SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DO TRABALHO
Por: fbr2020 • 7/2/2021 • Artigo • 3.990 Palavras (16 Páginas) • 201 Visualizações
SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DO TRABALHO
O que é trabalho? Para que existe o trabalho? Quem inventou o trabalho?
O estudo do significado atribuído ao trabalho permite verificar que o trabalho assume para cada indivíduo um significado, uma função, relacionada aos seus desejos e necessidades, o que o transforma, portanto, em instrumento para a realização das pessoas. Verifica-se que à medida que o trabalho consegue cumprir sua função, ou seja, quando é provido de significado para o indivíduo, há um sentimento de gratificação e prazer, o que leva à reflexão sobre a importância desses estudos, cujos resultados beneficiam: 1- os profissionais, pois as investigações levam a questionar-se e, portanto, à busca de maior conhecimento dos próprios desejos e necessidades, com conseqüente envolvimento com as atividades mais significativas; 2- as empresas, que podem buscar maior ajuste entre os objetivos organizacionais e as expectativas dos indivíduos, resultando em qualidade e produtividade.
No contexto empresarial, podem-se observar trabalhadores que, muitas vezes, mostram-se insatisfeitos com o próprio desempenho e principalmente com o próprio trabalho, apresentando comportamentos que indicam desânimo, apatia, doenças. Por outro lado, é possível deparar-se com profissionais que estão buscando algo, implementando ações no sentido de enriquecer suas atividades e a carreira, demonstrando entusiasmo, iniciativa, criatividade e envolvimento. Se para os primeiros o trabalho pode ser visto como um fardo, reduzido a atividades a serem executadas, para os últimos o trabalho parece ter a conotação de algo enriquecedor, motivante, enfim, uma fonte de prazer.
A análise desses comportamentos remete ao conceito de motivação e satisfação no trabalho. A motivação é uma energia direta e intrínseca, ligada às próprias necessidades humanas e ao significado e à natureza do próprio trabalho realizado. A satisfação é uma energia indireta ou extrínseca, ligada a aspectos como salário, benefícios, reconhecimento, chefia, colegas e várias outras condições que precisam estar atendidas – fundamentalmente a partir da ótica do empregado – no ambiente de trabalho. Se a motivação e a conseqüente forma de ver e atuar no trabalho estão relacionadas ao significado que o indivíduo atribui ao mesmo, qual seria esse significado?
Como atividade humana o trabalho existe para satisfazer tanto as necessidades básicas (alimento, abrigo) quanto complexas (lazer, crença, autorrealização). Há diferentes concepções de trabalho as quais são baseadas nos valores de cada sociedade, no modo de organização do trabalho (intelectual, manual, braçal, mecânico, voluntário), e pelas diferentes formas da sua relação com as outras esferas da vida. As concepções de trabalho historicamente desenvolvidas pelos teóricos nas diferentes sociedades contribuem para o entendimento de trabalho na sociedade atual.
Na linguagem comum a concepção de trabalho remete a ocupação, ao exercício de uma profissão, posição social, salário, renda, sobrevivência. Pode ser relacionado a voluntariado, a atividades prazerosas, fardo, aborrecimento, constrangimento. O trabalho tanto pode estabelecer vínculos de convívio, de amizade e de relação interpessoal quanto desenvolver a autonomia, a auto-estima por meio da realização pessoal, concretizando sonhos. Pode ser uma maneira de ocupar o tempo e inclusive tornar-se um vício, causando doenças
Nas Línguas Românicas a palavra trabalho é encontrada desde o século XII. No dicionário Houaiss (2001) o verbete trabalho inicia-se com esforço incomum, luta, faina, lida, palavras que guardam a idéia de algo pesado, difícil, exigente. No dicionário Michaellis (1998) o termo está relacionado ao exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa; é ocupação em alguma obra ou ministério; é a aplicação da atividade humana a qualquer exercício de caráter físico ou intelectual. Significa também algo custoso, difícil, cansativo, e aquilo que não é fácil de fazer é entendido como trabalhoso; quem se encontra em dificuldades está passando trabalho. Esses entendimentos remetem às associações primitivas do termo à sua etimologia.
Etimologicamente a palavra trabalho provém dos vocábulos latinos tripalium e tripaliare. O tripalium era um instrumento utilizado pelos agricultores para bater os grãos de trigo para abri-los e as espigas de milho para separá-las dos grãos. Composto de três (tri) paus (palus) aguçados, algumas vezes munidos de ferro nas pontas, o tripalium foi concebido originalmente ou posteriormente transformado em objeto para causar dor e sofrimento a prisioneiros e escravos. De tripalium derivou-se o verbo tripaliare que significa torturar alguém no tripalium. Essa concepção remete a um sentido depreciativo da atividade trabalho, relacionado à dor e aflição, a tormento e à agonia.
Os textos religiosos corroboram para o sentido negativo do trabalho na passagem em a mulher é sentenciada ter seus filhos em meio a dores, no trabalho de parto, e o homem que verterá o suor do seu rosto para se alimentar de pão. Por outro lado em João 5:17, Deus também trabalha; com sentido positivo encontra-se o trabalho como fator espiritualizante do homem, em Provérbios 31, 10-31 em que Deus elogia o trabalho e censura a preguiça; em Tiago 5:4 prescreve o salário justo; em Lucas 10:41 exige descanso, corrige a obsessão pelo trabalho desaprovando o trabalho-idolatria, a torre de Babel.
Nas sociedades primitivas de caçadores, coletores, agricultores e criadores, o trabalho estava associado às festas, às artes, aos ritos e mitos, ao sistema de parentesco, aos costumes, à tradição, à subsistência. Contendo um sentido em si mesmo, como um esforço complementar ao trabalho da natureza, o trabalho integrava o conjunto das outras tarefas, permeando a vida social, econômica, política e religiosa, ligado a manifestação cultural.
Na sociedade greco-romana sob influência filosófica, o conceito de trabalho se assentava na dicotomia: liberdade e sujeição. Livre era o indivíduo que dispunha de pessoas que trabalhavam para e por ele; a liberdade estava intrinsecamente ligada à autonomia dos meios de sobrevivência, à ociosidade, à atividade intelectual implementada por meio da práxis, a prática do discurso na vida pública, em que só se utilizam os objetos e as coisas produzidas pelos outros. Por outro lado, a sujeição do indivíduo ao esforço físico no ato de trabalhar a terra e o de fabricar coisas, distinguidos entre labor e poiesis, atividades relacionadas à sobrevivência, condenavam o indivíduo a uma vida cativa e como tal eram desprestigiosas remetendo à idéia do trabalho como uma atividade desqualificante.
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