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Análise Crítica da Restauração da Igreja Matriz de Pirenópolis

Por:   •  8/6/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.393 Palavras (6 Páginas)  •  852 Visualizações

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Arquitetura e Urbanismo – UEG

Patrimônio Cultural Edificado – 2017/1

Docente: Milena d’Ayala Valva

Discente: Ariele Venezian Busso

ANÁLISE CRÍTICA DA RESTAURAÇÃO DA IGREJA MATRIZ DE PIRENÓPOLIS

  1. INTRODUÇÃO

Símbolo da cultura Pirenopolina, a Igreja Matriz é dedicada à padroeira da cidade de Pirenópolis, a Nossa Senhora do Rosário, e foi a primeira construção religiosa do Estado de Goiás. Sua obra se iniciou em 1728, época em que a mineração no Estado estava em seu auge, e teve seu término em 1932. Durante a história, a Igreja sofreu alterações arquitetônicas, porém manteve seu estilo colonial. Elementos artísticos integrados, como algumas imagens, o altar-mor e a pintura do forro, apresentavam características barrocas.

Em 1941, foi tombada como patrimônio nacional pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), mas somente em 1997 houve uma significativa restauração da Igreja, devido à sua má conservação.

Em 5 de setembro de 2002, um incêndio consumiu o telhado e toda a parte interna da Igreja. Quando o caminhão-pipa chegou, o fogo já havia derrubado o telhado, e havia ainda o perigo de choque-térmico ao jogar água diretamente sobre o fogo, podendo causar o desabamento das paredes. O trabalho feito pelos bombeiros, então, foi o de proteger a vizinhança para que o fogo não se espalhasse.

As obras de salvamento emergencial do edifício se iniciaram no mesmo ano do incêndio, e em 2003, começaram as obras de restauração.

  1. SALVAMENTO EMERGENCIAL E RESTAURO

Após o incidente, o primeiro passo feito foi a colocação de um tapume em volta da Igreja, e a construção de uma grande cobertura metálica com telas nas laterais, para proteger o que restou do vento e da chuva. As paredes e os vãos foram escorados por madeiras e tijolos maciços. Todo o entulho foi peneirado e restos de elementos foram separados (pedaços dos altares, ferragens, sinos e outros).

Para a restauração do patrimônio, foi contratada a Construtora Biapó. A empresa se tornou responsável por criar um projeto de restauro do monumento onde há a preocupação em preservar sua história e em respeitar à memória da população. Determinou-se voltar ao passado e reconstruir uma forma igual à que se perdeu, restituindo o volume da Igreja na paisagem e restaurando com a tecnologia atual aliada à técnica de antigamente. Segundo a construtora, a reconstrução do edifício é denominada restauração devido à forma com que se está sendo feito, com o uso do mesmo material. Quanto ao seu uso, ficou determinado que a edificação voltaria a ser uma Igreja, considerando a vontade da população de recuperar o que existia antes.

Um dos desafios do restauro do monumento era a de desenvolver uma técnica não mais utilizada: as paredes de taipa de pilão. Diante disso, foi organizado um time de profissionais na cidade para escutar relatos de antigos profissionais, realizar testes e executar prospecções, e foi criado um laboratório no canteiro de obras, onde se realizavam provas, como testes de diversas composições da argamassa de barro. Um novo tijolo de adobe prensado foi desenvolvido, com resistência superior ao adobe convencional.

As paredes de taipa de pilão e as de adobe começaram a ser restauradas. Grande parte das paredes de taipa tiveram que ser desmanchadas devido à um problema com a terra. Essas partes foram refeitas e consolidadas com a taipa antiga. Nas partes que permaneceram, foram executadas injeções de argamassas. A equipe garantiu uma homogeneidade de aparência entre as taipas antigas e novas. Nas torres, foi preciso refazer os encaixes de madeira. Em alguns casos, houve a necessidade de criar os encaixes, e estes foram feitos com as mesmas características dos anteriores. No arco da porta lateral foi esculpida a madeira copiando o modo como era anteriormente ao incêndio. Quanto ao telhado, foi necessária a criação de um novo, uma vez que o anterior foi totalmente queimado no incidente. Foi então refeito o telhado exatamente como era antes do incêndio, resolvendo questões de dimensionamento em programas no computador. Durante a obra foi aberta a exposição Canteiro Aberto, para que a população pudesse acompanhar a obra de perto.

A relação que a comunidade possui com a Igreja houve grande influência nas atitudes prestadas pela construtora no restauro do patrimônio. A população exigia ter a Igreja de volta na cidade exatamente como antes, com a mesma aparência, o mesmo altar, o mesmo coro. A presença do passado no cotidiano das pessoas transmite segurança a eles, e as atitudes da construtora na restauração da Igreja considerava a permanência dessa segurança e memória nos cidadãos através da mimese da edificação. Nota-se um novo edifício com a mesma pele do anterior, como se o incêndio de 2002 não tivesse existido e a edificação fosse a mesma construída em 1728. Porém, no interior do edifício conta-se a verdadeira história, pois as ornamentações e a pintura não foram totalmente refeitas, e algumas partes permaneceram faltantes para evidenciar a história do incêndio.

  1. LINHAS DE RESTAURO ADOTADAS

No restauro da Igreja, percebe-se uma necessidade de reviver o passado reconstruindo a edificação exatamente com as mesmas características anteriores ao incêndio. Há uma fidelidade à originalidade e uma procura pelos pedaços das peças originais para compor o restauro, como defendida na linha de restauro arqueológico. A linha arqueológica ampara também a distinção das novas peças com as peças originais, assim citado também na Carta de Veneza (1964) e na Carta do Restauro (1972), a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história. Encontra-se essa distinção no interior da Igreja, mas não em seu exterior, onde as partes destruídas foram substituídas por peças exatamente iguais às anteriores. Esta atitude tomada pela construtora colabora para uma invenção da memória, excluindo da história o incêndio ocorrido em 2002 e todo o processo de restauração. É como se a construção ali presente fosse a mesma construída em 1728, bem preservada e conservada, e quem não conhece sobre o incêndio continuará não tendo conhecimento ao observá-la. Ela não conta sua história recente. Segundo o artigo 9º presente na Carta de Veneza, “no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. ” A Carta também cita a necessidade de fundamentar o restauro no respeito ao material original e aos documentos históricos, ato presente no restauro da Igreja Matriz de Pirenópolis e defendido pela linha de restauro histórico.

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