OCUPAÇÃO DO PARQUE DO POVO: DINÂMICAS E PLURALIDADE¹

OCUPAÇÃO DO PARQUE DO POVO: DINÂMICAS E PLURALIDADE¹

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como intuito compreender, sob uma perspectiva de análise local, a dinâmica do processo de ocupação do espaço público através da observação do caso do Parque do Povo, localizado na cidade de Presidente Prudente/SP. Identificar as características dos múltiplos grupos que fazem uso deste espaço, bem como se desenvolvem ali as ações de seus interesses.

O Parque do Povo se constitui como ponto de referência de lazer público no município de Presidente Prudente. O projeto inicial que deu origem à construção do local orientou a canalização do Córrego do Veado entre a Avenida Brasil e Avenida Manoel Goulart, para dar origem à construção de duas avenidas, a Av. 11 de Maio e a Av. 14 de Setembro, para dar origem a uma área destinada para a implantação de equipamentos de lazer para a população.

Segundo Silva (1994) em Presidente Prudente, a partir da década de 70, o poder público teve papel significativo no processo de produção do espaço urbano, oferecendo condições para a atuação da iniciativa privada, aumentando seu interesse em adquirir as partes do que viria a ser a malha urbana, ou seja, a política do capital via transformação territorial, impetrada pela iniciativa privada, teve aval do poder público, que criou mecanismos que a fomentassem. A idealização do projeto Parque do Povo surgiu da urbanização de um fundo de vale com recursos públicos vindos, num primeiro momento, do Fundo Nacional do Desenvolvimento Urbano e posteriormente do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). No ano de 1977, os recursos vieram do Programa de Complementação Urbana – CURA (Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada).

Para Silva (1994) as relações sociais são caracterizadas por uma dinamicidade que também qualifica o espaço, e por sua vez também são qualificadas por ele, refletindo uma organização social, econômica, política, ideológica, sendo condição e reflexo da articulação de todas estas condições. O discurso oficial justificou a obra como um projeto de melhoria da qualidade de vida do cidadão local, o progresso para a cidade, além da necessidade de um amplo espaço para a utilização de forma pública, com itens de interesse do povo, que promoveria o avanço de Presidente Prudente; sendo assim, podemos observar que a cidade é resultante das necessidades e dos interesses de reprodução do capital, e que isso só é possibilitado através da junção das práticas dos agentes públicos que fomentam as ações dos agentes privados.

De acordo com a proposta inicial o Parque do Povo deveria ser uma área verde, agradável, para lazer e práticas esportivas aberta a todos, sendo o que se observa hoje. O Parque do Povo se constitui como referência enquanto área de lazer pública e ponto de encontro em Presidente Prudente. Apesar da diversidade do público que frequenta o local, principalmente nos finais de semana, constatou-se que a maioria é composta por jovens e até menores de idade, em decorrência dos chamados “fluxos” e “rolês”, que são encontros que ocorrem no local semanalmente as sextas-feiras e sábados. Buscamos por meio de questionários coletar dados que possibilitassem confirmar a hipótese anterior. Segundo Chagas (2000 apud PARASSURAMAN, 1991, p. 39) “o questionário é tão somente o conjunto de questões, feito para gerar dados necessários para se atingir os objetivos do projeto (...) construir questionários não é tarefa fácil, tem que aplicar tempo e esforço adequados para a construção dos questionários”.

Formulamos os questionários e utilizamos questões de diferentes tipos. Questões de múltipla escolha; a modalidade chamada dicotômica, que foi utilizada em outras questões que só tem duas alternativas; e foram feitas ainda questões abertas para elucidar dúvidas relativas a alguns segmentos específicos da pesquisa, que poderiam variar amplamente entre os entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O embasamento teórico juntamente com a experiência empírica deste trabalho comprovou que apropriação do espaço Parque do Povo se dá pelos mais diferentes públicos. Um aspecto que conseguimos observar é a presença dos mais variados tipos de empreendimentos ao longo do parque, tais como lanchonetes, bares, pizzarias, academias, boutiques, lojas móveis, hotéis, clínicas médicas, sorveterias, revendedora automotiva, entre outros. Isso deixa evidente que atualmente o parque é um polo atrativo tanto no aspecto de lazer quanto no aspecto imobiliário, no quesito moradia e na instalação de estabelecimentos comerciais.

Os questionários foram aplicados a 100 entrevistados ao longo de três finais de semana, nos dias 4, 5, 11, 12 e 25 de Julho de 2015. A análise dos dados nos forneceu alguns resultados: entre os entrevistados, mais da metade (55%) frequentam o Parque do Povo somente aos finais de semana incluindo a sexta-feira, 23% frequentam o Parque uma ou duas vezes ao longo da semana, ao passo que 22% frequentam três vezes ou mais. Esses dados refletem a perspectiva e tipo de ocupação do espaço; sendo que nos finais de semana, quando grande parte das pessoas não trabalha, o fluxo cresce consideravelmente seja em razão do atrativo para lazer e recreação, ou usufruir dos serviços localizados ao longo do parque.

Durante os dias da semana segunda-feira, terça-feira, quarta-feira e quinta-feira o público se constitui majoritariamente de praticantes de esportes, principalmente nas primeiras horas da manhã e no fim da tarde, dada a condição de pouca arborização do parque em algumas partes, que naturalmente faz com que os praticante das atividades físicas optem por horários onde a incidência do sol é menor. Quase um quarto dos entrevistados (24%) alegou que sente falta de mais árvores que fazem sombra no parque, pois em algumas partes as árvores que foram plantadas são de pequeno porte.

Entre os entrevistados mais de 80% têm menos de 35 anos de idade, sendo a maioria destes com até 25 anos de idade, os idosos são minoria, apenas 8% dos entrevistados tinham mais de 60 anos de idade.

Sendo assim observamos que o Parque do Povo pode ser considerado como a principal área verde no perímetro urbano da cidade; e devido a sua localização de fácil acesso para meios de transporte particulares e coletivos, se torna um lugar que é apropriado para o convívio de todos, sendo o espaço social é produto de uma sociedade; como tal é ao mesmo tempo meio e resultado das ações e relações sociais, o que lhe confere um caráter dialético (LIMONAD, 2009). A maior parte