Tell el Amarna: Redesenhando a arquitectura egípcia clássica ou dando corpo ao miticismo de Aton
Por: Joana Martins • 15/6/2018 • Trabalho acadêmico • 5.080 Palavras (21 Páginas) • 280 Visualizações
INSTITUTO SUPERIOR MANUEL TEIXEIRA GOMES
ISMAT
MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA
PAULO BRUNO LARANJEIRA MARTINS
HISTÓRIA DA ARQUITECTURA II
Tell el Amarna: Redesenhando a arquitectura egípcia clássica ou dando corpo ao miticismo de Aton
PORTIMÃO
2016
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 3
CONTEXTO HISTÓRICO 5
A NOVA CIDADE DE AMARNA 9
DA NOVA ARQUITECTURA E ARTE DE AMARNA 13
CONCLUSÃO 20
BIBLIOGRAFIA 22
INTRODUÇÃO
A arquitectura egípcia clássica é sobejamente conhecida, tendo elementos desta tornado-se ícones da nossa civilização e símbolos da monumentalidade que o engenho humano divisa. As pirâmides especificamente são claramente símbolos reconhecidos em qualquer parte do mundo e admiradas pela sua grandiosidade, pela dificuldade da sua construção, pela sua significância histórica.
Mas esta arquitectura, ainda que magnífica, terá sido sempre notavelmente faraónica, política e religiosa, pouco diversificando a níveis mais modestos. De facto, os grandes exemplos desta arquitectura são os templos, as pirâmides, as esfinges, os obeliscos, as mastabas e os hipogeus, sendo estas construções caracterizadas tipicamente pelas dimensões grandiosas; pela simplicidade nas formas; pelo aspecto maciço e pesado; pela predominância das superfícies sobre os vazios; e pela policromia.
Qualquer destas obras implicava um sem número de pessoas envolvidas, desde os próprios arquitectos, os escribas, os medidores e os trabalhadores, que garantiam o trabalho pesado. Implicava também um planeamento extenso e uma concepção demorada, que até hoje surpreende os arqueólogos, muitos dos quais – de resto – se esforçam por replicar os métodos construtivos egipcios para perceber como foi possível efectuar as construções, que hoje podemos admirar.
Mas, ainda que seja admirável a forma como conceberam o transporte de pedras de dimensões enormes e as incluiram no processo construtivo sem recurso a máquinas e também como calcularam estruturas resistentes e com uma durabilidade milenar; tem que ser apontada a sua “falta de vontade” para inovar na utilização e criação de novos materiais construtivos mais maleáveis e adaptáveis, assim como a pouca evolução na própria arquitectura ao longo de três milénios, já que nesse tempo as fórmulas para a arquitectura clássica egípcia pouco mudaram.
Imagem 1 – Tipos de colunas egípcias; Imagem 2 – Estrutura interna de uma pirâmide egípcia.
Imagem 3 – Esquema de um templo egípcio
Mas a certa altura, esta quase imutabilidade é transformada e nasce todo um novo imaginário da história e da arquitectura egípcia com Amenófis IV da XVIII Dinastia Egípcia, que após doze anos de co-regência com seu pai Amenófis III sobe ao trono (1352 a 1336 a.c.) e coloca toda a ordem egípcia em sobressalto ao criar uma nova religião, uma nova expressão do quotidiano, uma nova arte e uma nova arquitectura. É todo um novo mundo que nasce, como veremos em seguida, em Akhetaten (o horizonte de Aton).
Imagem 4 – Entrada do Grande Templo de Aton
CONTEXTO HISTÓRICO
A cidade actualmente chamada Tel El Amarna foi criada por Amenófis IV num anfiteatro natural entre penhascos numa faixa de aproximadamente 12 a 13 km a Este ao longo do Rio Nilo. Terá sido neste local que Aton, a entidade divina adorada pelo Faraó, lhe disse para construir a sua nova capital, Akhetaten – o Horizonte de Aton. A nova cidade sagrada encontrava-se rodeada no seu perímetro por estelas reais, cada uma um rectangulo com um topo semi-circular, esculpida em pedra. Nestas estelas podia-se ver o culto de Aton pela família real, assim como decisões, intenções e proclamações do Faraó.
Imagem 5 – Vista da Cidade Central
De facto, Amenófis IV, mudou o seu nome para Akhenaten (Aton está satisfeito), após a morte de seu pai.
O reinado de Amenófis III, seu pai, pautou-se por um período de prosperidade e paz, muito pelo facto de assentar as suas decisões políticas na diplomacia, ao invés da guerra. Este faraó é particularmente conhecido pelo seu patrocínio às artes, ciências e arquitectura e por introduzir na cultura e arte egípcias elementos estrangeiros.
Ainda assim o seu reinado teve também os seus problemas, essencialmente originados pela hostilidade com os Hititas e pelo crescente poder dos sacerdotes de Tebas.
Quando Amenófis IV finalmente sobe ao poder, após a morte de seu pai, começa imediatamente a construção de novos templos e projectos similares em honra ao novo Faraó, mas após um ou dois anos o estilo construtivo e os objectivos começam a mudar e é nessa mudança física que se percebe que o novo Faraó se quer afastar o mais possível dos seus predecessores, indo ao ponto de deixar a panóplia de Deuses Egípcios de lado para passar a adorar Aton ou o astro-rei, criando o que muitos dizem ser a primeira religião monoteísta (ou henoteísta) do mundo e, como referido anteriormente, mudando o seu nome para Akhenaten e afirmando-se como o enviado de Aton na Terra.
Nefertiti, a primeira esposa do faraó, tem também um papel preponderante em todas estas mudanças, sendo o braço direito do faraó e mesmo sacerdotisa na nova religião criada.
O seu papel e importância foi crescendo ao longo dos tempos, o que se pode perceber nas próprias representações de Akhenaten e Nefertiti, pois se de início a imagem de Nefertiti aparece bem menor do que a do Faraó, o seu tamanho vai aumentando com o passar do tempo, até surgir como igual ao lado do marido.
Estas mudanças, no entanto, não foram bem recebidas por muitos, especialmente pelos sacerdotes de Tebas, que de repente se viram postos de lado, com a proibição de adoração da panóplia de deuses que anteriormente constituiam o cerne religioso egípcio.
De facto, discute-se que todas estas
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