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A MORTIFICAÇÃO DO SUJEITO

Por:   •  14/6/2022  •  Abstract  •  796 Palavras (4 Páginas)  •  94 Visualizações

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MORTIFICAÇÃO DO SUJEITO

Efeitos sociológicos e psicológicos negativos produzidos pela prisão.

As condições dentro do presídio são precárias. Todas a negligências mencionadas por Lavínia fazem da prisão um ambiente propício à degradação do ser.

Todas essas características como superlotação e ambiente violento produzem os efeitos da prisionização que é experimentado em alguma medida, por todos que passam por uma prisão, implicando uma reinterpretação geral da vida. Sejam mudanças de rotina, como desenvolvimento de novos hábitos de alimentação, vestuário, trabalho, sono e até mesmo adoção de uma linguagem particular.

Na prisão o encarcerado sofre um processo de aculturação, ou seja, é retirado do indivíduo, durante esse processo de modificação, traços significativos do Eu, obrigando-o a se adaptar a outra cultura. Ocorre a adoção, em maior ou menor grau, dos usos, costumes, hábito e cultura geral da prisão. O preso sofre tal processo a começar pela perda de "status", ao se transformar de um momento para o outro, "numa figura anônima de um grupo subordinado”. Todo encarcerado sucumbe, de alguma maneira, à cultura da prisão, tendo em vista que a cadeia é um sistema de poder totalitário formal, pelo qual o detento é controlado vinte e quatro horas por dia.

A partir do momento que é construída uma barreira entre a relação social do mundo interno e o mundo externo, inicia-se também o processo de mortificação do sujeito. Dentre as perdas, destacam-se a morte civil do sujeito e a morte do eu para a construção de um eu coletivo. O sentenciado é visto não como pessoa humana, mas como "criminoso", "ladrão", "bandido", portador de delito. A instituição, por meio da privação de liberdade, não vai apenas punir o sujeito pelo crime cometido, mas também modificá-lo, utilizando a disciplina como mecanismo para transformá-lo em “cidadão de bem”.

A vida carcerária é vida em massa. Como consequência, ela acarreta uma verdadeira desorganização da personalidade, ingrediente central do processo de aprisionamento. Entre os efeitos do aprisionamento, que marcam, profundamente, essa desorganização da personalidade, cumpre destacar: a perda e a aquisição de nova identidade, o sentimento de inferioridade e o empobrecimento psíquico. O empobrecimento psíquico acarreta, entre outras coisas, o estreitamento do horizonte psicológico, a pobreza de experiências, as dificuldades de elaboração de planos a médio e longo prazos.

Os distúrbios ou “doenças psicológicas” são, em sua maioria, causados por fatores orgânicos ou funcionais. Há pessoas que nascem com uma predisposição genética para desenvolver algum distúrbio psíquico, já outras desenvolvem de forma funcional, por uma situação vivida, um fator externo que influenciou seu surgimento. As prisões, sendo entidades com tantos problemas como os já citados, e o período de readaptação social logo que o apenado se torna egresso do sistema carcerário são starts suficientes para se tornarem fatos geradores de alguma disfunção psicológica.

Como já especificado, nenhum ser humano normal aceita, naturalmente, um poder totalitário que o controle vinte e quatro horas por dia, daí surge entre os presos um poder informal e uma cultura paralela que define regras, costumes, uma ética própria e até mesmo critérios e condições de felicidade e sobrevivência. Não é descabido esperar um pacto latente (não verbalizado) entre esses dois sistemas de poder, a fim de se garantir a tranquilidade, ainda que aparente, perante a sociedade e a opinião pública da instituição prisional. Constitui-se, pois, assim, um ambiente artificial, do qual ninguém gosta num primeiro momento, mas aos quais todos com o tempo acabam aderindo, de uma forma ou de outra. Dessa adesão surge o aprisionamento, que pode atingir não só os presos como também a direção, os agentes penitenciários e, quem sabe, os próprios técnicos. A partir do momento em que o técnico se deixa levar pela rotina e passa a exercer, indiscriminadamente, seu poder de opinar, esquecendo-se de que o preso é uma pessoa, esse técnico já está se "aprisionando”. É comum que os diretores de presídios, dando, assim, seu primeiro passo rumo ao aprisionamento, pese todo seu idealismo inicial, se deixando levar perante o eterno conflito regeneração x segurança ─ princípio latente de que a "regeneração" pode falhar, mas a segurança... Essa jamais.

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