TIC TAC TOE: UM ANTI-PROJETO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO PARA VOTUPORANGA-SP
Por: thiagoluchi • 28/9/2015 • Artigo • 1.638 Palavras (7 Páginas) • 325 Visualizações
RESUMO ESTENDIDO
TIC TAC TOE: UM ANTI-PROJETO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO PARA VOTUPORANGA-SP
LUCHI, Thiago Miranda. Aluno da UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga.
FIORIN, Evandro. Docente da UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga.
RODRIGUES, Mara Regina Pagliuso. Docente da UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga.
A história do município de Votuporanga está ligada ao ciclo econômico do café. A cidade surgiu a partir de um empreendimento imobiliário de uma empresa de origem alemã. Foi fundada às pressas, inaugurada no ano de 1937 e, apenas sete anos após sua fundação, a ganhou sua emancipação. A dinâmica econômica, social, política e demográfica da franja pioneira foi muito intensa. A cidade ganhava forma e funções urbanas muito rapidamente, emergia toda uma vida social marcada por conflitos na apropriação física e simbólica do espaço, na disposição sobre seu uso e na vigilância sobre aqueles que lhe ocupavam. [1]
No ano de 1979, momento em que se estrutura o Pólo Comercial e Industrial de Votuporanga e os dois primeiros distritos industriais, em 1978 e 1979, inicia-se uma expansão ao norte e noroeste do perímetro urbano, conformando aglomerações de moradia popular, já que as indústrias requeriam aproximação das áreas de moradias operárias. Ou seja, a produção do espaço passa a se orientar em função das necessidades do pólo industrial. Contudo, ao mesmo tempo em que avança a ocupação da moradia popular em direção à expansão norte, configura-se um efeito indireto de enobrecimento da zona sul. [2] A partir desse ponto de vista, houve o surgimento de novos loteamentos na área norte, por interesse do capital imobiliário. Era interessante para as indústrias a implantação de loteamentos próximos, mas o problema é que não existia uma preocupação de que esses bairros fornecessem infra-estrutura urbana mínima, possibilitando melhor qualidade de vida para a população.
A partir da década de 1990, o processo de modernização tecnológica das indústrias de Votuporanga, causou a desfuncionalização do I Distrito Industrial e desemprego, o que fez com que os trabalhadores fossem obrigados a procurar lugares com baixo custo de vida, ainda acessíveis na cidade, já que todos buscam no espaço intra-urbano aquele lugar que oferece melhores condições de moradia, fácil deslocamento e proximidade para o consumo. Entretanto, a tomada desses espaços se torna cada vez mais difícil, gerando uma disputa constante entre as camadas ricas e pobres. Assim, as camadas operárias são expulsas para loteamentos cada vez mais distantes do centro da cidade.
Votuporanga é uma cidade marcada pela especulação imobiliária desde a sua formação. Hoje ela tem uma área central mais bem atendida pelos equipamentos urbanos, o “centro tradicional”, uma área bem estruturada com alto valor imobiliário. Atualmente, por iniciativa do poder público, pretende-se inclusive “revitalizar” a principal rua comercial, a Amazonas, transformando todo o trecho entre as ruas Itacolomi e Ceará, em um sofisticado bulevar urbano que prevê a valorização do comércio, organização espacial, modernização do centro e melhoria da infra-estrutura.
Até que ponto vale a pena modernizar a Rua Amazonas? A “revitalização da Rua Amazonas é uma das premissas pelo projeto Vida Nova. (...) A mudança física proposta pelos arquitetos segue o Manual de Acessibilidade como foi feito na Rua Oscar Freire, em São Paulo, em Araraquara e no centro de Marília. As principais modificações dos postes, o alargamento das calçadas dos dois lados e nas áreas próximas às esquinas, a instalação de bancos, lixeiras, luminárias, objetos de decoração e trabalho de paisagismo” [3]. Construir ou não construir uma Oscar Freire na Rua Amazonas? Aumentar o valor imobiliário de uma área que já tem alto valor ou não? Em quem o poder público deve pensar: Na maioria ou na minoria da população? Questões como essas endossam a ideia de que existem outros problemas na cidade para serem solucionados, talvez um dos maiores problemas que a cidade possui é a falta de infra-estrutura para acomodar toda a população, como os moradores de rua, pessoas que não tem condições mínimas de sobrevivência.
Vale ressaltar que modernizar a Rua Amazonas é aumentar o valor imobiliário dessa área, onde o custo já é altíssimo, intensificando ainda mais a especulação fundiária. Acreditamos que seria mais importante a criação de projetos que fortalecessem o surgimento de novas centralidades urbanas. Nesse caso, seguindo essa linha de raciocínio, sobre a multiplicidade de possibilidades de projeto arquitetônicos e urbanísticos que podem ser distribuídos pela cidade, especulamos uma alternativa de trabalho.
Tic Tac Toe (jogo da velha) é um jogo que acontece em cima de um tabuleiro, formado por uma matriz de linhas entrecruzadas e seus interstícios, são marcados pelos xis (X) e círculos (O) e devem ser escolhidos seguindo o objetivo de formar um seguimento de caracteres iguais sem interrupção. Cada marcação é definidora de um espaço, uma ação que consiste num processo de territorialização do vazio, porque cada lacuna preenchida, não poderá mais ser redefinida. Em Tic Tac Toe o jogador é livre para jogar onde quiser, em qualquer lacuna seguindo sempre a mesma lógica, com regras simples de jogada.
Aproximamos essa jogatina ao espaço da cidade, nela, tal como no jogo da velha, você tem um leque de alternativas arquitetônicas e urbanísticas a serem implementadas dentro das leis definidoras das quadrículas (tabuleiro). As lacunas do jogo serão comparadas com os espaços vazios da cidade, após cada jogada, ou cada intervenção, surge uma estrutura definidora, um território constituído.
Dessa imagem surge nosso projeto, o cubo, que pode ser comparado com um rizoma, pois “forma uma rede. Num rizoma é possível entrar por qualquer lado, cada ponto se conecta com qualquer outro, não há um centro, nem uma unidade presumida, em suma, o rizoma é uma multiplicidade” [4].
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