esta virada histórica (historic turn), movimento que busca promover o diálogo entre as ciências humanas e as teorias da gestão e da organização, vem ganhando espaço nos debates acadêmicos dos últimos anos (BOOTH; ROWLINSON, 2006; JACQUES, 2006). Clark e Rowlinson (2004) colocaram que:
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