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Pensamento e “Lirismo Puro” Na Poesia de Cecília Meireles

Por:   •  1/11/2022  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.186 Palavras (13 Páginas)  •  162 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA

Thayna Dantas da Silva

O TECER DE UM NOVO EU: análise da obra “Mulher ao espelho’’, de Cecília Meireles

São Paulo

03/07/2022

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA

Thayna Dantas da Silva

O TECER DE UM NOVO EU: análise da obra “Mulher ao espelho’’, de Cecília Meireles

Trabalho de aproveitamento apresentado à disciplina de Introdução aos Estudos Literários I, ministrada pelo professor Ariovaldo Vidal, para obtenção da nota semestral.

São Paulo

03/07/202

O TECER DE UM NOVO EU: análise da obra “Mulher ao espelho’’, de Cecília Meireles

Pode-se afirmar sem receio que Mar absoluto e outros poemas (1945), no qual está impresso a elegia de Cecília Meireles, “Mulher ao espelho”, evidencia-se não somente por ter alguns traços assimilados ao depuramento de Viagem (1937), — sendo tal obra célebre na crítica — mas também por detalhar profundamente a profusão de um eu frágil; propriedade muito bem transposta em cada verso de cada estrofe de “Mulher ao espelho”, e que, portanto, difunde-se na autenticidade do livro. Entretanto, por ora, destaca-se no poema a atenuação do infindável e efêmero: no qual cautelosamente os seus aspectos serão analisados, tendo em vista que vale a pena, aprofundar-se para conferir o que o manifestar do fazer poético nos proporciona.

Ademais, a “poética ceciliana”, termo utilizado por Gouvêa (2008, pg.3) conduz o olhar para à subjetividade e consequentemente, amplia-se para distintas interpretações sobre o que a autora definiria nesta obra como “pensamento e lirismo puro” atribuídos a forma poética de Meireles; no entanto, observa-se que decerto, a maior voz equivalida na tradição lírica é aquela que descreverá, detalhadamente, o estado da alma, apresentando uma persona; uma vez que a lírica “trata-se essencialmente da expressão de emoções e exposições psíquicas, muitas vezes também de concepções, reflexões enquanto intensamente vividas”. (ROSENFELD, 2006, p. 22) Sendo assim, tais questões denotam de modo geral, aspectos refletidos no pensar de mundo singular pertencentes ao eu lírico, ou seja, a própria voz que fala no poema. E como se comunica pelas emoções e pelo sentimentalismo, no qual o eu poético não mantém nenhuma ligação no sentido de ser o artista (o poeta), mas sim a condição de um sentimento dito para o mundo. Tais peculiaridades são compreensíveis na primeira estrofe do poema:

Mulher ao espelho 

Hoje, que seja esta ou aquela,

pouco me importa.

Quero apenas parecer bela,

pois, seja qual for, estou morta.

O poema todo arquiteta uma estrutura que necessita de observações muito minuciosas.  A metrificação é desenvolvida em rimas consoantes e alternadas que influenciam o andamento da sonoridade e cadências; contém também seis estrofes, de quatro versos encadeados por oito sílabas quebradas, no qual são separadas em duas partes para esta análise: a semiótica, que neste caso tratará da combinação dos signos entre si e a semântica, isto é, como tais aspectos são interpretados no âmbito da arte literária. — Para tanto, a estrofe aqui interpretada apresenta um símile composto por antítese, que cabe conjecturar como apenas uma parte da relação sintática, para obter conceitos “maiores.” 

No primeiro verso, — “Hoje, que seja esta ou aquela,” — ocorre uma oposição de abstrações com os pronomes demonstrativos, pois “esta” está relacionado a um ser ou objeto próximo da pessoa que fala, — no caso o Eu lírico — e “aquela” referente a algo que está longe. Portanto, dá-se a entender que são duas pessoas diferentes ou que foram dissemelhantes em determinado momento da vida. Pode-se articular que basicamente, são dois polos distintos, mas que vivem em um mesmo mundo, ou seja, em um mesmo corpo. Ao partir dessa perspectiva, dá-se uma estrofe toda integrada por antíteses.

No segundo verso, quando diz — “pouco me importa”, — em relação as coisas que almeja ser, logo em seguida se contradiz, pois no terceiro afirma, isto é, retifica-se “querer” ser estipulada como uma figura “bela”. Então é fácil articular que o eu lírico certamente concede relevância a esse tipo de exterioridade e como é visto por terceiros, porque está explícito no verso. Convém deste modo, extrair os elementos além do claro. Debate-se muito, correntemente, quais são os traços que carreiam a poética de Meireles, já que ela fez parte da segunda geração do modernismo, tendo tal influência explícita ao utilizar linguagem vaga e fluida, mas de momento propício para reflexão.

Entretanto, também apresenta defluência simbolista por se preocupar com o refinamento formal da poesia, sugerindo a realidade ao empregar temáticas voltadas à interioridade humana; ainda assim, anexando a todo este conjunto o ponto de vista de uma persona; é cabível então, outras fontes para compreender que a complexidade que aufere ênfase na poesia escrita por Meireles, é certamente o interesse pela morte, vertente que está atraída pelo “silêncio e a solidão”. (FARRA, 2005, pg.336) Portanto, não é possível classificar a poetisa, pois assim seria prendê-la a uma única forma, mas sim algumas características de sua poesia — sub romântica, modernista e um tanto simbolista, se assim pode-se dizer.

Posto isto, ao retornar ao poema, o termo “elegia” na sua significação moderna se transfigura em um vocábulo interessante, pois sabemos que por tal vertente “entendemos um subgênero da poesia lírica regulado por uma especialização do conteúdo: em geral, poesia de tema triste, amiúde dada a lamentação fúnebre e as reflexões melancólicas”. (RAGUSA, BRUNHARA, 2021, p.11) Ao decorrer de toda a estrofe, mostra-se a urgência, as queixas incessantes pelo belo, que por sua vez apresenta-se efêmero, como algo que nunca conseguirá alcançar, agarrar para sempre. Os pensamentos incertos, violentos e funestos influenciam o Eu lírico, que só busca encontrar a si próprio em um contexto de encaixar-se no que seria admirável, não apenas associado ao deslumbramento extrínseco, mas algo que o faça sentir-se bem, sentir-se interiormente satisfeito. O que de certo modo, é inalcançável e a bela frustração é o que o conduz. Faz-se, então, necessário prosseguir para a segunda estrofe.

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