A PALAVRA NÃO DITA: FELIPA DE SOUZA E A INVISIBILIDADE DA SODOMIA FEMININA NA BAHIA QUINHENTISTA (1591-1592)
Por: Anna Kelly • 9/5/2018 • Projeto de pesquisa • 2.898 Palavras (12 Páginas) • 195 Visualizações
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
SUMÁRIO JUSTIFICADO
A PALAVRA NÃO DITA: FELIPA DE SOUZA E A INVISIBILIDADE DA SODOMIA FEMININA NA BAHIA QUINHENTISTA (1591-1592)
Aluna: Ana Kelly Cavalcante Menezes
FORTALEZA – CEARÁ
2017
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa buscar compreender a invisibilidade da sodomia feminina na Bahia Quinhentista e como a Inquisição e a Igreja calaram a sexualidade de mulheres que amavam outras mulheres – retratando com desdém e uniformização os atos confessados por elas, através dos processos feito pelo visitador Heitor Furtado de Mendonça. Estes quando confrontados com livros e artigos, mostram de maneira holística o que seria essa invisibilidade e porque aconteceu.
Dentre as mulheres que foram arroladas pelo visitador, apenas três (3) foram de fato castigadas e uma delas, mais severamente que as ademais: Felipa de Sousa. A ré que foi denunciada por envolvimento com seis (6) mulheres, é utilizada nesta pesquisa como ponto chave. É através dela que será estabelecido uma ligação com outras rés e confessantes, pois ao não temer admitir na frente do visitador que gostava de mulheres e cortejá-las, Felipa de Sousa pesou sobre ela, sua própria sentença: açoite e degredo para sempre da capitania da Bahia.
O recorte temporal desta pesquisa tem início no ano de 1591, período em que o visitador chegou ao Nordeste Brasileiro e instaurou medo entre os moradores da Bahia, com a leitura de sermões, procissões e autos-de-fé. Esse medo pairando, fez com que muitas pessoas denunciassem vizinhos, conhecidos ou até mesmo, tomassem a iniciativa de confessar suas culpas. Se finda o recorte em 1592, quando Felipa de Sousa é condenada, sofrendo punições físicas e espirituais e então, degredada.
A pesquisa pretende analisar a sociedade na qual a acusada estava inserida, tentando entende-la melhor e quais atores contribuíram para a invisibilidade da sexualidade dessas mulheres e responder as outras perguntas que movem este trabalho.
A pesquisa está fundamentada no conceito de representação, do historiador Roger Chartier, onde ele afirma que as representações sociais enquanto instrumento, capaz de compreender as lutas internas pelo poder e dominação de determinados grupos. E por fim, o conceito de sexualidade debatido por Michel Foucault, que mostra a sexualidade como um dispositivo, onde quem detém esse poder tem a possibilidade de controlar populações, coagi-las e até mesmo, aterrorizá-las.
Após problematizar as fontes utilizada, – processos de rés e confessantes retirados da Torre do Tombo em Portugal, Manuais da Inquisição, os manuscritos do Dr. Gregório de Matos e dialogar juntamente com os referenciais teóricos, será possível compreender os questionamentos, a sociedade em que a ré estava inserida, as consequências dos seus atos e o papel da Igreja dentro disto tudo.
2 Estruturação dos Capítulos
Ao falar da sodomia feminina, é importante lembrar que existia toda uma sociedade por trás, que era influenciada por tudo aquilo que a Igreja mostrava como normal, natural e correto. Essa influência se infiltrou em todos os aspectos da vida dos moradores da América Portuguesa, e fez com que estes fossem o juiz e o carrasco daqueles que iam contra o que a Igreja aceitava.
É imprescindível que ao entrar tão intimamente na vida das confessantes, que não se faça uma análise dessa sociedade e seu papel, tendo isso em vista, este trabalho é dividido em três capítulos, onde cada um se conecta afim de entender exatamente como essa invisibilidade se caracterizou e foi perpetuada.
3 CARACTERIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS
CAPÍTULO 1 - A CONDIÇÃO FEMININA NA AMÉRICA PORTUGUESA
No primeiro capítulo busco compreender como era a realidade da mulher na sociedade colonial do século XVI, e como a sociedade cobrava determinados comportamentos, impondo modelos, e reafirmando estereótipos que deveriam ser seguidos. Os moradores da América Portuguesa, que seguiam a sombra do que a Igreja dizia ser o “aceitável”, corroboraram para a implementação de certos comportamentos sociais esperados da mulher, adestrando-as dentro e fora de casa. Esta forma de dominar, a longo prazo, foi se perpetuando – dominar a mentalidade da família, da sociedade, afetou diretamente a mentalidade do “ser mulher”. Ao determinar o que ela poderia vestir, como se comportar como esposa, sexualmente e o que era esse modelo ideal de mulher a ser seguido.
Juntamente com esta problemática, irei utilizar dos manuscritos poéticos do Dr. Gregório de Mattos[1], conhecido também como Boca do Inferno, onde ele escrevia sobre a condição feminina na Colônia, o que eram esses comportamentos socialmente esperados e embasando esse documento e as problemáticas deste capítulo, utilizarei também o conceito de dominação tradicional de Max Weber.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA PARA A ELABORAÇÃO DO CAPÍTULO:
BASEGGIO, Júlia Knapp. SILVA, Lisa Fernanda Meyer da. As condições femininas no Brasil Colonial, n. 1, 2015.
CAPRA, Jana. BERGAMO, Mayza. Evas e marias: a mulher no brasil colonial, n. 4, 2010.
DEL PRIORE, Mary. Ao Sul do Corpo – Condição feminina, maternidades, mentalidades no Brasil Colônia. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
_________________. Histórias e Conversas de Mulher. Brasil: PLANETA DO BRASIL, 2013.
FAGANELLO, Claudia Piccoli. Discriminação de Gênero: Uma perspectiva histórica. PUCRS, 2009.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 51. ed. Brasil: GLOBAL EDITORA, 2006.
JUNIOR, Walter de Carvalho Braga. Família, condição feminina e violência no Ceará do final do período colonial, n. 1, 2011.
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