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Resenha: Morte e Vida das Grandes Cidades - Jane Jacobs

Por:   •  28/2/2018  •  Resenha  •  2.001 Palavras (9 Páginas)  •  969 Visualizações

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Resenha: Morte e Vida das Grandes Cidades / Jane Jacobs

- Morte e vida das grandes cidades, de Jane Jacobs, se baseia em questionar o desenvolvimento do planejamento das cidades e os princípios de reurbanização em contraponto às questões socioeconômicas. O seu foco principal se mostra do conhecimento sobre o funcionamento e necessidades das cidades para, com isso, juntar informações pra que haja coerência no planejamento urbano.

 A cidade é um grande palco de vivências, poderio, diferenças sociais, arquitetônicas, de paisagens e da falta de respeito com o principal personagem, o cidadão. No seu livro, há uma crítica clara em relação à função, uso e ocupação das construções, atrelado a infraestrutura, que não valoriza a escala humana, com um crescimento urbano indiferente às necessidades sociais.

Os geradores de diversidade

Jane Jacobs traz, como ponto mais importante, quatro condições para gerar uma diversidade exuberante nas ruas e nos distritos:


 1. O distrito deve atender a mais de uma função principal. Estas devem garantir a presença de pessoas que saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura.

 2. A maioria das quadras deve ser curta; ou seja, as ruas e as oportunidades de virar esquinas devem ser frequentes.


3. O distrito deve ter uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios antigos, de modo a gerar rendimento econômico variado.


4. Deve haver densidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso inclui alta concentração de pessoas cujo propósito é morar lá. 

 “Todas as quatro, associadas, são necessárias para gerar diversidade urbana; a ausência de qualquer uma delas inutiliza o potencial do distrito” (JACOBS, pag.166).

 1 – A necessidade de usos principais combinados

 Se as ruas, parques e praças não tiver movimento de pessoas, eles não vão desaparecer. Já as empresas de bens de consumo provavelmente fecham se permanecerem vazias a maior parte do dia, estes estabelecimentos precisam de gente. A existência de movimentação que traz segurança à rua depende de uma base econômica.

 Os moradores de um distrito podem manter sozinhos um comércio pequeno, e em número limitado. Já os funcionários de bancos, hospitais, fábricas e escritórios conseguem garantir um movimento razoável nos restaurantes e lanchonetes. Um distrito deve oferecer diversidade não apenas para os seus moradores, mas também para as pessoas que nele circulam. Os empreendimentos dali atraem gente para as calçadas, isso ocorre também à noite, neste caso, com os moradores do distrito e visitantes que querem espairecer.

 Para entender melhor, Jacobs deu como exemplo Manhattan, o centro comercial deste distrito atraia uma quantidade imensa de frequentadores para uma área muito compacta. Os usuários representavam uma demanda impressionante de refeições, serviços culturais e de varejo, no entanto, cinemas, lojas, mercearias etc. fecharam suas portas. Os empreendimentos se mudaram para a zona central de Manhattan, de uso misto, onde estavam os clientes que já tinham feito seus contatos pessoais de negócio, como os bancos e firmas de advocacia. Por outro lado, ao redor dos edifícios de escritórios que compõem o centro comercial de Manhattan existia uma área estagnada e decadente, com vazios e vestígios de indústrias. Aí vivia muita gente. Gente que desejava tanto a diversidade urbana que chegava a ser impossível não se mudar em busca dela em outros lugares.

‘’Basta aparecer em qualquer loja comum e observar o contraste entre a multidão da hora do almoço e a monotonia nos outros horários. Basta observar a quietude mortal que se abate sobre o distrito depois das cinco e meia e nos sábado e domingos inteiros’’ (JACOBS, p.170).

 As atividades dos empreendimentos deste lugar se resumiam a poucas horas do dia. Para manterem-se abertos, alguns estabelecimentos conseguiam cobrir suas despesas e tirar algum lucro das multidões da hora do almoço, outros conseguiam isso mantendo suas despesas fixas (como o aluguel) abaixo do normal, é esta a razão de se instalarem em prédios antigos e decadentes. Para Jacobs, já que sabiam que a raiz do problema é o desequilíbrio de horários de uso, o que precisaria ser feito para melhorar isso?

 A estratégia era estimular a presença de pessoas nos momentos em que o distrito mais precisa delas para equilibrar os horários de uso. Para isso, devia haver usos que atraiam visitantes nos períodos em que as ruas estavam vazias. Os turistas e gente da própria cidade completam este perfil de frequentadores. Se o distrito consegue atrair público novo, consegue ser atraente também para os moradores e trabalhadores. Estes novos usos devem combinar com o perfil do distrito, como praias, gastronomia, arquitetura etc. À medida que o distrito fica mais animado, inclusive à noite, o uso residencial vai surgindo espontaneamente.

 2 – A necessidade de quadras curtas

 A segunda condição para a diversidade, segundo Jacobs, é de que as quadras sejam curtas. As pessoas que moram em quadras longas precisam andar grandes distâncias para chegar a lugares que poderiam estar mais próximos, caso tivessem mais oportunidades de virar a esquina. Vizinhanças separadas não permitem o entrosamento entre os moradores. As quadras muito grandes, isolam seus moradores em pequenos grupos, além disso, se precisarmos andar muito, pegar ônibus para chegar ao comércio de ruas próximas, é bem capaz que passemos anos sem andar pelas quadras vizinhas. No setor econômico isso resulta como uma maior oferta de pontos viáveis para o comércio.

 Os empreendimentos pequenos precisam de cruzamentos maiores de pedestres para atrair fregueses ou clientes. As quadras longas ‘neutralizam’ as vantagens que as cidades propiciam a estes empreendimentos. Nos distritos que conseguem sair da pobreza e se tornam prósperos, as ruas não são feitas para desaparecer. Pelo contrário, onde é possível, elas se multiplicam. As ruas numerosas e quadras curtas são valiosas para promover uma articulação de usos combinados e complexos entre os usuários do bairro, elas representam a forma como estes usuários chegam ao seu objetivo através do trajeto que eles fazem. Estes objetivos não podem ser limitados por um loteamento repressivo ou construções padronizadas que impedem o livre desenvolvimento da diversidade. Jacobs deixa claro que as ruas numerosas ajudam a gerar diversidade à medida que ela atrai usuários diversificados.

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