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Ciencias

Por:   •  13/10/2015  •  Dissertação  •  2.685 Palavras (11 Páginas)  •  283 Visualizações

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Analisabilidade: repensando os critérios.

                                       Gerson I. Berlim

Desde que Freud lançou as bases da psicanálise, há mais de cem anos, a sociedade e a cultura têm passado por profundas modificações. Como o homem se insere em conformidade com a imposição do meio, pode - se dizer que a psicopatologia, sofrendo a mesma influência, passou a histeria da época, a dar lugar a quadros tais como, narcisistas, borderlines e  adições.

O conhecimento psicanalítico vem se expandindo significativamente, podendo-se falar em uma expansão da mente psicanalítica, uma importante expansão do pensar psicanaliticamente, o que permitiu acessar a mente de qualquer indivíduo através deste importante método de compreensão.

Desde os primórdios da psicanálise, durante décadas, foi somente discutida a questão da indicação/contra-indicação em função da psicopatologia e dos diagnósticos psiquiátricos. Zetzel, (1968) introduziu a questão da analisabilidade, ampliando a avaliação, pensando nas diferentes capacidades egóicas, que poderiam ser analisáveis. No entanto, revelou-se muito pouco flexível, tendo-se que concordar com Etchegoyen (1987), que entende serem os critérios de analisabilidade aplicáveis no estabelecimento de um prognóstico, mas não convenientes para a seleção de pacientes.

B. Joseph (1975) lançou a idéia da acessibilidade, introduzindo um novo viés na reflexão acerca da flexibilidade na aceitação de pacientes para análise. Esta forma de reflexão, pode-se dizer, possibilitou a muitos a “chance” de se analisar, em lugar de ser “condenado” à exclusão, o que vigorou por muito tempo, de forma claramente restritiva. A idéia de acessibilidade tem por fim alertar que existem pacientes mais difíceis de acessar que outros, e não que existam pacientes inacessíveis. Além do mais, refere-se essencialmente, ao desenvolvimento da habilidade técnica do par analítico, visando alcançar um vínculo que permita atingirem-se os profundos limites dos conflitos do paciente.

 Observou-se que o desenvolvimento pós-freudiano, incluindo as diversas correntes do pensamento psicanalítico, norteou-se por uma revisão contínua dos alcances do método e dos critérios de “cura” psicanalítica.

De certa forma, a questão da analisabilidade, que há muito vem sendo discutida, refere-se ao encontro de uma justificativa para não se aceitar alguém em análise. Em relação a esta questão que tanto nos mobiliza, cabe lembrar que, já no Simpósio de Arden House da Sociedade Psicanalítica de Nova Iorque em 1953, L. Stone (1954) dizia que as neuroses transferenciais e as caracteropatias a elas associadas seriam as indicações clássicas de análise. No entanto, já naquela época, entendia que todas as categorias nosológicas de natureza psicogênicas estariam abrangidas pelo método psicanalítico.

Acredito que de cada encontro eficaz do psicanalista com seu paciente, decorre uma transformação mental, que resulta numa expansão da mente, onde novos trajetos são experimentados, facilitados ou instalados. Esta expansão mental, entendo ser o objetivo visado pelo processo psicanalítico, caracterizando-se como o aspecto nuclear do critério de cura. Assim como os gregos diziam que não é o mesmo caminho que vai de Atenas a Corinto e de Corinto a Atenas, também o paciente que entra não é o mesmo que sai da sessão psicanalítica, toda vez que algum entendimento de sua dor mental possa ser pensado pela dupla analista/analisando.

 Meltzer (1967), no prefácio de seu livro “O processo psicanalítico”, diz ser natural a ligação da psicanálise com o campo médico da neuro-psiquiatria e da relação da psicanálise como terapia vinculada ao diagnóstico, o que servia como proteção à prática psicanalítica. Acrescentou ainda, que com o progresso da psiquiatria, a pressão sobre o psicanalista  no sentido da “cura” da doença, diminuiu. Assim, livre da responsabilidade de “curar”, a psicanálise voltou-se para o desenvolvimento do caráter, atraindo um tipo diferente de paciente, com diferentes objetivos.

Objetivando-se o desenvolvimento do caráter ou mudanças estruturais através da terapêutica psicanalítica, vimo-nos na contingência de refletir sobre a técnica empregada. Pode-se então questionar a técnica clássica, onde a regressão produzida é o meio para modificar a estrutura, e por via de conseqüência, os sintomas, razão pela qual muitas análises não tem respostas efetivas.

Ainda com relação ao tema central em discussão, penso não ser válido dizer que um paciente não é analisável porque a técnica clássica exige capacidades de ego especiais do paciente.

A introdução de parâmetros relativos à técnica psicanalítica, bem como o aproveitamento dos avanços da psicofarmacologia, tem possibilitado que se criem condições que permitem que  a psicanálise seja mais acessível e eficiente.

Em função da analisabilidade, está cada vez mais se ampliando a discussão sobre o emprego do método psicanalítico e as questões levantadas por Thomä e Kächele (1985), tais como: “Quais modificações se alcançam , com que paciente, com quais dificuldades, quando o procedimento psicanalítico se aplica, de que maneira e por qual analista?” Estas questões devem ser atentamente refletidas,visando-se uma posição minimamente restritiva, tendo em vista a incerteza com relação ao diagnóstico da não  analisabilidade.

Os autores referidos refletem ainda sobre a transferência e seu manejo, questão nuclear na psicanálise, cujas fronteiras tem estado em constante expansão.  Pensam eles na necessidade de se entender operacionalmente a transferência, conforme as variações das condições técnicas, como por exemplo, a instalação da neurose transferencial alimentada por interpretações transferenciais, ou a transferência como reação à situação analítica.

Neste sentido, podem ser diferenciados os pacientes conforme o desenvolvimento do quadro transferencial e assim, pensar-se numa psicopatologia psicanalítica, onde estudos significativos, citados por eles, com relação a aplicações da técnica em pacientes por exemplo esquizofrênicos por Rosenfeld, perversos por Masud Khan,Chasseguet-Smirgel e McDougall, narcisistas por Kohut e borderlines por Kernberg, estendem largamente o alcance da terapêutica psicanalítica, na medida em que o analista também seja capaz de adequar-se às condições necessárias aos diferentes casos.

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