OS USOS SOCIAIS DA CIÊNCIA:POR UMA SOCIOLOGIA CLÍNICA DO CAMPOCIENTÍFICO
Por: Erika Raquel • 26/8/2021 • Seminário • 2.202 Palavras (9 Páginas) • 247 Visualizações
Aluna:Erika Raquel Costa Barbosa
BOURDIEU, PIERRE. OS USOS SOCIAIS DA CIÊNCIA:POR UMA SOCIOLOGIA CLÍNICA DO CAMPOCIENTÍFICO. SÃO PAULO: UNESP, C2003. P. 85
Sobre o autor:
Pierre Bourdieu, (1930-2002) foi um importante sociólogo e pensador francês, autor de uma série de obras que contribuíram para renovar o entendimento da Sociologia e da Etnologia no século XX.Ele nasceu em Denguin, França, no dia 1 de agosto de 1930. Iniciou seus estudos básicos em sua cidade natal. Mudou-se para Paris, ingressou na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia, obtendo a graduação em 1954. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa). Entre os anos de 1958 e 1960, assumiu a função de professor assistente na Faculdade de Argel.De volta à França, Pierre Bourdieu foi nomeado assistente do filósofo e sociólogo Raymond Aron, na Faculdade de Letras de Paris. Filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, tornando-se secretário-geral em 1962. Durante as décadas de 60 e 70, Bourdieu se dedicou às pesquisas como etnólogo que revolucionaram a Sociologia. Dessas investigações sobre a vida cultural, sobre as práticas de lazer e de consumo dos povos europeus, principalmente dos franceses, resultou na publicação de “Anatomia do Gosto” (1976), e sua obra prima “A Distinção – Crítica Social do Julgamento” (1979). Em suas obras, Bourdieu tenta explicar a diversidade do gosto entre os seguimentos sociais, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos. Afirmava que o gosto cultural e os estilos de vida da burguesia, das camadas médias e da classe operária, estavam profundamente marcados pela trajetória social vivida por cada um deles. A repercussão de suas reflexões o levou a lecionar em importantes universidades do mundo, entre eles, a universidade de Harvard e de Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Em 1981, Bourdieu assumiu a cadeira de Sociologia no Collège de France, onde em sua aula inaugural destacou-se por propor uma crítica sobre a formação do sociólogo, propondo o que ficou identificado como “Sociologia da Sociologia”. Pierre Bourdieu foi considerado um dos mais importantes intelectuais de sua época. Tornouse referência na Antropologia e na Sociologia, publicando trabalhos sobre educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística, comunicação e política. Com sua vasta produção intelectual, recebeu o título “Doutor Honoris Causa” da Universidade Livre de Berlim (1989), da Universidade Johann Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e da Universidade de Atenas (1996).Pierre Bourdieu faleceu em Paris, França, no dia 23 de janeiro de 2002.
Contexto:
“Os usos sociais das ciências: por uma sociologia clínica do campo científico”, que se tratase um discurso proferido ao INRA (Institut National de la Recherche Agronomique).”
Características:
“A característica principal da teoria social de Pierre Bourdieu consiste na sua nãoinscrição nas correntes sociológicas tradicionais. Ele se situa, como pudemos ver, num contexto em que o pensamento científico se fundamenta em múltiplas abordagens e não mais por uma disciplina unificada e empenha-se em combinar diferentes perspectivas teóricas no campo conceptual. Uma outra característica de sua obra é o fato de que a perspectiva crítica se apresenta muito desenvolvida, estando marcada por uma profunda convicção política resultante de uma constatação científica: não se pode mais explicar o mundo social a partir de antigos e rígidos modelos teóricos. A construção teórica de Bourdieu é precedida por uma sucessão de críticas explícitas, endereçadas principalmente ao estruturalismo (rejeitado em sua forma extrema em razão da redução objetivista, que nega a prática dos agentes e retém as imposições estruturais); ao interacionismo (recusado por considerar que os agentes não são portadores de nenhuma determinação social e por omitir a gênese social); ao subjetivismo (rejeitado por forjar o mito de um sujeito sem história e sem determinantes); à fenomenologia (por vê-la como exclusivamente descritiva, constituindo-se somente numa etapa da pesquisa). Pierre Bourdieu não se inscreve igualmente nos diferentes pólos sociológicos da França contemporânea e desenvolve uma crítica importante aos pressupostos teóricos ou aos métodos de investigação utilizados por esses pólos: 1. O individualismo metodológico de Raymond Boudon, apoiado sobretudo no pensamento de Tocqueville e de Weber, é criticado por sua visão redutora dos atores sociais. Esse paradigma explica um fenômeno social qualquer como resultado de um conjunto de comportamentos individuais e, portanto, produto da agregação das ações individuais, além de postular que a lógica dessas ações deve ser procurada na racionalidade dos atores, no sentido análogo àquele empregado pelos economistas neoliberais. 2. A abordagem estratégica de Michel Crozier, que tem por objetivo principal a análise das relações de poder nas organizações, mostrando que os atores – racionais, mas portadores de uma racionalidade limitada – dispõem de uma margem de liberdade que é o fundamento do poder, a qual interfere na maximização dos resultados da empresa ou da administração. 3. A sociologia da ação, de Alain Touraine, centrada na análise dos movimentos sociais e seu papel decisivo na mudança social. 4. A sociologia política também é objeto de suas crítica por perpetuar a ideologia da democracia, ensinada nas instituições com a finalidade de formar os quadros de pessoal do Estado, ignorando os limites e dissimulando as conseqüências das ações efetivadas em nome do ideal democrático. Nesse sentido, todos os campos da sociologia podem contribuir para a legitimação da ordem existente, fornecendo argumentos utilizados pelos dominantes para manterem sua dominação. Segundo Sapiro (2003), Bourdieu reteve de sua formação filosófica a desconfiança em relação às explicações mecanicistas, de base behaviorista, que procura os fundamentos fisiológicos do comportamento ou fundamentada na análise estruturalista, que reduz as condutas a simples execução mecânica de uma regra. Contrapondo-se à visão mecanicista do estruturalismo e do marxismo, que faz dos agentes simples suportes das estruturas ou executores de regras e de uma função específica, Bourdieu reintroduz a 'concepção finalista', importante para a fenomenologia, que descreve as condutas como sendo orientadas na direção de determinados fins. Ele recorre também à noção de estratégia, utilizada pela sociologia interacionista (principalmente por Goffman), visando restituir uma margem de invenção e de improvisação nos agentes. Ademais, Bourdieu transpõe para a sociologia a noção chomskyana de 'competência generadora'. No entanto, diferentemente de Chomsky que a considera como inata, ele a concebe como geradora das condutas, sendo portanto adquirida. Produto da aprendizagem, os esquemas de percepção e de ação concebem as condutas sob a forma de disposições. Contra a maioria dos sociólogos de seu tempo, Pierre Bourdieu propõe o que chama de estruturalismo construtivista. Por estruturalismo, quer dizer que existe no mundo social, e não somente nos sistemas simbólicos, linguagens, mitos, estruturas objetivas, independentes da consciência ou da vontade dos agentes, capazes de orientar ou de impor suas práticas ou suas representações. Por construtivismo, entende que há uma gênese social tanto nos esquemas de percepção, de pensamento e de ação, quanto nas estruturas sociais!”
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