TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

O Desenvolvimento da Delinquência

Por:   •  29/6/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.658 Palavras (11 Páginas)  •  94 Visualizações

Página 1 de 11

DESENVOLVIMENTO DA DELINQUÊNCIA

Laura Nunes e Jorge Trindade

Livro: Delinquência: percursos criminais.

1.1 Perspectivas de desenvolvimento da delinquência

A delinquência se instala como regra geral a partir de um processo (início, a continuidade e a interrupção).

Os problemas/disfunções comportamentais durante a infância tendem a se perpetuar em função de elementos catalizadores associados ao processo de socialização e o temperamento. Através de estudos envolvendo idade, inteligência, características da família e história familiar, as dinâmicas de personalidade a história e o estado atual de saúde apontaram para diferenças entre jovens delinquentes e não delinquentes. Estes apresentavam empiricamente, segundo Glueck & Glueck (1940):

  1. Constituição física mais sólida e musculada;
  2. Temperamento enérgico, impulsivo, extrovertido, agressivo e destrutivo, frequentemente sádico, numa atitude hostil, desafiante, rancorosa, desconfiada, inflexível, destemida, pouco convencional e de recusa de submissão à autoridade;
  3. Perfil de pensamento mais concreto e menos simbólico, o que os faz menos metódicos na abordagem aos problemas;

1.1.1 A construção da delinquência – Sampson & Laub

Os trabalhos de Glueck foram criticados em função de seus métodos e com o tratamento estatístico aplicado aos dados e isso foi revisado pelo modelo de Hirschi (1971) a respeito do processo de fragilização do laço social. Uma conceitualização teórica que emergiu da hipótese de que o contexto e a estrutura da família afetam o controle social informal e resultam na manifestação deliquencial.

O controle exercido pela família apresenta-se com 3 dimensões: a disciplina, a supervisão e a vinculação para além dos fatores sociais estruturais que também influenciam os processos de controle social informal. Estes estudos concluíram que a delinquência aumenta com o aumento das punições, num regime de disciplina mais dura e repressiva, mas diminui com os aumentos da supervisão e da vinculação.

Nestes estudos, a presença de condutas desviantes dos pais não pareceu influenciar diretamente sobre a delinquência dos filhos, sendo antes atravessada pelo déficit de supervisão exercida pelas figuras parentais (Sampson & Laub, 1993). Entretanto, os elementos estruturais da família afetam o controle social informal e este, por sua vez, é mais determinante na delinquência, isto é, a delinquência é essencialmente gerada pelo déficit da organização familiar em termos de planejamento e investimento no futuro, pobre estabelecimento de vínculo entre pais e filhos e não desenvolvimento de resistência à adversidade à frustração, num estilo parental que não aposta no respeito às normas e obrigações sociais – isso levará o jovem à rejeição da norma optando pelo desvio (Sampson & Laub 1993).

Acrescentam-se as características de temperamento difícil (irritabilidade e a hiperatividade, com recorrentes crises coléricas e com inclinação para a agressividade. Entre os aspectos familiares influenciadores no contexto estrutural da família:

  1. Alta densidade do lar (nro de familiares no mesmo meio);
  2. Deslocamento familiar (família deslocada/desintegrada socialmente);
  3. Fraco nível socioeconômico;
  4. Origem estrangeira (dificuldades de adaptação abrupta de contexto e linguagem);
  5. Mobilidade de residência (muitas mudanças de ambiente dificultando laços fraternais);
  6. Trabalho da mãe (ausência da mãe);
  7. Criminalidade/alcoolismo do pai ou mãe.

Tal estrutura familiar influenciará o controle social informal com:

  1. Disciplina errática, severa e ameaçadora do pai ou da mãe;
  2. Ausência de supervisão da mãe;
  3. Rejeição do jovem pelas figuras parentais;
  4. Rejeição emocional do progenitores, pelo jovem.

1.1.2 Desenvolvimento, continuidade e mudança na delinquência - Loeber

Loeber e Schmaling (1985) desenvolveram análises sobre estudos existentes seguindo-se outra investigação desenvolvida por Frick (1993). Os resultados apontaram a existência de 2 dimensões nos comportamentos problemáticos das crianças:

A das condutas encobertas/manifestas e as condutas destrutivas/não destrutivas envolvendo 3 trajetos identificados genericamente na sua evolução dos problemas comportamentais

  1. Trajeto Manifesto – como bullying, mas que vão evoluindo no sentido de outros comportamentos mais graves como roubo e violação.
  2. Trajeto encoberto – condutas iniciais encobertas e de menor gravidade como mentiras recorrentes e pequenos furtos para posterior exteriorização de ações destrutivas como destruição da propriedade e roubos mais sérios;
  3. Trajeto autoritário conflituoso – que se inicia por rigidez e teimosia seguidas por atitudes desobedientes e de desafio para depois evitar autoridades, com saídas noturnas e fugas de casa, não raras vezes com comportamentos de manifesta oposição.

Evolução sequencial de desenvolvimento dos comportamentos problemáticos da infância à idade adulta (Loeber 1990-96). Transpassando a fase pré-escolar até a adolescência.

  1. Temperamento difícil;
  2. Comportamentos problemáticos manifestos;
  3. Isolamento;
  4. Pobres relações com os pares;
  5. Problemas acadêmicos;
  6. Problemas comportamentais encobertos;
  7. Associação com pares desviantes;
  8. Delinquência/contatos;
  9. Reincidência.

Os comportamentos mais ou menos estáveis ao longo do tempo diferem em função das diversas condutas e em função da idade. Por exemplo, a hiperatividade se revela mais grave quando há um quadro de déficit de atenção e de impulsividade, o que conclui que estas variáveis contribuem muito precocemente para os problemas de comportamento.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (19.5 Kb)   pdf (104 Kb)   docx (17.7 Kb)  
Continuar por mais 10 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com