O Povo Brasileiro
Por: gi18rocha • 2/6/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 13.274 Palavras (54 Páginas) • 249 Visualizações
INTRODUÇÃO
Pretende-se com este trabalho apresentar a obra O Povo Brasileiro, escrita por Darcy Ribeiro.
A leitura desta obra se faz de grande importância ao conteúdo da disciplina de Antropologia a qual tem por escopo estudar o homem de maneira totalizante, estudar as sociedades, os padrões de cultura como grande símbolo de significação e de identificação de um povo.
Darcy mostra, em sua obra, todo o contexto de como se deu a formação do povo brasileiro com a chegada dos europeus, a desculturação sofrida pelos índios que aqui se encontravam e a exploração de sua mão de obra. Há, também, na obra, a referência aos negros que, com a necessidade de mão de obra, uma vez que os índios não se adaptaram aos trabalhos forçados, foram trazidos da África na condição de escravos e acabaram por ajudar a constituir a mistura de brancos, índios e negros que são as matrizes da formação do povo brasileiro. Dessa mistura, resultou a nossa cultura, nossos costumes e valores.
Faz-se, então, com esta resenha um breve relato desta obra.
PREFÁCIO
O autor, aqui, relata todo o processo pelo qual passou a realização desta obra. Declara o grande desafio que foi concluí-la. Entre idas e vindas, durante longos 30 (trinta) anos, revela que, após a terceira tentativa, a obra se concluiu. Nas palavras do autor: “Agora, uma nova pulsão, mortal, reaviva a necessidade de publicar este livro que, além de um texto antropológico explicativo, é, e quer ser, um gesto meu na nova luta por um Brasil decente”.
Durante esses longos 30 (trinta) anos, embrenhou-se por outros caminhos como os da literatura e da política. Todavia, quando se viu na iminência de morrer, sem concluir esta obra, fugiu de um hospital no qual se encontrava internado e seguiu para Maricá, com o propósito de terminá-la.
Darcy Ribeiro revela que em sua primeira tentativa de escrever esta obra, em meados da década de 50, ele a imaginava como um retrato de corpo inteiro do Brasil, com suas várias feições urbanas e rurais, versões arcaicas e modernas, como se estivesse às vésperas de uma revolução social e transformadora. Contudo, essa primeira versão, quando concluída, deu-lhe a impressão de pouco dizer das reais questões que o inspirou a escrevê-la. Segundo palavras do autor, “não dizia nada com nada”.
Em busca das respostas às inúmeras questões que lhe foram surgindo, dedicou-se a estudos nos anos seguintes.
E, na verdade, o que seria uma pesquisa introdutória para sua obra, foi se tornando outros livros, um total de 5 (cinco) com quase duas mil páginas.
Todavia estes livros são frutos de sua busca na tentativa de explicar o Brasil, para que sua obra O Povo Brasileiro pudesse se concluir.
INTRODUÇÃO DA OBRA
Na introdução, o autor explana sobre a origem do povo brasileiro. De como surgiu. A diversidade sob a qual se formou.
Segundo o autor, um novo povo, fruto da confluência de culturas distintas, um novo modelo de estruturação societária. Estruturação esta organizada sob um tipo renovado de escravismo e pela servidão continuada. E, contudo, com uma incomparável alegria e espantosa vontade de felicidade.
Em contrapartida, um velho povo, por não existir em si mesmo, mas para ser fruto de uma exploração que gera lucro ao mercado mundial.
Mesmo com toda miscigenação étnica, e que por isso pudesse se dividir em grupos multiétnicos, o autor destaca que o povo brasileiro se transformou em uma etnia nacional, povo-nação. Um povo com território próprio, enquadrado dentro de um mesmo Estado. Ao contrário de outros países, que por serem sociedades multiétnicas, são dilaceradas por semelhantes conflitos.
Todavia, Darcy faz um alerta a respeito da unidade nacional. Segundo ele, ela não deve nos cegar, diante das disparidades, contradições e antagonismos que se encontram debaixo dela, pois se fazem de grande importância. Para ele a unidade nacional resultou de “... um processo continuado e violento de unificação política, logrado mediante um esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda tendência virtualmente separatista.”.
Por baixo da aparente “... uniformidade cultural brasileira esconde-se uma profunda discrepância, gerada pelo tipo de estratificação que o processo de formação nacional produziu. O antagonismo classista que corresponde a toda estratificação social aqui se exacerba para opor uma estreitíssima camada privilegiada ao grosso da população, fazendo as distâncias sociais mais intransponíveis que as diferenças raciais.”.
Cresce o distanciamento, agravam-se as oposições. Assim, as elites vivem sob o “pavor pânico” do insurreição das classes oprimidas. Surge, como resultado, a repressão que tenta conter as insurgências dessas classes para que não se inverta a ordem vigente. “A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos”
E mesmo diante desse abismo social, os brasileiros ainda não o percebem. Eis que se encontram presos à ideia da inexistente “democracia racial”.
O autor denuncia que ainda mais grave é que esse distanciamento ainda não conduz o povo a conflitos capazes de dissociá-lo. A mobilidade popular é praticamente inexistente. Nas palavras do autor: “O mais grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes a transpô‐lo, porque se cristalizam num “modus vivendi” que aparta os ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alteridade”.
O agravante é que a grande massa popular ainda enxerga essa ordem social como permissão divina, onde uma minoria é privilegiada por Deus, o qual, a essa minoria, tudo concede, tudo permite.
Tais condições de distanciamento podem, segundo o autor, eclodir em convulsões anárquicas que conflagrem toda a sociedade. É a hipótese dessa eclosão que explica toda a preocupação e tentativa de controle para manutenção dessa ordem social.
Para o autor, o grande desafio enfrentado pelo Brasil, é a concatenação dessas energias para que possam resultar positivamente em mudanças, sem que haja um retrocesso nas relações sociais. Pois, “O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmente alto em lutas das mais cruentas de que se tem registro na história, sem conseguir sair, através delas, da situação de dependência e opressão em que vive e peleja”.
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