O segredo de Luísa
Por: Larissa Barbuda • 30/4/2017 • Trabalho acadêmico • 2.673 Palavras (11 Páginas) • 278 Visualizações
O segredo de Luísa
Luísa Vianna Pinheiro, 20 anos moradora da cidade de Ponte Nova, Minas Gerais, filha de Maria Helena Vianna e Geraldo Pinheiro, fazia odontologia na Universidade Federal de MG em Belo Horizonte. Era uma filha adorada! Era feliz e tinha muitos sonhos. Mas Luísa não queria ser dentista. Esse era apenas um desejo de seu pai. Luísa nunca se deu bem na escola, não se interessava pelos estudos. O que gostava mesmo era de ficar na loja de sua tia madrinha Fernanda, o famoso Sereia Azul. Lá, Luísa atendia os clientes e os encantavam com sua esplêndida beleza. Isso, quando não estava nos fundos do estabelecimento executando seu hobby: cozinhar. O Sereia Azul era uma loja multifuncional, vendia de tudo e era palco de muitas rodas de conversa. Tia Fernanda, sempre solteira, fora a única empresária da família, e Luísa a admirava muito por ter esse espírito empreendedor e por ser tão independente.
Além de ser fazendeira e empresária, tia Fernanda era dona de um dote culinário espetacular, fazia a goiabada-cascão mais gostosa do Brasil, e os únicos que podiam se deliciar com essa divindade eram os amigos ou os viajantes. Maria Helena, Geraldo e toda família estavam satisfeitos com Luísa, que em breve iria se casar com rapaz honesto, trabalhador e de boa família de Ponte Nova: Delcídio. Depois que se mudou para Belo Horizonte em virtude da faculdade, percebeu que a goiabada-cascão de Ponte Nova era muito famosa e se orgulhava disso. Orgulhava-se mais ainda quando sabia que sua tia madrinha fazia a melhor da região. Apenas uma noite, foi o que Luísa precisou para perceber que a goiabada-cascão era um produto poderoso e famoso, mas, inexistente no mercado. Depois daquilo, Luísa não conseguia tirar as ideias que tinha, de montar uma indústria de goiabada, da cabeça. Chegou até a imaginar a embalagem do produto e criar o nome de sua fábrica. Luísa estava muito confiante em sua ideia. Resolveu então ir a Ponte Nova, pra contar a sua tia madrinha Fernanda, pois era a única que poderia entender seus pensamentos. Chegando lá, Luísa fora correndo para o Sereia Azul encontrar sua tia. E lhe contando a história de que, ser dentista não era seu sonho, mas apenas de seu pai, Fernanda ficou admirada com tanto entusiasmo, mas achando aquilo tudo um absurdo. Chegou a falar que Luísa era doida. Mas Luísa já sabia que essa seria a reação de sua tia, então estava tranquila. Começou a fazer perguntas de como a tia conseguira montar o Sereia Azul, quais as dificuldades que passara. Então, Luísa disse que já estava tudo planejado, que até já pensara na embalagem do produto e no nome da empresa. E revelou que a empresa se chamaria “Goiabadas Maria Amália” em homenagem a avó. Fernanda ficou feliz, mas logo lembrou que sua mãe Maria Amália, já falecida, deseja muito em ter uma doutora na família. E disse a Luísa o que lembrou. Depois disso, uma nuvem negra encobrira a cabeça de Luísa, que ficou surpresa pelos dizeres da tia. Passaram a noite inteira conversando, chegando a surpreender a tia. Mas, uma sugestão de Fernanda, Luísa deveria seguir: terminar o curso de odontologia. Assim seria mais fácil de convencer seus pais da nova ideia. Uma dica que a tia deu a sobrinha foi de procurar pessoas que entendiam de negócios tirarem dúvidas e aconselhá-la. Logo lembrou que um colega da universidade havia lhe falado de um professor de computação que havia criado uma disciplina de empreendedorismo. E quando voltasse para Belo Horizonte iria procurá-lo. Chegando em BH, feliz e sorridente, passou em uma mercearia e resolveu comprar alguma goiabada para experimentar. Comprou pacote com 1 kg, pois era a única embalagem menor, e resolveu fazer um teste com sua irmã Tina que morava com ela. Chegando a casa, disse que tia Fernanda que tinha mandado, e levando a goiabada a boca, logo a cuspiu dizendo que a tia tinha feito aquela goiabada com goiaba estragada. Então, Luísa se sentiu preparada para contar tudo a Tina. Tina se sentiu lisonjeada por Luísa confiar nela. No outro dia, estavam lá, Luísa na antessala do professor da universidade, alguns minutos antes do horário marcado. O professor Pedro lhe recebeu, e ficaram conversando por mais de duas horas. Mas, ao invés de suas perguntas serem respondidas, o professor é quem fazia mais perguntas. Muitas perguntas Luísa não soube responder, como pro exemplo, quais revistas sobre o assunto ela lia, o nome de três concorrentes, quem seria seu fornecedor e etc.
