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A TEORIA E PRÁTICA DA RESTAURAÇÃO

Por:   •  27/9/2021  •  Trabalho acadêmico  •  5.375 Palavras (22 Páginas)  •  131 Visualizações

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TEORIA E PRÁTICA DA RESTAURAÇÃO

Raquel Diniz Oliveira

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

raqueldo@gmail.com

Resumo

Este artigo abordará as idéias de restauração e conservação de bens históricos e culturais, a

partir de alguns doutrinadores que as ilustram. Posteriormente, utilizar-se-á este substrato

teórico para discussão das decisões ocorridas na prática, a partir de um caso empírico. Por

fim, pretende-se destacar a inter-relação entre os diversos temas discorridos no texto.

Palavras-chave: Restauração. Conservação. Patrimônio histórico e/ou cultural.

Abstract

This paper focuses on the idea of restoration and conservation of historical and cultural goods,

based on some author specialized in this subject. Later, this theoretical substratum will be

used for discussion of the decisions happened in practice, starting from an empiric case.

Finally, it is intended to explore the interrelation between these themes.

Keywords: Restoration. Conservation. Historical and/or cultural heritage.

INTRODUÇÃO

O termo preservação1 consiste na ação que visa a garantir a integridade e a perenidade

de algo, como, por exemplo, um bem cultural. Um dos instrumentos de preservação é a

restauração, intervenção que tem por escopo assegurar, de forma eficaz, um produto da

atividade humana. Pode-se, ainda, destacar a conservação, como medida de preservação

periódica ou permanente que pretende conter as deteriorações logo em seu início. A

conservação e restauração são termos interligados, o que justifica sua análise conjunta neste

trabalho. Desta forma, escolheu-se para análise o caso da restauração do Paço Imperial, na

cidade do Rio de Janeiro. Ademais, não há como avançar no estudo das intervenções

1 Nesse sentido ver também FERREIRA, 1999, Verbete “preservação”.

Raquel Diniz Oliveira

Patrimônio: Lazer & Turismo, v. 6, n. 7, jul.-ago.-set./2009, p. 75-91

Revista Eletrônica Patrimônio: Lazer & Turismo - ISSN 1806-700X

Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos

www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio

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contemporâneas sem antes analisar essas teorias, ainda que sucintamente (BRANDI, 1977, p.

3).

O artigo se propõe a discutir as relações entre as teorias da restauração e conservação

com a sua prática, objetivando verificar os princípios aplicáveis na arquitetura, no caso em

questão. Para tanto, pretende-se efetuar investigação bibliográfica visando ao entendimento

fundamentado do assunto. A importância do tema reside no fato da complexidade destas

intervenções que devem se pautar pelo respeito e valorização das obras, o que, muitas vezes,

requer um tremendo esforço, para além das teorias.

DESENVOLVIMENTO

1. Axiomas da Restauração segundo Cesare Brandi

O reconhecimento da obra de arte deriva da conscientização do valor que se tem

impregnado nela, seja pelo aspecto material, pela notoriedade do autor ou, ainda, pela técnica

utilizada. A restauração, assim, será condicionada pela obra de arte, tendo em vista seu valor

estético e histórico fortemente presente, além do aspecto físico (BRANDI, 1977, p. 4-6).

A imagem de uma obra de arte não depende, exclusivamente, do corpus, da substância

material que a compõe. Ao contrário, uma mesma substância pode apresentar-se ora como

obra de arte ora como simples matéria prima, dependendo de sua trajetória histórica. Uma

pedra de mármore, não trabalhada, tem valor distinto do de uma escultura, porque a esta se

agregam valores culturais e históricos que a tornam mais que simples matéria. Tem-se, assim,

que a matéria atua mais como um veículo de transmissão da imagem do que como um

condicionante desta.

Portanto, os esforços de pesquisa relacionados à conservação devem se concentrar no

corpus que contém a imagem, a fim de que esta não se perca no tempo. Para tanto, Cesare

Brandi fixa dois axiomas, duas diretivas a serem observadas no ato de restauração (BRANDI,

1977, p. 7-8):

1) Deve-se restaurar apenas a matéria da obra de arte, o veículo que contém a imagem; e

Raquel Diniz Oliveira

Patrimônio: Lazer & Turismo, v. 6, n. 7, jul.-ago.-set./2009, p. 75-91

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2) O restauro deve tomar como alvo o restabelecimento de uma unidade potencial da

obra, desde que isto seja possível sem que se cometa um falso artístico ou histórico e

sem cancelar os sinais da passagem do tempo.

Entende-se por falso artístico ou histórico a representação que pretende apresentar

como autêntica mera reconstituição de obra que se desgastou ao longo do tempo. Seria

possível, por exemplo, reconstituir uma estátua que teve partes de si deterioradas com o

tempo. Contudo, isso romperia a linha de continuidade histórica daquele monumento, fazendo

com que a réplica fosse equiparada ao original.

A reconstituição de uma obra, ainda que se utilizem os mesmos materiais, não

configura restauração, na medida em que conforma um falso estético e histórico. O lugar,

assim como a matéria, contribui para a manifestação da imagem. Portanto, a remoção de uma

obra de arte do lugar de origem apenas deverá acontecer quando indispensável à sua

conservação (BRANDI, 1977, p. 11-12).

A mais grave heresia da restauração é o restauro de repristinação, aquele que abole o

laço de tempo entre o período em que a obra foi concluída e o presente. Para que seja uma

operação legitima, a restauração não deve reverter a degradação natural das obras, retirandolhe

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