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A Complexa Relação entre a Cultura e a Educação: Usos, Acepções e Definições de Cultura

Por:   •  5/4/2015  •  Bibliografia  •  2.422 Palavras (10 Páginas)  •  240 Visualizações

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A Complexa Relação entre a Cultura e a Educação:

Usos, Acepções e Definições de Cultura

Artigo | Outubro 2, 2008 - 9:58am | Por Mbela Isso 

Usos, Acepções e Definições de Cultura

O conceito de cultura remonta ao século XVIII, na Alemanha. Na altura, o mesmo foi abordado num domínio muito específico que é o da História Universal. Esteve ligado, inicialmente, ao Método Histórico e serviu para descrever a evolução progressiva dos conhecimentos e de especializações numa determinada área (Abdelmalek, 2000). A cultura foi, assim, entendida como o conjunto de capacidades e saberes em posse de um determinado grupo social, elite ou sociedade, incluindo aspectos literários, artísticos, matemáticos e filosóficos. Williams, citado por Fisher (1997), na sua categorização, designa esta concepção por humanista ou estética por considerar as sociedades que produzem excelentes obras de arte como as mais cultas. É usual ouvirmos esta concepção no dia-a-dia, sobretudo quando se afirma que um grupo é mais culto que o outro.

 

A segunda é concepção antropológica de cultura que se refere ao estilo vida especifico de um determinado grupo de pessoas, englobando elementos como os valores, costumes, normas, estilos de vida, organização social e outras. Esta concepção é também utilizada no nosso quotidiano (senso comum) quando, por exemplo, nos referimos à cultura Tchokwe, à cultura angolana. Millan (2000) diz-nos que a concepção antropológica de cultura é a que nos permite falar, por exemplo, de várias culturas num mesmo contexto (cultura dos operários).

Outra concepção de cultura que nos aparece na subdivisão de Williams  é a sociológica e que diz respeito ao processo de desenvolvimento intelectual, espiritual e estético. Este conceito pretende, assim, caracterizar aspectos referentes ao desenvolvimento cultural de um povo visto em termos da ciência e da tecnologia. Quando se diz, por exemplo, que o ocidente é, tecnologicamente mais desenvolvido que o terceiro mundo, está-se, tacitamente, a falar do lado sociológico da cultura. Temos, por último, a concepção psicanalítica de cultura, avançada por Freud, citada por Fisher (1992), para quem fazem parte da cultura as tensões intrapsíquicas, com base social, que impedem a livre expressão do ego. Este facto não só afecta a personalidade, como pode, inclusivamente, gerar traumas psíquicos no sujeito. Não é difícil vermos esta concepção em situações de imigração onde um grupo minoritário se vê na necessidade de se aculturar à cultura maioritária. A pesar da existência dessas concepções a definição do conceito de cultura continua marcada por muita controvérsia e dificuldades.  Podemos, só para dar um exemplo, citar o facto de que Kroeber y Cluckhoholm (1952) ao fazerem uma análise do conceito de cultura encontraram nada mais nada menos que 160 definições diferentes. Assim, para não tornarmos exaustiva esta análise vamos referir-nos, sucintamente, a algumas definições de cultura para, no fim, nos fixarmos na que servirá de base para a construção do nosso modelo teórico de análise.

A primeira definição é, obviamente, a apresentada pelo pensamento positivista que imperou ate meados dos anos 50. Define-se, neste pensamento, a cultura, como o conjunto de costumes, normas, mitos e crenças, com carácter universal, que, sob a forma de condicionamento externo, moldam o comportamento das pessoas. Estudos baseados nesta definição enquadram-se no paradigma cooperativista da antropologia sócio-cultural. Um dos méritos é, por exemplo, o facto de terem permitido  identificar, através de estudos comparativos, o que temos de comum e de diferente (Millan,2000).

Outra definição de cultura contrapõe a organização social à cultura e pode ser encontrada em autores como Edward Taylor, (britânico) e Kroeber y Cluckhoholm (norte-americanos). Edward Taylor (1871) define o conceito de cultura como civilização, incluindo elementos como as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e um amplo conjunto de aptidões e hábitos que o homem adquire como membro da sociedade. No entanto, a definição de Taylor, embora muito utilizada nos dias de hoje, foi considerada por Kroeber e Cluckhoholm como incompleta e imprecisa, sobretudo por não especificar a que aptidões e hábitos adquiridos pelo homem Taylor se referia.

A cultura para Kroeber e Cluckhoholm (1952) pensadoras da Antropologia Cultural Norte Americana a cultura consiste numa gama de comportamentos adquiridos e transmitidos através de símbolos, tendo como núcleo as ideias tradicionais (valores e sistemas culturais) produtos da acção humana e por elementos que irão condicionar a acção futura dos homens. Entanto. Esta definição tem sido também objecto de crítica pelo facto de enfatizar apenas os critérios externos do meio como formador da cultura. Ela induz-nos a conceber o homem como um ser passivo que vai recebendo in-puts do meio sem qualquer capacidade para criar a própria cultura. Surge-nos, assim, Ward Goodenough, citado Por Reynoso (1986), com uma definição de cultura muito próxima da psicologia, concebendo-a como  uma representação simbólica que os indivíduos adquirem durante o processo de enculturação. Embora esta definição seja muito criticada, pelo seu carácter psicologista, é ainda utilizada nos Estados Unidos da América.

Temos, por último, a definição de Clifford Geertz (1984) enquadrada na hermenêutica antropológica. Este pensador defende a ideia de que o conceito de cultura é semiótico. Deve, por isso, ser entendido como algo que dá sentido (significados vividos e experienciados por uma determinada comunidade) aos eventos da vida quotidiana. Outro aspecto a destacar nesta definição é o facto de se enfatizar, na cultura, o aspecto significativo que o contexto exterior dá à cultura interior de um indivíduo, numa dialéctica de objectivação e subjectivarão. Nesta linha de ideias as coisas quer feitas por um grupo humanos quer as existentes na natureza possuem um determinado significado (semântica semiótica). Por outras palavras, cada grupo ou pessoa atribui conotações particulares às coisas que podem não coincidir com a de ouros grupos ou indivíduos. Tal significado é, no entanto, dado em função do contexto cultura de um determinado grupo. O contexto diz respeito ao meio ambiente que envolve o homem ou um grupo de pessoas e que, afecta, por um lado, o intelecto do sujeito, sob a forma de conhecimentos e, por outro, lhe dá a sua visão do mundo. Devemos, no entanto, centrar-nos sobremaneira naqueles aspectos do ambiente com significado para a formação e desenvolvimento da cultura de um determinado grupo de indivíduos.

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