Luísa jamais havia pensado em todas aquelas coisas, e percebeu que o universo dos negócios era bem maior do que imaginava. Pedro também disse a Luísa, das dificuldades que passa um empreendedor para abri uma empresa. Falou de muita dedicação e tempo. E Luísa logo imaginou como compatibilizaria seus estudos com a empresa. Professor Pedro lhe deu várias sugestões como por exemplo fazer pesquisas para saber como estavam as condições do mercado naquela época, fazer um estudo de viabilidade financeira, como seria o processo de produção do seu produto entre outras. Ele também sugeriu que Luísa arranjasse um “padrinho”, um empresário que pudesse ajudá-la nos relatórios e outras informações necessárias que somente um empresário saberia lhe fornecer. Também sugeriu que procurasse órgãos de apoio como o SEBRAE, a Federação das indústrias e o Instituto Euvaldo Lodi.
Luísa, então, suspirou e disse que sem dúvida a odontologia e o casamento eram mais fáceis. O professor Pedro entregou a Luísa um material que a ajudaria, seria sua base. E a primeira tarefa descrita nesse material era fazer um plano de negócios. Nessa altura, Pedro e Luísa já eram super amigos e ela sempre levava um pote de goiabada, que sua tia Fernanda fizera, para ele comer. E ele adorava. Cada vez mais, Luísa se dedicava a sua futura empresa, e acabava se ausentando de sua família, que sentia muita falta e principalmente seu noivo, que já se desesperava pensando que Luísa amava outra pessoa. Na verdade, Luísa não sentia mais saudade de Delcidio e a Odontologia era apenas um obstáculo em sua vida. Nesse meio tempo, Luísa descobrira a Internet, uma ferramenta que foi essencial, e também um software chamado MakeMoney, indicado pelo professor, que a ajudava a registrar dados e planejar. Luísa pensou em tudo: clientes, fornecedores, concorrentes, como vender, pra quem, a quantidade, o preço, impostos, gastos e lucros. Ela já tinha uma visão mais adulta de negócio. Agora, Luísa precisava de um consultor e logro lembrou-se de um grande amigo seu: Eduardo, que era consultor em administração. Conversando, Eduardo percebeu que Luísa tinha pensamentos razoavelmente estruturados, mas que havia esquecido alguns detalhes como produção, empregados e controle. Luísa ainda o apresentou um texto e que ficou surpreso. No texto continha a missão da empresa, o produto, a fábrica e o fluxo de produção. E ainda uma folha cheia de nomes endereços e telefones que era sua rede de relações: pessoas que poderiam a ajudar a criar a empresa. Eduardo ficou impressionado com tamanha organização. Começaram então o trabalho. Viram tudo da parte financeira, da parte de marketing, o produto, os serviços, os clientes, qualidade e custo de fabricação, certificados de qualidade, entre outros fatores. Mas, o que mais Luísa observou, foram os olhos de Eduardo, que brilhavam muito. Sentiu um ar conquista e de desejo. Estava impressionada com aquele jeito. Continuando a conversa falou sobre fluxo de caixa, administração, organograma da empresa e investimentos. Agora, Luísa estava pronta para começar a elaborar o plano de negócios.
