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Metodologia de aproximçao em comunidades

Por:   •  22/4/2019  •  Monografia  •  1.607 Palavras (7 Páginas)  •  154 Visualizações

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Análise da tapeçaria Indo-Portuguesa do século XVII

Depois que Vasco da Gama alcançou a Índia pelo mar em 1498, os viajantes portugueses subseqüentes estabeleceram postos comerciais em Cochin no sul da Índia e em Bengala, a nordeste. Até o início, a Companhia Inglesa das Índias Orientais tinha sido fundada para promover o comércio entre a Grã-Bretanha e o Oriente, e isso seria seguido por empreendimentos similares patrocinados por inúmeras outras nações européias. Os têxteis e as brotações formaram uma parte importante do comércio da Índia Oriental no século XVII, à medida que os registros de vendas da empresa e o documento de contas de viajantes.

A colcha (bedcover) foi adquirida pelos Friends of the Museum em 1988 e data do século XVII e apresenta características típicas do bordado português produzido na Índia para o próprio mercado de Portugal. A peça contém uma mistura de caracteres europeus, portugueses, indianos e persas, o que tem grande reflexo em uma produção artística e manufatureira do cruzamento e adoção de cultura diversificada e múltipla durante o período.

O formato da colcha (bedcover) com um medalhão central inscrito em uma forma retangular com bordas delimitadas por linhas estreitas tem como base e relação tanto tapetes persas como indianos.

[pic 1]

Figura -1 - Kirman Vase Carpet, Sudeste da Pérsia, século XVII 251cmx151cm


Figura 2 – The Deccan – seda

Mughal, Hyderabad, Índia, século XVII

223cmx155cm

O uso de um medalhão central tinha como fundamento a criação de uma geometria bem como uma composição simétrica. Esse tipo de composição esteve muito presente nos tapetes persas sobretudo dos séculos XV e XVI, e também consolidavam-se como característicos da região da Anatólia e do Cáucaso. Os tapetes apresentavam grandes medalhões emoldurados por diversos elementos: florais, descrição de cenas de caça, da vida cortesã, mitos e imagens. Além destes, animais grotescos e fantásticos, com destaque para os pássaros exemplificam uma variação da árvore waq-waq, árvore oracular persa originária da índia, cujos galhos dão frutos com as cabeças de homens, mulheres ou animais míticos. Outro caráter muito presente na


cultura persa e indiana que foi representada em obras e na tecelagem portuguesa foi a imagem da denominada “Árvore da Vida” como símbolo da conexão entre o céu e a terra.

[pic 2]

Figura 3- Detalhe do medalhão, do

animal e da flora representada no

tapete persa, Herat, Pérsia, século

XVI.

Philadelphia Museum of Art

223cmx155cm

Considerando a relação entre a Pérsia e a Índia, estudos do século XIX apontam que os artesãos persas, particularmente tecelões de carpetes e tapetes, foram encorajados pelo imperador Mughal Akbar (1556-1605) a se instalarem na Índia e trabalhar sob o apoio e supervisão (patronage) da corte. A conexão com

a tradição persa é mais evidente nesta colcha de cama nos dois pares de pássaros fantásticos com cabeças de águia e longas caudas com penas de olho; conhecidos como simurghs, são o pássaro mágico do épico nacional da Pérsia, o Shah-nãma – animal no centro do detalhe acima destacado.

Esta e outras obras da literatura e tapeçaria persa eram tão populares na Índia durante os séculos XV e XVI como na Pérsia. Muitos dos motivos indo-persas no fundamento eram familiares para os europeus, e podem ser encontrados em sedas italianas e espanholas da primeira metade do século XVII, refletindo o impacto do comércio regular entre a Itália e o sul da Índia desde o início como o século XV; bem como da portuguesa em que Vasco da Gama, por exemplo, encontrou sedas brocadas italianas no bazar de Calicute.

Embora os motivos e elementos da colcha tenham relações visíveis com a cultura indo-persa tradicional, muitas figuras e animais também se assemelham aos encontrados no trabalho do bordado inglês do século XVII. Tal fato ressalta a aliança anglo-portuguesa que foi estabelecida pelo casamento de Carlos II com Catherine de Bragança em 1662, o que trouxe a Inglaterra valiosos privilégios comerciais e o porto de Bombaim no oeste da Índia, mesmo os artesãos indianos conhecendo o trabalho de borda inglesa previamente.

Caixas e luvas bordadas haviam sido enviadas para a Índia como presenças e bens comerciais no início do século XVII e eram objetos cobiçados na corte do imperador Mughal Jahangir (1569-1627). Os padrões de bordados ingleses circularam durante meados do século XVII por editores como R. Shorleyker, Peter Stent, John Overton, and Robert Walton. Este último também pode ter recebido de comerciantes das comissões portuguesas vinculadas com bordadores indianos em oficinas estabelecidas para replicar bordados ingleses para exportação, da mesma forma que os pintores indianos de algodão em Golconda adaptaram gravuras florais européias. Sendo que a maioria das estampas da flora e fauna encontrada nas tecelagens inglesas e portuguesas são inspiradas nas sedas persas dos séculos XV e XVI.

Outra característica intrigante presente na colcha de cama (bedcover) são as grandes figuras de mulheres, as quais representam os Cinco Sentidos . Temática esta muito presente e


explorada na cultura indo-portuguesa, principlamente na tapeçaria e no bordado. Desde o século XVI, essa imagem e simbologia estava associada ao Amor. O aparecimento das mesmas pode indicar que estas foram dadas como presente de casamento ou então a possibilidade de fazerem parte de um casamento, como damas da noiva. O tema é majoritariamente citado na literatura indiana e pouco reproduzido e personificado na arte indiana, o que indica uma interferência européia.

Figura 4- Detalhe da imagem de uma das mulheres da tapeçaria estudada

[pic 3]

Na obra, os sentidos são representados como mulheres européias, o que é retratado pelas vestimentas das figuras – vestes de tons claros com detalhes na gola e na saia - referência das vestimentas femininas dos anos 1630-1640. Essas figuras vestindo trajes europeus também são presentes em miniaturas produzidas na corte de Mughal, onde os artistas e pintores estudaram o trabalho de artistas da Europa.

Os portugueses originalmente enviaram pinturas e impressões para a corte de Akbar para auxiliar na sua conversão ao cristianismo. Um paralelo estilístico próximo das cinco figuras aqui vistas é encontrado em duas miniaturas indianas do século XVII, nas quais os trajes femininos europeus também incluem mangas cortadas, coleiras de renda, diademas, tocados de pena e lacas de pérolas, na colcha, no entanto, os Sentidos usam calças de pernas largas, de moda indo-persa.

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