A Crítica Da Modernidade Em Meu Tio, De Jacques Tati
Por: Mikaele25 • 14/12/2023 • Resenha • 1.413 Palavras (6 Páginas) • 47 Visualizações
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Resenha
A crítica da modernidade em Meu Tio, de Jacques Tati
(TATI, Jacques. Meu Tio (Mon Oncle). França, 1958)
Luis Fernando Tosta BARBATO1
Jacques Tati, cineastas francês, criador do célebre Monsieur Hulot, trouxe em 1958 o filme Meu Tio (Mon Oncle), que retrata o cotidiano de uma França recém-saída dos difíceis tempos de guerra e que se via envolta em um processo de modernização e industrialização.
Nesse cenário, podemos encarar o filme Meu Tio, de Jacques Tati como uma crítica à chamada modernidade que invadia uma Europa em reconstrução no pós-guerra, marcada pela influência dos Estados Unidos em diversos campos, como na arquitetura, na decoração, e no próprio estilo de vida do povo francês desse período. No filme de Tati, fica claro esse avanço da modernidade sobre o que pode ser considerado como tradicional francês, o que não significa que a França ainda não "modernizada" pelo American Way of Life deixou de existir, ela está lá, barulhenta, cheia de cores, cheia de vida, desorganizada, bem ao lado dessa França moderna, que se prepara para a industrialização, a padronização e as cores sóbrias da modernidade.
Logo na primeira cena, esse embate entre o arcaico e o novo se faz evidente, uma vez que mostra cães se divertindo em meio à desordem da parte velha da cidade, na qual impera o ócio (como podemos ver no varredor de rua que nunca consegue fazer seu serviço, ou no feirante que senta em um café e deixa sua barraca sozinha, não se importando para as consequências financeiras disso), a informalidade, a confusão, o canto dos pássaros, e a humanidade. No entanto, logo eles atravessam uma ruína que serve de nítida fronteira entre esse mundo tradicional e um mundo moderno, marcado pela impessoalidade, pelo trabalho, pela sincronia e pelo ruído das máquinas.
Tati no decorrer do filme nos dá uma série de elementos que mostram sua percepção de uma modernidade que desumaniza as pessoas, a começar pela arquitetura desse mundo além das ruínas. Essa "cidade moderna" é retrata com uma arquitetura
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1 Doutorando em História pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: lfbarbato@gmail.com
extremamente fria, sóbria, sem vida, o que reflete as almas dessa parte da população (retratada na família Pichard, da qual falaremos mais tarde) que vivo sob o signo da modernidade.
Os prédios seguem todos um mesmo padrão: formas de caixotes colocados sobre vigas, feitos em concreto armado, sem pintura, na qual abundam o vidro e as vigas metálicas, pontos característicos da arquitetura moderna. Todas as construções parecem ser iguais no filme, a escola, a casa da família Pichard, a indústria Plastac, a rodoviária... todas seguem esses mesmos padrões da arquitetura moderna, retratada no filme como desprovida de humanidade.
Essa perda da humanidade, em prol do serial, do industrial, do artificial aparece em cenas como a que retrata o modo como todos dirigem sincronizados seus carros de modelos parecidos, na vaga demarcada na qual Charles Pichard estaciona precisamente seu veículo, ou no chafariz da casa dos Pichard, que é ligado de acordo com a importância social do visitante, o que mostra que essa modernidade que chegava homogeneizava somente aqueles que dela faziam parte, estando aqueles que não compartilhavam de seus preceitos alijados e inferiorizados (o vendedor de frutas, a vendedora de tapetes a qual a vizinha foi confundida, ou o próprio Hulot, considerado um representante do lado de lá das ruínas, e portanto, um invasor incômodo, são exemplos que atestam isso, uma vez que não vale a pena ligar o chafariz para eles).
Nesse sentido, de perda da humanidade dentro dessa vida moderna, a casa da Familía Pichard é um exemplo dentro do filme. Assim que chega ao seu portão, o convidado escuta o ruído de um portão automático, o que já o antecipa ao mundo em que ele está penetrando, marcado por ruídos e objetos automáticos. Depois que penetra nesse ambiente, esse convidado se depara com um típico jardim moderno, marcado por formas geométricas, pouca vegetação e caminhos que conduzem o transeunte por onde o arquiteto pensou que ele deveria caminhar, tolhendo mais uma vez sua espontaneidade, vale ressaltar que esse jardim, apesar de belo, não é agradável ao estar, não há cobertura vegetal, estando seus frequentadores expostos ao sol e a um irritante barulho do chafariz que o tempo todo assola (pelo menos daqueles que merecem) os ouvidos daquele que ali estão. A própria casa, feita em forma de caixote, em concreto armado e de cores muito sóbrias, também mostra esse vazio da modernidade. Muito ampla, e pouco mobiliada, ela nos passa a percepção de ser um lugar voltado para as
aparências, uma vez que é projetada para ser vista, e não desfrutada. Prova disso está nos seus móveis, escolhidos pelas cores e pelo design, e não pelo conforto, desta maneira, as cadeiras são bonitas, mas baixas e desconfortáveis, o sofá idem, e o divã, para se tornar um pouco mais confortável e apto ao sono, deve ser tombado. Além disso, vale ressaltar os ruídos frequentes que assolam a casa dos Pichard, provocados por todo o aparato tecnológico que a casa possui. Apesar de repleta de cores, presentes nos móveis da casa, e de aparelhos que na teoria deveriam ajudar na vida cotidiana, a casa dos Pichard é fria e sóbria, passando a sensação de que as sensações visuais e a ostentação econômica devem prevalecer sobre tudo, inclusive sobre a concepção de lar como um lugar de descanso, conforto e paz.
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