Os Quatro Conceitos Fundamentais da Arquitetura Contemporânea – Richard Scoffier
Por: Isabella Barbi • 16/5/2016 • Trabalho acadêmico • 3.340 Palavras (14 Páginas) • 3.187 Visualizações
Os Quatro Conceitos Fundamentais da Arquitetura Contemporânea – Richard Scoffier
INTRODUÇÃO
O mundo contemporâneo é um mundo amniótico de artefatos, um mundo onde a palavra, o conceito, tende a se substituir à sua referência. Os quatro conceitos que o regem são: objeto, tela, meio e acontecimento.
A construção e o objeto
Tudo que se produz e nos rodeia não tem automaticamente status de objeto. Objeto é a resistência à instrumentalização e à troca, como se quisesse nos recordar do “mundo antes do mundo” é, ao mesmo tempo, luto e promessa de ressureição da comunidade original. É singular, não é permutável e não pode ser cedido. O edifício não é mais uma construção, é um objeto. Exemplo: Frank Gehry, Chiat Day – agência de publicidade que se assemelha com binóculos, com fragmentos de outros edifícios (transfiguração, singularidade, esquizofrenia, rituais).
A fachada e a tela
A fachada exibe a construção do edifício e tudo que contém, é a função do ver. A tela esconde e protege seu espaço interno do externo, uma superfície lisa, opaca, é a função do ler, corresponde ao mundo contemporâneo, ela esconde e mascara. Exemplo: Kunsthaus Graz, Peter Cook e Colin Fournier – não é possível ver o interior, caixa preta com espaço de exposição (perda da profundidade, signo, reflexo).
O lugar e o meio lugar
O lugar está morto e, com isso, desaparece toda a profundidade histórica. O meio-lugar são os novos espaços, é inacabado, embrionário, um espaço em branco, neutro, que não retém a memória, recusa o monumental. Exemplo: Casa de Vidro, Pierre Chareau – não há fachada emblemática, é uma máquina de captar luz e difundi-la em um espaço aberto, imagem desativada da natureza (tensegridade, estufas, incubadoras).
Uso e acontecimento
O uso constitui-se pela recondução de um repertório de gestos, posturas, transmitidos de geração em geração, é a continuidade, a repetição. O acontecimento é algo que não se pode prever e não se reproduz, é a descontinuidade, a irredutibilidade. Com a substituição do uso pelo acontecimento, há um mundo de acumulação catastrófica, onde o inabitual se sucede permanentemente ao inabitual. Exemplo: Euralille, Rem Koolhas – projeto mais pensado em corte do que em planta, ao invés de suas torres ficarem uma de cada lado e determinar um espeço público, pesam sobre a abóbada envidraçada que cobre as vias com todos problemas de estrutura e fundação que esse dispositivo pode causar (fim da história, movimento, condensadores, congestão).
OBJETO
- Desvinculação do uso em relação à forma.
- Recusa a ter uma simples função, indo além da sua função inicial.
- Não serve mais apenas como um utensilio, passando a ser um feixe de correspondência.
- Se alterar sua escala, perde sua relação inicial com o ser humano, adquirindo uma monumentalidade que transforma o ser humano em espectador (Ex: não é mais um utensilio, e sim uma “obra de arte”).
• Transfiguração
-O momento em que o artista transfere o real para o campo da estética, adquire monumentalidade (Ex: mictório do Duchamp: transfiguração do objeto do cotidiano para obra de arte, após colocá-lo em uma galeria de arte)
• Singularidade
-Objetos que buscam se auto afirmar sem explicar seu modo de construção
-Um edifício pode ocultar qualquer tipo de método feito com as mãos, pois apresenta apenas indícios de fabricação industrial
-A cadeira Vermelho-Azul indica claramente seus materiais, método de construção e uso. É possível perceber que é feita para sentar (possui um assento, um encosto reclinado, braços...)
-Já a Poltrona parece mais um paralelepípedo que pode servir como assento, porém também parece servir como um armário, criado mudo, etc. Também não fornece nenhuma informação sobre sua estrutura ou fabricação
• Esquizofrenia
-A maioria dos objetos que nos rodeiam sofreram irreversíveis mutações
-Objetos de carenagem, novos dispositivos e próteses
-Não há relações visuais, sensíveis, entre a causa e o efeito, não há relação fusional entre a função e o objeto
-Ex: um celular é uma carcaça simples que realiza múltiplas funções. Com o tempo foi se compactando e aumentando seu potencial. Seu formato não depende mais do tamanho dos alto-falantes, microfones ou baterias, pois estes que se adaptaram ao formato desejado do aparelho
• Rituais
-Relações de espaço-tempo
-As novas arquiteturas e o objeto não são voltadas à rituais predeterminados (formas determinadas)
-O edifício implica seu próprio ritual de ocupação
-Como se o movimento do público fosse parte integrante da obra
-Ex: Edifício da Rue des Suisses, em Paris. Notável pela sua ambiguidade, é difícil saber se acaba de ser construído ou se existe há muitos anos, se corresponde a uma construção industrial ou um edifício de escritórios, de serviços públicos ou residenciais. Apesar do seu volume escultural, não deixa de se inscrever entre os prédios vizinhos
TELA
- É a fachada, porém recusa a função da fachada tradicional, que mostra como o edifício foi construído e o que ele contém.
- A tela protege e esconde o espaço interno do espaço externo (separa o publico do privado), desempenhando o papel de intermediário entre esses dois “mundos”.
- É diferente da fachada tradicional que evoca a função do ver. A tela exercita a função cerebral, não bastando apenas olhar para entender, tendo que analisar, ler e pensar. Trata-se de decifrar e decodificar.
• Perda da profundidade
-A fachada enuncia sua fabricação, institui profundidades no plano da fachada
-A arquitetura contemporânea substitui a lógica da profundidade pela tela que mascara: não indica a construção
-Invólucros que se recusam a dar qualquer indício sobre a maneira que foi construído (Ex: edifícios de escritórios)
• Signo
-Robert Venturi – ornamentos, mascara a caixa funcional
-A fachada torna-se autônoma em relação ao edifício, sua composição não é afetada pela estrutura ou pela função
• Reflexo
-Camuflagem
-Valorização do entorno
...