Lugares em Trânsito. Vila d´Este - Vila Nova de Gaia.
Por: Gabriela Gomes • 20/1/2016 • Artigo • 1.081 Palavras (5 Páginas) • 437 Visualizações
Lugares em Trânsito
Espaço Público e a Paisagem: O caso de Vila d´Este
Citando a abordagem de Vidal de La Blache[1] à noção de paisagem: “Quando procuramos evocar uma paisagem escondida nas nossas lembranças não é a imagem, de uma planta em particular, uma palmeira, uma oliveira que se desenha na nossa memória; é o conjunto de vegetais diversos que revestem o solo, sublinhando as ondulações e os contornos, imprimindo-lhe pela sua silhueta, as suas cores, o seu espaçamento ou as suas massas, um carácter de individualidade”[2].
Vila d’Este é uma urbanização situada no concelho de Gaia, pertencente à freguesia de Vilar de Andorinho e consiste num dos aglomerados habitacionais mais significativos na Área Metropolitana do Porto. Define-se como uma das maiores urbanizações de habitação de custos controlados em Portugal e foi construída entre 1984 e 1986, através de um programa do Fundo de Fomento de Habitação. Depois de uma visita ao local, guiada pelo arquiteto Nuno Abrantes, foram de notar os graves problemas urbanísticos do lugar.
Observou-se que a reabilitação de Vila d´Este foi somente direcionada para a resolução de problemas dos edifícios, enquanto que o planeamento urbanístico, que ficou ao encargo da Câmara, continua com muitas falhas devido ao mau planeamento urbano na construção inicial dos edifícios numa zona de terreno muito acidentado o que gerou vários espaços “sobrantes”, que não só são inutilizáveis, como dificultam o percurso dos utilizadores. O novo planeamento urbanístico nestas condições exigiria uma reabilitação mais profunda, e mais generalizada o que não acontece, dada a falta de verbas da Câmara. A necessidade de reabilitação do espaço público, assim como a ânsia por uma nova noção de “paisagem”, especialmente nestas áreas residenciais, deveriam ser uma prioridade na requalificação urbana.
O espaço físico existente e vivido nesta urbanização é, na minha opinião, um lugar em constante movimento que gera tensões e cria potencialidades que têm como receptor vivencial final o espaço público. Este espaço, flexível e de carácter bastante ativo, encontra-se aqui imobilizado, em trânsito, mas é ao mesmo tempo um suporte da dimensão social na vida urbana de Vila d´Este. Este lado vazio, o negativo da massa construída, do qual o espaço público possui um laço de valor inconsciente nos indivíduos, abrange um campo multidisciplinar no urbanismo e na arquitetura e constrói-se para definir paisagem, o estatuto de público ou privado em relação ao uso do solo e da propriedade, e para estabelecer uma analogia no espaço físico. Então, como podemos nós relacionar paisagem com o espaço público?
Como futura arquiteta que sou, o meu pensamento reside em questionar constantemente os sítios e lugares onde me encontro: o espaço, a materialidade, o carácter singular e/ou universal e partindo da distinção de Burl Marx em que este faz uma distinção entre paisagem natural e paisagem humanizada, chegamos a uma conclusão de que “além das implicações decorrentes das exigências económicas, não nos podemos esquecer de que a paisagem também se define por uma exigência estética, que não é nem luxo nem desperdício, mas uma necessidade absoluta para a vida humana e sem a qual a própria civilização perderia a sua razão de ser”.
Uma das características das nossas periferias, sendo Vila d´Este um preciso exemplo, é o total desrespeito pela paisagem. Os espaços públicos têm sido tratados como espaços vazios, incaracterísticos, sem qualidade, o espaço que sobra entre edifícios. “… os planos locais se tornaram, neste último meio século, mais abstractos em resultado de serem territorialmente mais abrangentes. Reduzidos a perímetros e classificações de solos defensivas, perderam a cultura dos traçados – de infra-estrutura e paisagem – remetendo-a para a multiplicação de planos pormenorizados mais parecidos com projectos de conjuntos do que com planos abertos à incerteza dos programas e do edificado, mas seguros quanto ao espaço colectivo que estrutura e liga as partes com o todo.”[3]
As acções de requalificação dos edifícios “envolvem” e caracterizam o exterior, e os exteriores “envolvem” e caracterizam os edifícios; é uma essencial complementaridade entre as respectivas intervenções.
Apesar de a intervenção em Vila d´Este nao se limitar a uma mera intervenção de cosmetica, não podemos negligenciar a necessidade de intervir na promoção de uma nova paisagem neste conjunto urbano. É importante que a cidade possua uma forte “imagibilidade”. A paisagem urbana deverá ser modelada com grande cuidado.
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