CALE-SE DIREITO – Uma Análise da música “Cálice” aliada ao Direito Constitucional x A Ditadura Militar no Brasil
Por: Charlotte Kiyoko • 16/6/2018 • Artigo • 933 Palavras (4 Páginas) • 776 Visualizações
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UNIFACS: Campus Tancredo Neves.
Curso: Relações Internacionais, 2018.1 – Primeiro Semestre.
Disciplina: Direito. Docente: Milton Deiró.
Discente: Maiara Gomes Jesus – 173181057.
CALE-SE DIREITO – Uma Análise da música “Cálice” aliada ao Direito Constitucional x A Ditadura Militar no Brasil.
RESUMO
O seguinte artigo tem como objetivo fazer a Análise da música “Cálice” de Chico Buarque em parceria com Gilberto Gil, comparando a realidade vivenciada naquele período de ditadura militar no Brasil(1964-1985) com a atual Constituição Brasileira (1988), com enfoque na genialidade das metáforas que foram utilizadas para burlar a repressão praticada pelo regime ditatorial.
Palavras-chave: direito; silêncio; ditadura militar; liberdade
INTRODUÇÃO
O conjunto de eventos ocorridos no Brasil no dia 31 de Março de 1964 resultou no golpe militar que pôs fim ao governo do presidente democraticamente eleito, João Goulart, dando assim início a Ditadura Militar no Brasil, ou Quinta República Brasileira, no dia 01 de Abril do mesmo ano. Esse regime censurava todos os meios de comunicação do país, assim como torturava e exilava todos que discordassem com o mesmo, o que é totalmente oposto a alguns dos princípios importantes que a Constituição Brasileira de 1988 passou a defender no período posterior a ditadura. Não obstante, nesse meio período, músicos e demais artistas encontraram uma forma bastante esmerada de engrampar esse preceito.
ANÁLISE DA MÚSICA
Uma das obras mais conhecidas de resistência ao regime militar e que utiliza de ambiguidade e de metáforas a fim de burlar a censura e criticar o sistema, é a música “Cálice”. Em sua letra, escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil, eles fazem diversas manifestações contra os regulamentos do regime. No início, com “Pai, afasta de mim esse cálice”, Chico e Gil fazem uma referência de uma passagem bíblica: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice” (Marcos 14:36), que lembra Jesus antes do calvário e também se refere as ideias de perseguição, traição e sofrimento. A temática da paixão de Cristo é uma comparação ao martírio do povo brasileiro nas mãos da coação e violência trazidos pela ditadura. Além desse significado, nota-se a semelhança conveniente na sonoridade entre “cálice” e “cale-se”, como uma suplica para afastar de si o cale-se, ou seja, a censura que os impõe silencio. Na primeira estrofe, “Como beber dessa bebida amarga, tragar a dor, engolir a labuta” eles falam da dificuldade de “engolir” o que está acontecendo, aceitando como se fosse natural, “Mesmo calada a boca, resta o peito. Silêncio na cidade não se escuta” os dois expõe que mesmo sendo obrigados a calar-se, é inevitável que o brasileiro agonize com seus sentimentos dentro do peito, “De que me vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da outra. Outra realidade menos morta. Tanta mentira, tanta força bruta”, expressam sua indignação ao ser filho desta pátria, quando prefere ser de outra e estar em outra realidade, e concluindo pela falta de rima, fica implícito que os autores também queriam utilizar de um palavrão. A mentira e a força bruta na letra da música traduzem o suposto milagre econômico mentiroso de uma força bruta, a ditadura. Ao decorrer da música aparecem diversos outros tópicos referentes ao sentimento do brasileiro deste período, que vai reclamando o seu direito de poder pensar, sentir e expressar.
A música foi desenvolvida por Chico e Gilberto para o show Phono 73, organizado pela gravadora Phonogram (ex-Philips, e depois Polygram) no Palácio das Convenções do Anhembi, São Paulo, em maio de 1973. Como a censura havia proibido a letra, os dois decidiram cantar apenas a melodia, pontuando-a com a palavra ‘cálice’, mas nem mesmo isso passou despercebido pela censura. Segundo o Jornal da Tarde ‘a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones de Chico, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada’. Apenas cinco anos depois, a canção foi liberada, e chegou a ser interpretada por Maria Bethânia no programa Fantástico da Globo no mesmo ano de lançamento, ganhando uma força dramática ainda maior em seu significado pela performance memorável.
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