Fichamento do Livro: Estação Carandiru
Por: Laressa Carreta Gomes • 2/4/2018 • Resenha • 1.978 Palavras (8 Páginas) • 403 Visualizações
Em 1999, Dráuzio Varella escreveu o livro Estação Carandiru, que mais tarde seria adaptado para o cinema, tendo em vista a grande importância que teve ao trazer pela primeira vez o cenário real de dentro da maior Casa de Detenção da América Latina.
Em 1989 o médico entrou no presídio com o intuito de conscientizar os presos sobre a prevenção à AIDS através de trabalhos voluntários em parceria com a UNIP. Entre os métodos estavam pesquisas epidemiológicas, uma revista em quadrinhos chamada “O vira-lata” e palestras.
As palestras que no início causaram muita resistência tanto por parte da massa carcerária, quanto dos funcionários foram no fim o que abriu as portas e estreitou a relação entre o médico e os presos, conferindo-lhe respeito e fazendo com que ele enxergasse humanidade naqueles homens que provavelmente não teriam piedade dele se fosse o contrário.
Depois de muito pensar e avaliar a situação daquilo que viu atrás dos muros da prisão, Dráuzio resolveu atender voluntariamente os detentos infectados pelo HIV. Entretanto, a prisão que até possuía médicos mas que estavam desestimulados devido ao baixo salário e condições de trabalho precárias, deixava vários enfermos sem atendimento e esses por sua vez começaram a apelar para o novo médico que não conseguiu ver tantos casos sem ajudar.
Essa decisão foi crucial para que o autor entendesse a rotina e regras que regiam a prisão, que lhe foram contadas através dos presos com que tinha contato na enfermaria. Relatos que culminaram no livro que é objeto do presente estudo.
A Casa de Detenção era composta por um pátio chamado Divinéia, por onde tudo entrava, uma cozinha que fora desativada, um campinho de futebol e nove pavilhões, cada qual com cinco andares cada.
Os pavilhões, em sua maioria, eram separados de acordo com o grupo de presos.
No pavilhão dois ficavam os presos que cuidavam da Administração e aqueles que prestavam serviços, além da triagem para onde iam todos os presos novos afim de serem registrados e distribuídos.
O pavilhão quatro era o menos populoso e reservado originalmente para o departamento de saúde, lá funcionava a enfermaria geral e podiam se encontrar os paraplégicos, tuberculosos e deficientes mentais. Porém foi necessário criar um lugar especial para a proteção daqueles que estavam ameaçados de morte e não podiam de maneira nenhuma ficar em convívio com os outros, este lugar foi apelidado de masmorra, ficava no térreo e era o pior lugar da cadeia. Era isolado e a porta ficava fechada 24 horas, tinha mais homens do que a capacidade máxima permitia e a situação era lamentável, mas nenhum deles queria sair de lá por considerarem seguro.
O pavilhão cinco era o mais cheio e mal conservado, além de mais misturado, sendo considerado o pavilhão da ralé.
No primeiro andar, funcionava a carceragem, enfermaria, uma sala de aula com uma pequena biblioteca e a isolada, famoso castigo para aqueles que eram pegos praticando contravenções dentro do presídio, como porte de arma, pinga, tráfico ou desrespeito a funcionário. A isolada é similar a masmorra e lá os prisioneiros ficavam por 30 dias.
No segundo andar moravam os presos integrantes da faxina do pavilhão. Cada pavilhão tem seu grupo com hierarquia formada, eles são como uma facção e por ter o respeito dos presos estavam em posição de “comando”, eram os líderes e tudo tinha que passar pelo encarregado-geral, desde um plano de fuga até um acerto de contas.
Para o terceiro andar mandavam os estupradores e justiceiros. Colocavam juntos por questão de segurança, eles eram os mais odiados e juntos poderiam defender-se de um possível ataque.
O quarto andar era para aqueles que não tinham outro lugar para ficar, porque foram expulsos dos pavilhões de origem, e os travestis, além de mais estupradores e justiceiros.
No quinto andar, de um lado ficavam os crentes da Assembleia de Deus, grupo religioso mais forte entre os presos. Tinham uma rotina intensa de oração e pregação e se destacavam dos demais pelas roupas sempre sociais, o vocabulário sem gírias e a Bíblia de baixo do braço. Do outro lado ficava o “Amarelo” apelidado assim devido a coloração da pele de seus moradores, que ficavam trancafiados 24 horas, sem sol. Era outro conjunto de segurança para os que foram jurados de morte e pediram ajuda a direção.
O pavilhão seis contava com celas apenas nos últimos dois andares, essas destinadas a usuários de crack em sua maioria e presos estrangeiros que foram detidos no Brasil. Os demais andares eram para a administração, além do auditório e a cozinha desativada.
No pavilhão sete ficavam aqueles que trabalhavam informalmente, costurando bolas de futebol ou colocando espirais em cadernos em troca de dinheiro ou até maços de cigarro, moeda local. Lá também se encontravam alas voltadas para a administração, o castigo, uma quadra de esportes e dois campinhos de futebol, mas apesar da fama de calmo, por ser o pavilhão mais próximo da muralha, era a fábrica de túneis da cadeia.
O pavilhão oito era o maior de todos e era reservado para os presos reincidentes já escolados na vida do crime, provavelmente o pavilhão mais respeitado entre os presos. Lá além das seções burocráticas, funcionavam os diversos templos religiosos, uma quadra esportiva e o maior campo de futebol, onde eram feitos os campeonatos.
No pavilhão nove, ao contrário do oito, estavam os réus primários, protagonistas das maiores confusões do presídio, como por exemplo o massacre de 1992.
Apesar da distribuição dos presos ser realizada pela direção, a prática ocorre de forma diversa, cada cela, apelidada de barraco, tem seu próprio dono e valor de mercado. Quando os recursos da Casa de Detenção estavam muito limitados a manutenção da cela foi atribuída ao preso que nela habitava e sendo assim, esse se viu no direito de escolher com quem a dividiria, já que os recursos empregados foram exclusivamente dele. O preço podia variar de 150 a 2 mil reais dependendo do tamanho e estrutura do barraco. A direção não podia fazer nada pois era um acordo entre a malandragem, por mais que mandassem alguém para tal cela o próprio preso se recusava a ficar. Por isso, alas como o Amarelo ficavam cheias, pois nem todos entravam com dinheiro, conhecidos lá dentro, nem tampouco podiam pedir ajuda externa, então recorriam a diretoria.
As celas normalmente eram compostas por beliches, chuveiros, que as vezes eram vendidos ficando só o cano, armários e prateleiras simples e o sanitário, chamado de boi. As portas eram maciças com trancas por fora e um guichê utilizado para fazer a contagem diária, muitas vezes eram colocados panos
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