Os Museus são como Sepulcros de obras de arte, testemunham a neutralização da cultura
Por: Ana Beatriz Meneses • 22/10/2017 • Resenha • 508 Palavras (3 Páginas) • 366 Visualizações
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Considerações acerca do Texto de ADORNO, Theodor W. Museu Valéry Proust. In: Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 1998, p. 173- 185.
Museu Valéry Proust
Na língua alemã o termo “museal” possui uma conotação duvidosa. Aponta objetos em que os expectadores não mantem uma relação, obras que estão se perdendo com o passar do tempo e só são conservadas por motivos históricos. Adorno faz uma análise sobre as visões dos franceses Paul Valéry e Marcel Proust comparando-as e também fazendo contribuições teóricas.
“Os museus são como sepulcros de obras de arte, testemunham a neutralização da cultura”. A exposição feita por Valéry sobre sua experiência numa visita a um museu é extremamente derrotista no que se refere ao seu ambiente; tudo está em uma desordem organizada, as regras de comportamento que causam constrangimento ao visitante, como não tocar em nada, falar em baixo tom, não poder fumar ou mesmo andar com a bengala essas e outras questões são fatores que influenciam na apreciação da obra de arte. Para Valéry, a obra de arte é um fim que encerra sentido em si própria, não necessitando mais de seu autor para existir logo que ganha vida. Se da obra emana esse valor, alterar seu andar é um sacrifício. Retirá-la do seu contexto de nascimento e expô-la em um espaço como o museu, produz, nas palavras de Valéry, poucas delícias. O próprio Adorno encontrou problemas para traduzir o sentido que Valéry quis atribuir ao expressar o termo “delícias”, sendo delícias a relação produzida entre o expectante, a obra e o próprio ato de contemplá-la.
Valéry ainda fala do incômodo que o museu causa nas pela variedade da quantidade de quadros e esculturas à mostra. Para ele, o grande número de obras reunidas num lugar prejudica o usufruto que poderíamos ter com uma obra específica, o que superficializa a relação pessoal com a arte. Marcel Proust tem uma narrativa divergente em relação a Paul Valéry. Adorno aponta alguns pontos importantes onde ambos divergem. Proust compreende que o mundo da arte não pode ser visto com valores absolutos e universais. O museu para Valéry é uma organização que causa uma morte “negativa” nas obras, por retirar delas a proposta de sentido em si mesmas; para Proust, é uma morte “positiva”, já que um lugar que é para a contemplação da arte possibilita às pessoas que não estiveram no momento da criação da obra a chance de desfruta-la.
Para quem segue as ideias de Valéry, a reprodutibilidade seria um mal, pois diminui o contato com o original, a arte que possibilita as “delícias”; para os seguidores da Proust, a reprodução abre um mundo de possibilidades a todos que não puderam entrar em contato com o “puro”, logo democratiza a arte.
Adorno defende que Proust pensa a arte a partir do sujeito, e Valéry, da coisa. Sua conclusão sobre a visão de ambos é que não se pode apontar um vencedor para esse conflito, sendo que os dois complementam para entender as contradições que permeiam o campo da arte.
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