Redação Sobre Cultura

  O filósofo pré-socrático, Heráclito de Éfeso, afirma em sua teoria do devir que “tudo flui e nada permanece”. Para Heráclito, portanto, o mundo é dinâmico e está sempre em contínuo fluxo. Partindo desta premissa, podemos afirmar que as ideias de cultura e suas implicações na sociedade sempre estiveram em constante metamorfose, sendo determinadas e modificadas a partir de processos histórico-sociais no decurso do tempo. Partindo por exemplo, de uma compreensão teocêntrica até a visão atual, científica holística.

“O desencantamento do Mundo”, foi como o sociólogo alemão Max Weber, definiu o processo de transição da visão teológica para o racionalismo, onde o indivíduo passou a se despir de costumes e crenças, que eram baseados em tradições herdadas ou aprendidas que se apoiavam nos pilares fixos das religiões ou da “mágia”. Nesse período, valoriza-se o homem e rompe-se com o pensamento teocêntrico, que considera Deus como o centro de tudo, e a ciência antiga. Trazendo uma nova proposta de visão de mundo, rejeitando a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e da igreja, em favor da valorização do corpo humano, das artes, do pensamento, da política e da ciência num sistema mecanicista. Entretanto, a visão mecanicista com o passar do tempo começou a ser considerada obsoleta. Fritjof Capra, em sua obra “ponto de mutação” afirma que enquanto continuarmos a observar as coisas através da velha ótica patriarcal, mecanicista, newtoniana e reducionista, estaremos deixando de ver a realidade como ela de fato é. Tendo-se portanto, a necessidade de incorporar conceitos holísticos que analisam a problemática como um todo, para resolver os complexos problemas da sociedade contemporânea.

  Essas mudanças estruturais e culturais, que ocorreram no mundo ao passar do tempo, decorre de uma evolução gradativa na forma de pensamento e relacionamento da sociedade em cada período. Tendo em vista, que a cultura é um processo cumulativo que é resultado das experiências adquiridas nas gerações anteriores. E que acabam por moldar a forma com que o homem irá se relacionar, tendo em conta que o homem atua de acordo com seus padrões culturais. Então seguindo essa lógica, podemos afirmar que toda ação social é uma ação cultural. E pode-se compreender também, que todas essas mudanças histórico-sociais e culturais até a consolidação do modelo atual, foi uma necessidade popular, haja vista que o modelo holístico reconhece e trabalha com a ideia de multiculturalismo que nada mais é que o reconhecimento das diferenças, de saber conviver, tolerar e respeitas todas as culturas, que os modelos anteriores não possuíam, muito pelo contrário, o modelo mecanicista por exemplo instalou um sistema hegemônico e etnocêntrico, a partir do desenvolvimento do capitalismo que tentou anular todas as outras manifestações culturais que fossem divergentes da cultura dominante. Então, essa evolução cultural até o modelo holístico tem como força motriz a ideia de multiculturalismo e de aceitação do “diferente”.

 Conclui-se, portanto, que foi de fundamental importância toda evolução na ideia de cultura pela qual a nossa sociedade passou, para tivéssemos a liberdade cultural que hoje gozamos, rompendo-se com o etnocentrismo e com os paradigmas que cerceavam a liberdade plena. Onde agora valoriza-se a pessoa humana independente de sua cultura, e não mais tenta-se colonizar o outro mas aceita-lo.