A ESTAÇÃO CARANDIRU
Por: Paula Kelly Moura • 6/4/2017 • Resenha • 1.152 Palavras (5 Páginas) • 399 Visualizações
Estação Carandiru.
Dráuzio Varella é médico cancerologista, formado pela Universidade de São Paulo. Nasceu em São Paulo, em 1943. Foi um dos fundadores do Curso Objetivo, onde lecionou química durante muitos anos. No início dos anos 1970, trabalhou com o professor Vicente Amato Neto, na área de moléstias infecciosas do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Durante 20 anos, dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer (SP) e, de 1990 a 1992, o serviço de Câncer no Hospital do Ipiranga, na época pertencente ao INAMPS. Foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS, especialmente do sarcoma de Kaposi, no Brasil. Em 1986, sob a orientação do jornalista Fernando Vieira de Melo, iniciou campanhas que visavam ao esclarecimento da população sobre a prevenção à AIDS, primeiro pela rádio Jovem Pan AM e depois pela 89 FM de São Paulo. Na Rede Globo, participou das séries sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico. Em 1989, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a prevalência do vírus HIV na população carcerária da Casa de Detenção do Carandiru. Desse ano, até a desativação do presídio, em setembro de 2002, trabalhou como médico voluntário. Atualmente, faz o mesmo trabalho na Penitenciária Feminina de São Paulo. Na Amazônia, região do baixo rio Negro, dirige um projeto de bioprospecção de plantas brasileiras com o intuito de obter extratos para testá-los experimentalmente em células tumorais malignas e bactérias resistentes aos antibióticos. Esse projeto, apoiado pela FAPESP, é realizado nos laboratórios da UNIP (Universidade Paulista) em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês.
O Livro “Estação Carandiru” de autoria do Professor/Médico Dráuzio Varella conta história de um médico que propõe fazer um trabalho de prevenção a AIDS no maior presídio da América Latina: a casa de Detenção de São Paulo, mais conhecida como Carandiru. A história narrada em forma de um relato pessoal, estilo diário de um médico prestador de serviços, conta histórias, fala de seres humanos e destrói alguns mitos tão popularizados na mente das pessoas, como a violência e demais demagogias criadas ao redor da figura calabouço público. Atenta-se ainda que o livro não se apresenta em defesa do reeducando, pois é de sapiência do redator que os criminosos devem ser punidos conforme a lei, contudo apontando que deve haver diferenças entre as espécies de crime o que por consequência leva a diferença entre as pessoas que habitam um aljube. Dessa forma, o livro já cria um novo olhar acerca desse cenário de vivência, pois a sociedade extramuros considera os reeducandos como “farinhas de um mesmo saco”. Esta altivez que Varella não enxerga afora do cárcere, existe entre os aprisionados. O tratamento dado aos traficantes é diferente daquele dado a um assaltante de banco, por exemplo. Referida distinção já apontada alhures, evidencia-se principalmente ao cometimento do que esboçado nas iras capitulares dos crimes da liberdade sexual. A concepção da penitenciária é que para um estuprador não há respeito nem perdão, apenas a pena de morte, bem como apresentado no capítulo desse jaez que demonstra que um dos detentos vivera tão somente cinquenta minutos dentro da cela a partir do momento em que seus “companheiros” descobriram qual crime cometera para lá estar. Noutro flanco, é de se ressaltar que embora “justiceiros” isso era aplicável a solidariedade, tendo como exemplo o apoio dado aos encarcerados com problemas de saúde e o respeito aplicado aos homossexuais, pois estes eram considerados as “mulheres da cadeia”, ocorrendo inclusive a contração de núpcias entre reeducandos que lá cumpriam sua reprimenda imposta pelo Estado-Juiz. Na narrativa encontram-se ainda abarcados os relatos das palestras que ocorriam ministradas pelo Dr. Varella, as sessões de cinema e os inesquecíveis shows da atriz e cantora Rita Cadillac. O que de precioso encontra-se nesta obra de cunho relato/moderno, é o fato de mostrar todo esse universo de cárcere sem falsos moralismos. Não fosse desta forma, ele próprio, Varella, argumenta que não teria aguentado todo o tempo que ficou trabalhando lá, principalmente na função de tentar combater a doença do século, a AIDS. A história provoca uma reflexão profunda sobre o sistema penitenciário brasileiro. O livro ainda conta histórias, fala de seres humanos e destrói alguns mitos tão popularizados na mente das pessoas, como a violência, o sexo, a morte, a gana por exemplo. Obviamente eles existiam, faziam-se presentes no dia-a-dia da cadeia, mas, na maior parte do tempo, eles eram controlados pelos próprios prisioneiros. Fato este de relevância ímpar, pois para Varella e isso é causado no leitor a conclusão de que era necessário para ter um mínimo de segurança física e pessoal de cada um. Por isso, a "legislação" interna, a palavra de honra e um certo conceito de respeitabilidade eram indispensáveis e rigorosamente respeitados. Varella passa primeiro por um processo de adaptação, pois vê que ele desconstrói preconceitos, quebra estigmas e ganha a confiança dos presos. Ser o médico ali era um importante papel, pois parafraseando-o chega a dizer que com mais de vinte anos de clínica, foi no meio daqueles que a sociedade considera como escória que percebeu com mais clareza o impacto da presença do médico no imaginário humano, um dos mistérios de sua profissão.
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