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Resumo: A Arte como um Sistema Cultural

Por:   •  26/4/2015  •  Resenha  •  1.696 Palavras (7 Páginas)  •  3.200 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE TECNOLOGIA

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

ESTÉTICA DAS ARTES PLÁSTICAS

DISCENTE:

Adriano Tavares Matos – 201304340013

Resenha: A arte como um sistema cultural

Belém-PA

2015

Resenha do capítulo 5 “A arte como um sistema cultural”, integrante do livro “O Saber Local: novos ensaios em Antropologia Interpretiva” de Clifford James Geertz.

Em seu ensaio “A arte como um sistema cultural”, Clifford James Geertz trabalha a questão da arte ser algo de que o discurso não dá conta de explicar e, ao mesmo tempo, as pessoas se sentirem atraídas pela ideia de falar sobre arte.

Para o autor, considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea – a chamada Antropologia Hermenêutica ou Interpretativa – isso acontece porque, ao nos depararmos com uma obra de arte, percebemos que há ali algo importante e tentamos expressar o que sentimos, mas as palavras soam vazias e falsas ao falar sobre arte. Como cita Geertz “quando não somos capazes de falar, devemos ficar em silêncio”, no entanto, os próprios artistas não conseguem fazê-lo.

Apesar da aparente inutilidade em se falar sobre arte, discutir arte é uma necessidade incessante, diz o autor. No entanto, boa parte das pessoas discute arte em termos artesanais, colocando as cores de uma obra de arte e suas relações acima de temas como harmonia ou composição pictórica, dando a entender que toda a orientação artística é baseada em formalismos estéticos, representado pelo estruturalismo, segundo Geertz, isso nada mais é que uma tentativa, para os vários tipos de semiótica que buscam essa orientação formal, de generalizar esta maneira de ver a arte, tornando-a mais abrangente, e elaborando uma linguagem técnica capaz de expressar as relações dentro do campo artístico e estético. No ocidente algumas pessoas chegam mesmo a acreditar que isso é suficiente para se entender a arte. Mas a maioria crê que isso não é suficiente, e que a discussão nesses termos deriva de interesses culturais que não são a arte em si.

A função do discurso sobre arte é buscar para esta um lugar no contexto das demais expressões dos objetivos humanos, seja na individualidade ou na coletividade, e dos modelos de vida a que essas expressões dão sustentação. Geertz faz uma análise dos fatores que fazem com que algo seja definido como uma obra de arte. Essa definição nunca é puramente estética, mas sim uma forma de anexação a outras formas de atividade social, com a intenção de incorporar essa apreciação estética a um padrão de vida.

Essa atribuição de um significado cultural a objetos de arte é sempre um processo local e a incapacidade de compreender essa variedade é a responsável por fazer com que muitos estudiosos da arte não-ocidental digam que povos primitivos falam pouco sobre arte. No entanto, povos primitivos falam sim sobre arte, mas não da mesma forma como o fazem os pesquisadores, em termos de propriedades formais (como discutido a posteriori), conteúdo simbólico, valores afetivos e estilísticos. Os povos primitivos falam sobre arte ao dizer como ela deve ser usada, quem é seu dono, quem o faz, quando é tocado, quem desempenha papel nessa ou naquela atividade e assim por diante, ou seja, a arte está intrinsicamente relacionada com o modo de vida local.  A questão é que a atitude dessas sociedades com relação à arte é vista pelos pesquisadores não como discurso sobre arte, mas somente como parte de suas atividades sociais, de sua vida cotidiana. A relação que possuem com arte passa despercebida ao nosso plano de visão (ocidental).

Como resposta a isto, Geertz cita Matisse, que dizia que os meios através dos quais a arte se expressa e o sentimento pela vida que os estimula são inseparáveis. Portanto, o diálogo em torno do objeto de arte, ainda que discutindo sua função ou quem o possuía, era uma forma das sociedades primitivas exteriorizarem sentimentos que levaram à sua execução, ou seja, uma forma de falar sobre arte, divergindo do habitual modo ocidental. Ainda segundo o autor, “o sentimento que um indivíduo, ou, o que é mais crítico, já que nenhum homem é uma ilha e sim parte de um todo, o sentimento que um povo tem pela vida não é transmitido unicamente através da arte. Ele surge em vários outros segmentos da cultura deste povo: na religião, na moralidade, na ciência, no comércio, na tecnologia, na política, nas formas de lazer, no direito e até na forma em que organizam sua vida prática e cotidiana”. Pelo fato de ser impossível separar a arte do sentimento que estimulou sua execução, estudar a arte é explorar uma sensibilidade que é, essencialmente, uma formação coletiva.

Essa forma de ver a arte nos afasta da visão funcionalista, que vê as obras de arte como mecanismos elaborados para definir as relações sociais, mantendo suas regras e fortalecendo seus valores. Para Geertz, as formas de arte não pregam doutrinas. Elas materializam uma forma de viver, evidenciando um modelo de pensamento para o mundo dos objetos, tornando-o visível. Deste ponto de vista, o valor que as diferentes sociedades atribuem a elementos como o traço e a linha é derivado de significados da sua própria cultura. Por isso, o que se fala sobre arte, inclusive o que não faz parte reconhecidamente do discurso estético (como a chamada arte primitiva), é importante na reflexão sobre arte, para tentar apreender a origem dos valores artísticos nas diferentes sociedades.

Os antropólogos reagem a esta união entre a cultura e os valores estéticos replicando que isso pode ser verdade para os povos primitivos, que fundem os vários domínios de sua experiência em um todo gigantesco, mas que isso não se aplica a culturas mais desenvolvidas. Contrapondo esse argumento, Geertz analisa dois empreendimentos estéticos desenvolvidos e muitos diferentes (seja do ponto de vista estético, histórico e geográfico): a pintura do quattrocento e a poesia islâmica. Para falar sobre a pintura italiana do século XV, Geertz cita a análise de Michael Baxandall, no livro “Painting and experience in fifteenthcentury italy”, que procura estabelecer “o olhar da época, a bagagem intelectual que o público de um pintor do século XV, isto é, outros pintores e as ‘classes patrocinadoras’ trazia no confronto com estímulos visuais complexos, como quadros”. Isso significa que as pessoas são sensíveis a vários tipos de habilidades interpretativas, e que essas habilidades não são inatas, mas parte da bagagem cultural de cada homem, que ordena a sua experiência visual.

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