Os novos princípios do urbanismo
Por: julioguzak • 26/5/2017 • Resenha • 6.202 Palavras (25 Páginas) • 3.349 Visualizações
FRANÇOIS ASCHER
Os novos princípios do urbanismo
Velhos e novos princípios de urbanismo no Brasil
Conhecendo e estudando o urbanismo no Brasil, constatamos que planos e leis foram aprovados e realizados, mas quase sempre em confronto com os ditames do mercado,fenômeno que produziu um espaço urbano que parece não obedecer a regras claras.
Ascher afirma em seu livro que a modernidade não é um estado, mas um processo constante de transformação da sociedade. Destaca em especial a falta de sincronia entre as mudanças cada vez mais rápida da sociedade contemporânea e o processo mais lento de transformações do quadro construído.
A quantas andas o processo de modernização das nossas cidades? De forma fragmentada, o processo de urbanização no Brasil ocorre para dar espaço ao automóvel e ao desenvolvimento do capital imobiliário, sem procurar a essência da modernidade que é a superação das necessidades básicas do homem. Contudo, o elemento essencial da urbanização brasileira – a priorização do transporte individual em detrimento do coletivo – compromete a produção de uma cidade mais compacta.
O processo de redemocratização e a constituição federal de 1988 também trouxe avanços para as leis do urbanismo, principalmente no sentido de limitar o direito da propriedade, tornando a cidade mais voltada para o cumprimento de sua função social a ser definida pelos planos diretores municipais. Os planos diretores delimitam as áreas onde poderão ser aplicados a urbanização, o parcelamento e edificação compulsórios. Portanto pensar as cidades hoje implica formulações complexas que incluem as instâncias econômicas, sociais, políticas e culturais.
Introdução
A sociedade contemporânea transforma-se rapidamente, no âmbito do urbanismo, percebemos com muita dificuldade as mudanças, pois o quadro construído evolui com relativa lentidão. Ascher aborda em seu livro que a constatação de que o crescimento da cidade está ligado ao desenvolvimento de técnicas de transporte e de armazenamento de pessoas, bens e informações, e que se articula com três componentes da modernização: a individualização, a racionalização e a diferenciação social. De fato, estamos preocupados com as forma que as cidades estão assumindo e com os riscos de toda ordem que elas parecem gerar para a sociedade e para o ambiente.
É necessária a formulação de um novo urbanismo, adequado aos desafios e as formas atuais de pensar e de agir nesta terceira modernidade. O objetivo deste livro é contribuir para a explicitação dos desafios maiores a ser enfrentados por esse novo urbanismo, bem como a formulação de alguns princípios fundamentais à sua concepção.
No capitulo 1, destaca os vínculos estruturais que articulam cidades e sociedades modernas, revoluções urbanas e tipo de urbanismo produzidos nas duas primeiras fases da modernidade.No capitulo 2 e 3 , analisa as principais características da nova modernidade que esboça e os principais traços da revolução urbana que ela mesma provoca e sobre a qual ela se apoia. No capitulo 4, apresenta dez desafios principais e esboça alguns princípios a ser desenvolvidos para buscar sua solução.
Capitulo 1 - urbanização e modernização
O autor caracteriza as duas primeiras fases de modernização, enfatizando a relação estreita entre cidade e sociedade e entre estas e as formas de conceber, produzir, utilizar e gerir os territórios. Na primeira fase de modernização, da Idade Média à Revolução Industrial, a primeira revolução urbana emerge com a emancipação do político, a emergência do Estado-Nação, o desenvolvimento das ciências, a expansão do capitalismo, na passagem da cidade medieval à cidade clássica do renascimento e dos Tempos Modernos, uma cidade concebida racionalmente para indivíduos diferenciados, marcada pela afirmação monumental do poder do Estado e pela afirmação da arquitetura como disciplina moderna. Com a Revolução Industrial passa-se à segunda fase de modernização e à segunda revolução urbana em que o urbanismo se constitui como disciplina moderna, retomando os princípios da indústria: a especialização, a mobilidade e o desenvolvimento tecnológico para transportar e armazenar pessoas, bens e informações. A diferenciação social marca o espaço urbano, o automóvel individual, o eletrodoméstico e os serviços públicos do Estado-Providência reconfiguram a cidade.
A modernização é um processo que emergiu bem antes dos tempos que denominamos, usualmente modernos, resulta da interação de três dinâmicas socioantropologicas : a individualização, a racionalização e a diferenciação social, que são fatores que desencadearam a dinâmica da modernização.
1º fase da modernização: cobre o período qualificado como tempos modernos e abarca o fim da idade média ao começo da revolução industrial, pode classificar esta fase como primeira ou alta modernidade.( produziu uma verdadeira revolução urbana).
2º fase da modernização: revolução industrial, que assiste a produção de bens e serviços , subordinada, em grande medida, as lógicas capitalistas. É a segunda ou média modernidade.
A cada uma das duas primeiras fases da modernização, correspondeu uma mudança profunda na maneira de conceber, produzir, utilizar e gerir, de maneira geral, os territórios e particularmente, as cidades. Esboça uma nova fase de modernização e que as mudanças que se vislumbram no urbanismo atual apontam para uma terceira revolução urbana moderna.
Capitulo 2 – a terceira modernidade
No segundo capítulo, Ascher defende a hipótese da emergência de uma terceira fase de modernização, que abandona o racionalismo simplista e as certezas da anterior fase e que prefigura uma terceira revolução urbana. Esta assenta numa sociedade mais racional, mais individualista e mais diferenciada, que o autor caracteriza:
• por uma complexidade crescente a qual promove a reflexividade da vida social em vez da crença ou da tradição;
• pela emergência de novos paradigmas científicos que o autor considera não o indício da crise da razão moderna mas o sinal do seu desenvolvimento reflexivo, destacando a importância da teoria dos jogos e escolhas limitadas, das ciências cognitivas e da teoria da complexidade, do acaso e do caos, e sublinhando a importância da noção do feedback, das abordagens processuais, das avaliações sucessivas para agir estrategicamente em contextos cada vez mais incertos, onde o conhecimento passa a fazer parte da ação;
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