Ao final da conversa, Eduardo convidou Luísa para tomar sorvete, cujo pedido foi recusado, pois Delcídio iria chegar a BH. A vida de Luísa estava um caos. Sumida de Ponte Nova, seus pais e toda cidade sentia sua falta.
Toda família já sabia das ideias de Luísa sem que ela percebesse, e se reunião todas as noites pra planejar algo que a fizesse desistir daqueles sonhos que julgavam malucos. Delcídio estava com medo de perde sua amada e ao mesmo tempo de ser traído. Eram férias de julho e Luísa resolveu ir a Ponte Nova. Mal ela sabia que o plano da família iria de concretizar. Naquele dia, todos se reuniram na casa do senhor Geraldo e da dona Maria Helena.
Luísa ficou surpresa quando avistou ali o dentista da cidade, o Dr. Luís, e ficou mais surpresa ainda quando ele a convidou para trabalhar em sua clínica após o término do seu curso. E seguindo, senhor Geraldo falou do apartamento em Palmeiras e a viagem ao Caribe em lua de mel. Ela fingiu estar emocionada e correu para seu quarto. Os familiares sentiram-se vitoriosos e Delcídio não conseguia conter sua alegria. No outro dia, na mesa do almoço, Maria Helena mencionou sobre o enxoval de Luísa, que se fez de uma enxaqueca para voltar a BH. Voltando a conversar com o professor Pedro contou tudo o que aconteceu em Ponte Nova e sua sugestão foi o que Luísa precisava ouvir: não desista.
Luísa havia levado todos os papéis e todas as informações que conseguiu. Então só faltava começar o plano de negócios. Luísa ainda não havia escolhido o padrinho e então Pedro resolveu se intrometer e escolhê-lo. Seria um grande empresário de Barreiro, dono da fábrica de biscoitos Santa Luzia. Seu nome era André. Chegando a recepção, foi lhe servido um cafezinho, pois seu André estava em uma ligação. Demorou quase cinquenta minutos, quando finalmente foi chamada. E finalmente conheceu o tão esperado futuro padrinho.
Conversaram muito e André acabou se encantando com a iniciativa de Luísa e aceitou ser seu padrinho. Finalmente começou seu plano de negócio, utilizando o MakeMoney. Primeiro averiguou a ordem das tarefas do seu plano e logo após um resumo das ameaças e oportunidades, que era a análise de mercado. Depois, iria ter que sair e fazer pesquisas dos concorrentes, fornecedores e clientes. Adquirir números sobre preço de custo e de venda, lucro, matéria-prima, condições de pagamento e recebimento, prazo de entrega, o gosto da clientela, faixa etária do cliente final e inda os revendedores e distribuidores. Depois de toda pesquisa, lançara os dados no plano. Com todos esses dados, Luísa pode calcular o potencial de vendas, o seu faturamento. Logo após, iria trabalhar na área de marketing: como seria a embalagem do seu produto, como iria divulgá-lo e como colocaria seu produto em teste. Pensou em tudo: estratégia de preço, de distribuição e de comunicação. Pronto! Luísa já podia visitar seu padrinho novamente, pois já tinha seu plano de negócios na mão.
