LIMITES DO ACADEMIQUÊS (FICHAMENTO)
Por: luiscarlospalmas • 10/6/2015 • Trabalho acadêmico • 1.862 Palavras (8 Páginas) • 267 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
LIMITES DO ACADEMIQUÊS
(FICHAMENTO)
LUIS CARLOS DOS ANJOS OLIVEIRA
1° Periodo do Curso de Ciências Contabéis
Português Instrumental
Professor: Ary Carlos
- Limites do Academiquês
- Crescimento da produção científica chama a atenção para os vícios e a pobreza de linguagem de muitos textos criados em universidades e instituições de ensino.
- Segundo o estudo do professor Daniel Oppenheimer, há relação inversa entre a complexidade linguística de um texto acadêmico e a inteligência que ele assinala. Em outras palavras, as pessoas não confiam num autor ou cientista quando ele carrega um texto com palavras extravagantes.
- “Qualquer coisa que torne um texto difícil para ser lido e compreendido, como palavras desnecessariamente longas ou estruturas rebuscadas, abaixará a avaliação dos leitores sobre o texto e seu autor", declarou na divulgação de seu trabalho.
- Solene e esnobe
- Ph.D. em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Stanford, Oppenheimer fez pós-graduandos americanos passarem por cinco experiências de interpretação de ensaios de Descartes, sumários de teses e resenhas acadêmicas, para concluir que se aumenta a complexidade do vocabulário de textos ensaísticos para dar a impressão da inteligência.
- Mas palavras longas e eruditas demais fazem um autor parecer estúpido. Escritores que usam desnecessariamente palavras e estilos complicados são vistos como menos inteligentes do que aqueles que usam vocabulário básico num texto claro.
- Equívocos
- De acordo com Gilson Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), muitos pesquisadores não dominam conceitos básicos da redação científica. Especialista em redação e publicação científica, ele lançou um dicionário crítico para redação científica em parceria com cinco colegas. Com definições de 750 termos de várias áreas, a ideia é contribuir para corrigir e balizar conceitos de escrita usados erroneamente por pesquisadores brasileiros.
- O problema salta mais aos olhos devido ao crescimento vertiginoso da produção acadêmica brasileira. Em uma década, de 2001 a 2010, mais que dobrou o número de mestres e doutores titulados no Brasil. De 26 mil pesquisadores formados, passou a 53 mil, segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
- Coesão
- É comum, diz Volpato, equívocos de estrutura e apresentação dos textos no item ou capítulo de introdução de trabalhos acadêmicos.
- Muitos pesquisadores costumam apenas discorrer, nessa parte, sobre a literatura científica que leram, sem fundamentarem as bases e os objetivos da pesquisa. Artigos de revisão científica, por sua vez, têm de trazer novas conclusões, mas muitos limitam-se a coletar e resumir dados da literatura recente em dada área.
- Carmem Luci da Costa Silva, professora de língua portuguesa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, considera um grande problema a falta de coesão discursiva entre teoria, método e análise.
- Muitos autores têm dificuldades em amarrar a sua construção teórica aos outros movimentos ligados à tese: a metodologia e a análise.
- Falta, muitas vezes, a costura entre as partes do texto. Uma tese bem-sucedida é aquela que, além de apresentar uma contribuição científica - por tratar de uma questão inédita -, constitui-se como uma produção autoral do início ao fim, seja em termos estruturais, seja no uso da língua - conclui.
- Ainda mais grave é a inabilidade em citar outros autores. Resultado de um trabalho de investigação científica, um texto acadêmico requer de seu autor a leitura de outros textos de seu campo de pesquisa. Se mal dosado, o excesso de citações mina a credibilidade do escrito.
- O texto acadêmico não segue as mesmas regras da redação não científica. Nem tudo o que aprendemos na redação não científica vale para a científica, alerta Gilson Volpato, professor da Unesp, daí o destaque a ser dado a certas características do texto acadêmico:
- Síntese - Nem mais nem menos que o essencialmente necessário, tanto em termos de informação quanto de palavras;
- Objetividade - Tanto quanto possível, evite frases ou palavras que permitem dupla interpretação;
- Voz ativa - Seja direto. Prefira voz ativa sempre que possível;
- Personalidade - Escreva na 1ª pessoa, considerando que as conclusões científicas não são verdades em si, mas interpretações do cientista - serão estabelecidas na população científica quando uma parcela importante dessa comunidade aceitá-las;
- Base em evidências - Nas ciências empíricas, só se aceitam conclusões que tenham alguma evidência reconhecida pelos demais cientistas.
- Citação
- Os autores pesquisadores participam de um complexo processo de diálogo entre três universos, avalia Siane Gois, professora de letras da Universidade Federal de Pernambuco. Ao escrever, eles interagem com as regras, que, na academia, orientam essa produção; com os teóricos, que embasam o seu dizer; e com o seu destinatário.
- A professora da UFPE diz que a falha pode ser a maior força de um texto acadêmico.
- É preciso, afinal, seguir as regras da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para citar outros autores, sem sentir-se limitado por elas.
