Psicodinâmica do Trabalho: contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho
Por: Rafaela Gomes • 14/10/2015 • Resenha • 860 Palavras (4 Páginas) • 1.530 Visualizações
Resumo do Capítulo 1 da obra: DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do Trabalho: contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho - São Paulo: Atlas, 1994.
Capítulo 1 – A CARGA PSÍQUICA DO TRABALHO
Durante o desenvolvimento desse capítulo Dejours descreve as “ideologias defensivas” e para isso utiliza o caso do subproletariado, que é definido como aquele que habita as zonas periurbanas. Essa população é caracterizada pelo o não-trabalho ou subemprego, onde a miséria traduz o pensamento social dominante na época (século XIX), mas não dá conta da vivência partilhada pelos homens do subproletariado. A autora descreve toda estrutura familiar no qual se inseri o subproletariado, onde as principais características são: grande número de filhos, entre 8 a 10 filhos; casais frequentemente separados, jovens pouco escolarizados e posteriormente marginalizados, crianças de baixa estaturas e desenvolvimento precário, além de uma alta incidência de doenças entre os mesmos.
A respeito da relação da doença com o trabalho, é notória a “vergonha” do subproletariado quando apresenta alguma patologia, quando o mesmo se recusa a buscar ajuda médica, no sentido de que, o médico revele diversas patologias, antes desconhecidas por eles, que quando diagnosticadas afetam o ânimo do subproletariado, tornando-o vulnerável as doenças.Para exemplificar eles citam a seguinte frase: “quando a gente está sem ânimo, a gente não pode sarar”. Para essas pessoas “sarar” é somente não sofrer, seja quando o sintoma de enfermidade desapareça ou que se consiga domesticar a dor.
Dessa forma, deve-se avaliar, também, a condições financeiras precárias nas quais eles sobrevivem, pois a negação ao tratamento médico refere-se, também, ao medo de tornarem-se incapazes de realizar o trabalho, porque o corpo é seu principal instrumento de sobrevivência. É notório que o trabalho atravessa profundamente a vivência da doença, a tal ponto que a falta de trabalho torna-se um sinônimo de doença. Portanto, a ideologia da vergonha erigida pelo subproletariado não visa à doença como tal, mas a doença como impedimento ao trabalho.
Relata-se, durante o capítulo, sobre a função da ideologia defensiva e quando analisamos sua finalidade percebemos que consiste em manter à distância o risco de afastamento do corpo ao trabalho, e consequentemente, à miséria, à subalimentação e à morte. Quando essa ideologia defensiva falha, a ansiedade relativa à sobrevivência, que antes era compartilhada de forma coletiva, passa a ser individual, o que acarreta diversas consequências, entre elas o alcoolismo.
Logo depois, Dejours escreve sobre “Os mecanismos de defesas individuais contra a organização do trabalho”. Nesse momento, ele cita o trabalho “taylorizado” que é caracterizado pela organização extremamente rígida, o objetivo desse sistema é o aumento da produtividade. Por isso, ele considera como “vadiagem no local de trabalho” não só os momentos de repouso do trabalhador, mas, também, as fases em que o trabalhador diminui o ritmo de trabalho. Essa redução de ritmo refere-se à estratégia defensiva individual, na qual a relação homem-trabalho regula-se a fim de assegurar a continuidade da tarefa e a proteção da saúde do trabalhador.
Com a operacionalização do trabalhador, rígida hierarquização e extrema vigilância, o trabalho “taylorizado” influencia muito mais a divisão entre os indivíduos do que a união. Por esse motivo, uma vez desestruturada a coletividade operária e quebrada a livre adaptação da organização do trabalho às necessidades do organismo, só restam corpos desprovidos de toda iniciativa, conhecidos como “operários – macacos de Taylor”, que eram treinados, com o objetivo de condicionar a força potencial,que não mais possuíam, com a forma humana. Sendo assim, o próprio Taylor anuncia: “a multiplicação das relações operário-empregador vem acompanhada de uma simplicidade em conceber o homem ao trabalho”.
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