HOBSBAWM, E.J. A Era das revoluções. Cap. 11 – Os trabalhadores pobres, pp. 221-237; trad. Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel; 4ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
Por: Giovanna de Aro • 12/9/2017 • Resenha • 1.189 Palavras (5 Páginas) • 1.792 Visualizações
UNESP /FAAC/ Arquitetura e urbanismo/Fundamentos Socioeconômicos I
Título: HOBSBAWM, E.J. A Era das revoluções. Cap. 11 – Os trabalhadores pobres, pp. 221-237; trad. Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel; 4ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
O décimo primeiro capitulo do livro “A Era das Revoluções” (1789- 1848), escrito por Eric Hobsbawn e publicado em 1962, faz uma análise sobre o contexto em que o trabalhador pobre está inserido, assim como suas questões existenciais à sociedade da época; questões estas que são essenciais para compreender o impacto dessas revoluções nos dias de hoje. O texto é dividido em cinco partes e cada uma refere-se a um diferente fator presente na rotina do individuo suburbano, porém todas as reflexões coexistem, ou seja, estão interligadas.
A discussão é aberta com um trecho de uma publicação de 1931 no “in Journal des Débats” de Saint-Marc Girardin, na qual compara o patrão dos operários industriais com um senhor de escravos nas plantações coloniais – “um contra centenas” –; e recomenda a classe média reconhecer que a ameaça à sociedade está nos bárbaros do subúrbio e não naqueles que vêm de fora. Ainda na primeira pagina, uma traduzida canção dos tecelões de Lyon diz: “Nós tecemos para vós, grandes da terra/E nós, pobres operários, sem lençol onde nos enterrar” (...) “Então nós teceremos a mortalha do velho mundo/Porque já se percebe a revolta que troa”; com isso, é indicada a consciência do trabalhador sobre sua condição social e o objetivo da revolução.
Na parte I, são dadas informações referentes aos tipos de reações possíveis para a situação de um operário na época, que seriam: 1) lutar para se tornar burguês – introduzindo-se em um “sistema individualista puramente utilitário do comportamento social”, onde “cada um por si e Deus por todos” de “braços dados com a desumanidade” e seguindo os “preceitos de poupança, auto-ajuda e automelhoria”) –; 2) Permitir a opressão – aqueles que “empobrecidos e explorados” não conseguiam “compreender a catástrofe social” e eram privados das “tradicionais instituições e padrões de comportamento” –; 3) se rebelar – agindo conforme o contrario a ordem imposta e tratando seus semelhantes “também e primordialmente como sociedades, com reuniões sociais, cerimônias, e festividades, em detrimento de sua integridade militante” –. Também nessa parte é tratada das conseqüências sociais de tal conflito, a relação de fuga e sobrevivência com a realidade para o alcoolismo, prostituição, demência, criminalidade, suicídio e cultos religiosos; como ainda as condições habitacionais “sem planejamento ou supervisão”, o desleixo sanitário e higiênico, em que “os serviços mais elementares da vida fracassavam”; além da poluição e proliferação de doenças.
“O desenvolvimento urbano foi um gigantesco processo de segregação de classes, que empurravam os trabalhadores pobres para as grandes concentrações de miséria alijados dos centros de governo e dos negócios, e das novas áreas residenciais da burguesia.” Página 224
Complementando isso, a parte II aborda a inevitabilidade da rebelião frente a tantos problemas. É acrescentada à discussão a questão da fome e do crescimento populacional com a teoria de Malthus em que “o crescimento da população superaria o crescimento dos meios de subsistência” – “os serviços sociais não conseguiam acompanhar o ritmo da impetuosa e inesperada expansão” –; a pauperização crescente do povo; a contradição no fato de que por mais que a “verdadeira pobreza” fosse “pior no campo”, a miséria, “onde os pobres morriam de fome de uma maneira menos passiva e menos oculta”, estava nas cidades e zonas industriais, e que, portanto, era “extraordinária a diferença de saúde e aptidão física” entre essas populações. Também é abordado temas como a infertilidade da terra e a baixa nutrição dos alimentos consumidos; o desemprego e as “temporárias e repetitivas crises” do sistema – ainda não reconhecidas como tal –; a relativa liberdade dos trabalhadores do campo quando comparada com a disciplina dos operários; e o abuso de poder compensado com serviços de bem estar social.
“A troca na economia transferiu e deslocou grandes núcleos de trabalhadores, às vezes para seu próprio beneficio, mas quase sempre para sua desgraça. Grandes massas da população continuavam até então sem ser absorvidas pelas novas indústrias e cidades, como um substrato permanente de pobreza e desespero, e também as grandes massas eram periodicamente atiradas ao desemprego pelas crises (...)” Página 228
“O trabalhador era explorado pelo rico, que cada vez mais enriquecia, ao passo que os pobres ficavam ainda mais pobres. E os pobres sofriam porque os ricos se beneficiavam. O mecanismo social da sociedade burguesa era profundamente cruel, injusto e desumano. “Não pode haver riqueza sem trabalho” (...) “o trabalhador é a fonte de toda riqueza. Quem tem produzido todos os alimentos? O pobre e mal alimentado lavrador. Quem construiu todas as casas e armazéns, e os palácios, que pertencem aos ricos, que jamais trabalham ou produzem qualquer coisa? O trabalhador. (...) Ainda assim “o operário continuava pobre, ao passo que os que não trabalham são ricos e possuem abundancia em excesso.” Página 230
...