- Tais regras não são engessadoras da expressão da individualidade e do estilo dos autores. É por isso que uma leitura atenta de teóricos consagrados permite a um especialista de dada área identificar o autor pela percepção do seu estilo, suas marcas pessoais impressas no fio discursivo - explica Siane.
- Estilo
- Antônio Carlos Xavier, da UFPE, concorda, mas pondera que a linguagem acadêmica deve preservar suas características para ser reconhecida, respeitada e perpetuada.
- Escreve-se para os pares acadêmicos e não para o público em geral. Mas nada impede que o mesmo texto perca o formato acadêmico e ganhe o formato de livro para ser lido pelo grande público - afirma.
- Isabela Barbosa do Rêgo Barros, doutora em Letras, professora do mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade Católica de Pernambuco, avalia que não se deve temer o "academiquês", pois ele caracteriza o gênero textual científico.
- Escrever um texto acadêmico exige um discurso e um suporte textual específico, pois é diferente das produções publicadas em revistas ou jornais de grande circulação. Poderíamos evitar o exagero no uso do "Academiquês", pois provoca distorções. A qualidade está na clareza com que o tema é tratado - afirma.
- Para Carmem Luci, da UFRGS, para evitar o "Academiquês", é preciso investir em um estilo próprio. É fundamental a articulação das novas habilidades de língua escrita com as já adquiridas, o estabelecimento de um jogo entre o que é de ordem repetível dos gêneros da esfera acadêmica e o que é de ordem irrepetível, ligado à atualização sempre renovada da língua.
- Inovação
- Falta inovar. Para Xavier, da UFPE, a maioria dos pesquisadores se limita a aplicar modelos teóricos, alguns já obsoletos, em problemas novos no interior de uma sociedade em constante renovação, inclusive de teorias. O texto acadêmico precisa ser mais aberto à pluralidade de formas de comunicação - diz.
- A exigência da versão impressa dificulta, na opinião de Xavier, a inserção de informações hoje apenas perceptíveis em suportes digitais. O discurso acadêmico teria muito a ganhar, avalia, se os pesquisadores aderirem à prática da produção de mensagens em que o texto verbal esteja mesclado a outras formas de enunciação.
- Burocratização
- Volpato questiona o modelo ligado à nossa cultura barroca e burocrática, enquanto a ciência internacional segue o padrão de países mais objetivos. A maioria não tem novidade suficiente para a ciência internacional.
- Um texto internacional precisa de quatro qualidades: novidade nas conclusões; metodologia robusta; resultados evidentes e apresentação impecável. Sem uma dessas, já terá muita dificuldade. Um cientista, ao ler um texto, espera dele uma grande novidade, algo que ele não imaginava. Temos de ser mais ousados e empreendedores na ciência, para o que a pós-graduação não nos ampara suficientemente - diz.
O tempo tem sido inimigo do texto acadêmico, diz Carmem Luci.
- O Brasil vive um momento de expansão na formação de mestres e doutores, e isso é muito bom para o universo científico. Porém, a necessidade de cumprir as exigências da produção provoca uma distorção na relação qualidade/quantidade dos textos acadêmicos, destacando um aumento na produção de algumas áreas ou temas específicos, porém com um decréscimo na qualidade - afirma Isabela Barbosa do Rêgo Barros, da Universidade Católica de Pernambuco.
- Para o linguista Manoel Santiago Almeida, da USP, quem está na vida acadêmica não pode descuidar da própria produção. Há preocupação com a qualidade e a aplicação dos resultados de tanta pesquisa e produção acadêmica em prol do desenvolvimento do país em todas as áreas.
- Um dos mais graves problemas dos trabalhos acadêmicos é o constante uso de textos sem identificação de autoria. A citação fortalece o texto acadêmico, valorando o trabalho realizado. Mas deve-se ter o cuidado de não fazer uma colcha de retalhos. O dizer do pesquisador é fundamental e a sua tomada de posição é o que determina os resultados da sua investigação - diz Carlos Andrade, da Universidade Cruzeiro do Sul.
- Produção
- Embora não se saiba a quantidade exata de monografias, teses e dissertações defendidas nos cursos de Letras e Linguística do país, estima-se que este número vem em escala crescente. Para se ter ideia, em 2012, a UFPE contabilizou 15 dissertações (mestrado) e 10 teses (doutorado) só em Letras, num universo de 929 dissertações e 389 teses; 5 de doutorado interinstitucional; e 28 mestrados profissionais (não necessariamente dissertações).
- Na UFRGS, Letras teve 65 defesas de mestrado e 32, de doutorado; este ano, até agora, foram 53 defesas de mestrado e 22 de doutorado.
Não ter sistema confiável que dimensione a qualidade dessa produção em Letras dificulta a ação na área.
- É um problema na área de humanas, que tem sua maior produção em livros, o que dificulta os indexadores existentes que funcionam bem para a produção de artigos - diz Carlos Andrade, da Unicsul.
- Escrever para os próprios pares não pode ser pretexto para ser truncado e mal escrito. Ser claro não é ser tatibitate. O equilíbrio pode ser tão decisivo para a ciência do país como o aumento de investimentos em pesquisa.
- Referências
10.1 Adriana Natali e Luiz Costa Pereira Junior – Revista Língua Portuguesa
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