Mediação e arbitragem
Por: ElianaFigueredo • 7/5/2015 • Trabalho acadêmico • 631 Palavras (3 Páginas) • 213 Visualizações
Bicho de sete cabeças é um longa-metragem brasileiro baseado em fatos reais, fatos esses relatados da vida de Austregésilo Carrano Bueno. O longa conta a historia de Neto (interpretado pelo autor Rodrigo Santoro), um jovem normal que é internado em um hospital psiquiátrico para tratamento de desintoxicação de drogas após ter um cigarro de maconha encontrado em suas casas. E nesse hospital Neto é submetido à administração de medicamentos e procedimentos que o maltratam e o debilitam.
Baseado na teoria focaultiana de discurso, percebemos várias interdições da fala, primeiramente quando o pai o Sr. Wilson encontra um cigarro de maconha nas coisas de Neto, este já interpreta e condena o filho como um viciado em drogas, com essa positivação, o pai impede que Neto ao menos se defenda, ou seja, corta o discurso de defesa do filho e o interna para que seja curado.
No decorrer do filme, na cena da conversa entre os familiares de Neto e o médico (psiquiatra e responsável pelo hospital), o medico se coloca como autoridade absoluta do poder psiquiátrico, ele não deixa abertura para o questionamento da família sobre a condição de Neto, ou a real necessidade de sua internação ; a partir daí, Neto é constituído então, como dependente de drogas e portador de distúrbios de personalidade. Sua voz nunca é ouvida, embora ele tivesse várias vezes tentado falar com o médico e com o seu pai afirmando que não era usuário de drogas, muito menos louco, sua voz era ignorada, interditada, não era digna de ser ouvida.
No decorrer da cena acima comentada, o medico afirma à família que Neto vai apresentar comportamento agressivo e alucinações, ou seja, o médico já anula, interdita a fala e o discurso de Neto à sua família, e estigmatiza e qualifica o jovem de aparência normal a um jovem com problemas físicos e mentais, por causa do tratamento cruel e desumano que recebe na clinica psiquiatra.
Neto tenta falar, pedir socorro, mas sua voz, é silenciada; silenciada como a voz do louco que é impedida de circundar e, quando ocorre, é considerada nula, cheia de inverdades e, portanto, esse discurso não tem importância (FOUCAULT). Na cena seguinte, a família faz sua visita à Neto pela primeira vez após a internação. O rapaz tenta contar sobre dos maus tratos e dos abusos que sofre no hospital. Sua fala é fracassada, interditada, seu discurso é nulo mais uma vez, e todos só conseguem (ou querem) o enxergar como um dependente de drogas e portador de distúrbios comportamentais e de personalidade. Mais uma vez, sua voz não é ouvida.
Ainda nesta mesma cena, a mãe usa uma linguagem afetuosa, carinhosa, esperançosa e tenta estabelecer uma relação afetiva com o filho, porem, sem dar importância ao que ele fala; a irmã critica seu comportamento e ignora o conteúdo de sua fala, ela está mais impressionada com o jardim do hospital, um lindo cenário, calmo e belo; o pai rebate tudo que o filho diz reafirmando sua condição de drogado e rebelde e validando a autoridade médica. Neto e sua família não conseguem estabelecer um diálogo, a voz do adolescente é considerada vazia. Portanto, a constituição desse sujeito se dá a partir das formações discursivas de ‘drogado’, rebelde e doente mental, reafirmadas nas falas do médico e da família. O que legitima sua exclusão e seu silenciamento. A exclusão, do convívio social, acontece com a internação, e o silenciamento, pela exclusão do discurso. Assim diz Foucault no seu livro “A ordem do Discurso” pag. 09 ... [ Em uma sociedade como a nossa, é certo, procedimentos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar também, é a interdição...]. Esse foi o maior sofrimento do jovem Neto, a interdição da sua fala, do seu discurso, que não era ouvido, nem validado.
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