Mas, já era novembro, e haveria uma grande festa em Ponte Nova em comemoração a 90 anos de nascimento da vovó Mália. E com certeza ela iria para lá. Aproveitou e convidou professor Pedro, que estava doido para conhecer a moça que fazia a melhor goiabada-cascão da cidade – tia Fernanda. Chegando pra o almoço, Pedro se encarara com Fernanda, e ela com ele. Os dois se apaixonaram. Mas em seguida, voltaram para BH. Luísa precisava ver André. Mostro-lhe tudo o que fizera, e foi tudo aprovado. Só faltava agora o estudo de viabilidade financeira. Ainda conversaram sobre sociedades e parcerias. Recebeu todas as informações necessárias para o estudo e seguiu em frente. Eduardo bateu a sua porta e Luísa o atendera fervorosamente. Os dois se abandonaram em profundos olhares e descobriram que eram um para o outro. Já eram provas finais na universidade, e os preparativos para a formatura já era iniciados, e Luísa preocupada com sua futura empresa. Foi escolhida a oradora da turma, e no dia da formatura, inventou e improvisou as falas. Aproveitou que a família estava reunida para desfazer seu noivado com Delcídio e apresentá-los Eduardo. Foi um choque para todos. Dona Maria Helena até ficara com dores de cabeça. Na terceira semana de dezembro, voltara para Belo Horizonte e retomara seu trabalho. Fez o estudo de mercado e já podia fazer as estimativas de quantidade de vendas e preço unitário. Luísa tinha um segredo, ajudava com seus serviços gratuitos uma instituição que abrigava crianças abandonadas, e logo, com suas saídas frequentes, Eduardo começou a desconfiar de Luísa. A seguiu e descobriu toda a verdade. Ficou magoado com si próprio por não ter confiado em Luísa. Ela ficou muito chateada, mais ia seguindo a vida. Retomando seu trabalho, Luísa começou a fazer seu plano financeiro: despesas operacionais, gastos, investimentos fixos e capital de giro. Verificou qual seria o investimento inicial, estoque de materiais, custos fixos mensais, suporte de vendas a prazo, e o investimento inicial. Chegou a conclusão um demonstrativo de resultados, a apuração do preço de venda, os impostos e contribuições, os produtos vendidos, a mão de obra e os materiais diretos. Concluíram os estudos analisando as despesas gerais, os seguros, as depreciações, o imposto de renda, o lucro e o fluxo de caixa. Luísa estava pronta. Tinha todos os dados que precisava, o quanto de investimento e o quanto de lucro iria obter com sua indústria. Ficou surpresa com o valor do investimento, que era bem maior do que imaginava. Levou toda papelada para o padrinho examinar.
Luísa não havia bens que pudesse vender ou empenhorar. Então a única solução para a empresa nascer seria uma sociedade. André indicou três amigos que Luísa poderia consultar e pedir sociedade. Encontrou um chamado Romeu Neto, dono de uma indústria de compotas, que a ofereceu suas instalações e equipamentos e em contra partida, Luísa o pagaria R$ 0,05 por unidade produzida. O contrato foi assinado e sua fábrica começou a produzir.
Com o tempo, os produtos das “Goiabadas Maria Amália Ltda.” começaram a ser exportados e Luísa começou a ter sucesso. Sua família se orgulhara muito, pois fora perseverante e inteligente. Agora, Luísa era uma das indicadas para o Prêmio de Empreendedor Global pela GMA. E o grande prêmio, entregue pelas mãos do governador de Minas Gerais, foi para: Luíza Vianna Pinheiro, que aos 26 anos se tornou um símbolo de sucesso para os brasileiros. E para finalizar, Luísa discursou: - Para o empreendedor, o ser é o mais importante do que o saber. A empresa é a materialização dos nossos sonhos. É a projeção da nossa imagem interior, do nosso íntimo, do nosso ser em sua forma total. O estudo do comportamento do empreendedor é fonte de novas formas para a compreensão do ser humano, em seu processo de criação de riquezas e de realidade pessoal. Sob este prisma, o Empreendedorismo é visto também como um campo intensamente relacionado com o processo de entendimento e construção da liberdade humana...
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